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Venda de antidepressivos cresce no AM na pandemia e acende alerta para sofrimento mental

*Da Redação Dia a Dia Notícia 

A piora da saúde mental do brasileiro durante a pandemia de Covid-19 já é sentida no balcão das farmácias nos cinco primeiros meses do ano, houve aumento de 13% da venda de antidepressivos e estabilizadores de humor no País. Alagoas e Amazonas tiveram 34% e 31% de aumento de vendas, ante um crescimento anterior de 20% e 17%, respectivamente. O levantamento é do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

Os dados do CFF publicados pela Folha de São Paulo também apontam importantes diferenças regionais nas vendas de psicotrópicos no país. Acre, por exemplo, registrou o maior aumento, de 40%. Em igual período do ano passado, comparado a 2019, a alta tinha sido de 12%.

“Há um forte componente dos determinantes sociais de saúde (nessas diferenças). Em alguns estados, há uma rede mais organizada de assistência do que em outros”, diz Wellington Barros.

Na prática, foram quase 4,782 milhões de unidades (cápsulas e comprimidos) vendidas a mais neste ano em relação a igual período de 2020 no país, segundo levantamento inédito do CFF, a partir de dados da consultoria IQVIA. O comércio dos medicamentos já tinha aumentado 17% em 2020 em comparação com 2019. Nos anos anteriores, a alta tinha sido de 12% (2019) e 9% (2018).

Um outro relatório da mesma consultoria com o Sindicado da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) aponta um aumento de receita de 18,73% nas vendas dos também chamados medicamentos para o sistema nervoso central no primeiro semestre deste ano em relação ao de 2020.

Embora várias pesquisas indiquem aumento de doenças mentais na pandemia, não há evidências robustas sobre isso. Estudos epidemiológicos apontam que, no início da crise sanitária, houve ligeira subida, mas depois os números se mantiveram estáveis até o fim de 2020.

Causas

Para o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, é fato que as pessoas então com níveis mais elevados de sofrimento mental. E, embora isso não se traduza automaticamente em doença psiquiátrica, eles querem uma alternativa para aliviar esses sintomas.

“Há muito diagnóstico falso-positivo. A pessoa chega com um certo número de queixas e o médico já interpreta como um transtorno e introduz um fármaco. A gente (médico) também sofre pressão social para medicar. O cliente já vem procurando o remédio, e não orientação sobre estilo de vida, meditação, psicoterapia.”

No entanto, ele lembra que esse é um retrato que espelha a realidade de parte da população, que tem acesso a um médico e condições de comprar medicamentos. “Estudos americanos apontam que os brancos têm mais acesso a prescrições do que as populações latinas, negras. O mesmo acontece aqui: a classe média alta tendo acesso a essas prescrições e muitas pessoas do andar debaixo, mesmo precisando muito, sem acesso a elas”.

A venda de psicotrópicos no país é feita com apresentação de prescrição médica, retenção da primeira via da receita e lançamento no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).

Para o farmacêutico Wellington Barros, consultor do CFF e professor da Universidade Federal de Sergipe, a pandemia tem gerado muito sofrimento psíquico por fatores como o luto pela perda de familiares, o isolamento social e as sequelas pós-Covid, a chamada Covid longa

Um estudo do Hospital da Clínicas que acompanha um grupo de pacientes que estiveram internados por Covid-19 mostra que, nos seis primeiros meses de acompanhamento, 58,7% relatavam pelo menos um sintoma emocional ou cognitivo, como perda de memória (42%), insônia (31%), e depressão (22%).

“Temos visto também muita depressão em jovens,. Ela vinha crescendo antes da pandemia, mas agora aumentou mais ainda devido à mudança brusca nos hábitos dos adolescentes. Eles são muito gregários nessa fase da vida e, quando se viram isolados dos colegas e grupos, isso afetou muito a saúde mental.”

José Ricardo Amadio, coordenador do grupo de trabalho sobre farmácia comunitária do CFF, diz que, além do jovens, chama a atenção um aumento do consumo de antidepressivos entre os idosos. Apesar do levantamento não comtemplar esse recorte etário, ele afirma que essa é a percepção de quem está na linha de frente, atrás do balcão, “O paciente idoso sentiu muito a ausência, a falta de convívio com a família.”

Leite e Barros reforçam, no entanto, que, embora as condições impostas pela Covid-19 tenham exposto as pessoas a situações de estresse extremo, nem tudo pode ser traduzido em doença mental. “Nem toda alteração de sono, nem todo sentimento de tristeza ou solidão, ou mesmo o estresse, constituem, a priori, um transtorno em saúde mental passível de ser tratado com medicamentos”, diz Barros.

Neste mês, o Conselho Federal de Psicologia lançou o site “Saúde Mental e Covid-19” em parceria com oito entidades de profissionais da área, pesquisadores e gestores públicos de saúde. A proposta do site é tornar-se uma ferramenta que reúna em um só lugar diversas informações, como notícias, cursos, pesquisas e legislações, sobre saúde mental durante a pandemia.

Acolhimento

A Associação Segeam (Sustentabilidade, Empreendedorismo e Gestão em Saúde do Amazonas) retomou em janeiro de 2021 o atendimento via Serviço de Apoio Psicológico, uma iniciativa que oferece suporte a profissionais e colaboradores da instituição, que foram acometidos pela Covid-19 e que sofrem de algum tipo de abalo emocional, ou, que fazem parte do grupo de risco e precisaram se ausentar de suas áreas de atuação. Em média, a demanda diária é de 15 atendimentos registradas pela equipe responsável pelo projeto.

(Foto: Reprodução / SES AM)

O atendimento é feito a distância, por meio  de ligações telefônicas e, em algumas circunstâncias mais específicas, via mensagens de WhatsApp, nos três períodos (manhã, tarde e noite). A iniciativa é restrita a profissionais da Segeam que atuam na linha de frente, uma lista é atualizada diariamente pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (Sesmt), com o nome dos colaboradores que estão afastados em função da doença. Membros do Serviço Social entram em contato, individualmente, para checar as necessidades de cada um.

A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), também oferece à população em geral o serviço de Apoio Psicológico On-line que proporciona acolhimento e orientação às pessoas que manifestem desconforto e sofrimento emocional, em razão da pandemia de Covid-19.

O atendimento é realizado por meio do link apps.semsa.manaus.am.gov.br que direciona o usuário a um dos números de atendimento disponíveis, por onde um psicólogo irá realizar o acolhimento. O atendimento ocorre por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp, de forma individual, que garante o sigilo e a privacidade dos interlocutores. A iniciativa da Semsa busca contribuir para aliviar o sofrimento das pessoas em relação a pandemia que acabou produzindo na população sentimentos de medo e incerteza.

*Com informações da Folha de São Paulo 

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