Com a chegada da pandemia de covid-19 e adoção do isolamento social para conter sua disseminação, refugiados e estrangeiros passaram a enfrentar dificuldades para garantir a renda. Com isso, iniciativas on-line começaram a ganhar destaque e permitiram que essa população pudesse trabalhar e compartilhar um pouco o que trouxe do país de origem, mesmo à distancia.
O casal de venezuelanos Rosalva Cardona e Lester Silva, que chegou ao Brasil em 2015, fornecia comida para eventos, mas a necessidade da quarentena suspendeu os trabalhos. Eles começaram então a dar palestras on-line de culinária venezuelana, dentro da iniciativa da startup social Migraflix, promovendo trocas culturais no ambiente virtual.
“Assim que o Migraflix anunciou os workshops on-line, foi uma super opção para fazer algo que gostamos e que poderia ajudar economicamente nesta época de pandemia”, disse Rosalva. Na Venezuela, o casal tinha uma escola de cozinha com experiências de jantares temáticos.
“[Com as palestras on-line] as pessoas podem conhecer e aprender a culinária de outros países em casa, agora que têm mais tempo para isso. A gente [pode] explorar uma ferramenta que vai ser muito mais usada agora, depois desta pandemia, vamos poder espalhar nossa cultura e culinária e aprender com a prática essas novas técnicas [on-line] de ensinamentos”, acrescentou. Os temas das palestras realizadas pela Migraflix incluem culinária de diversos países, dança africana e colombiana, além da teatroterapia.
Rosalva ressaltou que a situação de imigrantes e refugiados neste momento é grave. “Muitos ficaram sem trabalho. Muitos têm pequenos empreendimentos e não estão recebendo praticamente ingressos [de clientes]. Outros não têm o que comer ou como pagar os serviços básicos de onde moram. Alguns foram desalojados por não ter como pagar aluguel”.
Já o projeto OpenTaste, idealizado pela refugiada síria Joanna Ibrahim, era um espaço físico que recebia chefs de diferentes nacionalidades, imigrantes e refugiados, para cozinhar seus pratos típicos. Com o isolamento social e a impossibilidade de continuar cozinhando para o público, eles passaram a compartilhar os conhecimentos pela plataforma do projeto, mas por meio de aulas virtuais de gastronomia.
“Os benefícios dessa iniciativa é que ela ajuda as famílias a gerarem renda e permite contribuir com o isolamento social. Entendemos que esta crise que está acontecendo, essa pandemia, é uma coisa que pode levar tempo, então estamos começando isso para que as pessoas consigam realmente fazer um trabalho digno durante esse tempo”, disse Joanna Ibrahim, fundadora do Opentaste e refugiada da Síria. Ela chegou ao Brasil em 2015, fugindo da guerra em seu país.
“Refugiados geralmente trabalham em eventos, fazendo entregas, só que quando entrou a crise [devido à pandemia], isso [a oportunidade de trabalho] baixou drasticamente, deixou pessoas realmente paradas. Então [essa iniciativa da Opentaste] ajudará, as pessoas conseguirão gerar mais renda para a família”, afirmou Joanna.
Oportunidade de expansão
A organização não governamental Abraço Cultural oferece cursos de idiomas – inglês, espanhol, francês e árabe – e oficinas culturais, com professores refugiados e imigrantes em situação de vulnerabilidade, e metodologia voltada para as trocas culturais. Devido ao isolamento social, as aulas presenciais foram substituídas por aulas on-line ao vivo.
“Suspendemos as aulas por duas semanas para conseguir trabalhar nessa adaptação, fizemos uma formação com os nossos professores para poder usar as ferramentas on-line. A gente também entregou computadores para todos os professores que não tinham, comprou pacote de internet para eles, a fim de estar tudo estruturado para retornarem os cursos”, disse a diretora executiva da entidade Mariângela Garbelini.
A experiência tem dado certo e permitiu a expansão do projeto. “Tivemos sempre bastante demanda por aulas on-line do Brasil todo, mas nunca tivemos muito tempo para estruturar isso. Então, agora vimos como uma oportunidade e começamos a oferecer aulas on-line particulares. Tem havido bastante procura, estamos bem felizes, vamos conseguir manter o salário dos professores, aumentar e, quem sabe no futuro, até contratar mais professores para atender a toda essa demanda, que vem também de brasileiros que moram fora”, acrescentou.