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Influência neonazista, erosão moral e desconfiança no Estado: especialista aponta possíveis causas do aumento da violência nas escolas

*Da Redação Dia a Dia Notícia

O ataque ocorrido em uma das unidades do Instituto Adventista de Manaus na tarde desta segunda-feira (10/4) deixou muitos pais da capital amazonense em alerta. O que era uma realidade tecnicamente distante se tornou próxima em pouquíssimo tempo. A ocorrência em Manaus é o terceiro ataque à instituições de ensino em menos de um mês, poucas semanas após a morte de uma professora em São Paulo e de quatro crianças em Blumenau (SC). Mas o que estaria levando ao crescimento meteórico desses ataques? Em entrevista ao Dia a Dia Notícia, o advogado especialista em Direito Penal e mestre em Segurança Pública e Direitos Humanos, Yuri Leite, e a psicanalista e hipnoterapeuta clínica Samiza Soares pontuaram algumas causas possíveis para o aumento exponencial da violência nas escolas.

Segundo Yuri, o primeiro episódio de massacre em escola da história brasileira foi registrado em 2002, e desde então o país acumula 24 ataques em escolas nos últimos 22 anos. Os dados do levantamento, de acordo com ele, tem como base uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que é atualizada constantemente.

Yuri Leite é advogado, especialista de direito penal e mestre em Segurança Pública e Direitos Humanos

Yuri Leite comenta ainda que o professor Daniel Cara, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), coordenou um grupo de 11 pesquisadores de universidades em diversos estados do país e ao fim de 2022 propuseram estratégias concretas para ações governamentais em combate a cultura de massacres.

“Os pesquisadores concluíram que os casos devem ser atrelados a grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina para realizar massacres. Também destacaram que a captação de novos seguidores está ligada às interações virtuais”, disse Yuri.

Os símbolos mais utilizados em massacres geralmente se repetem, por exemplo o caso das bombas caseiras em uma escola de Monte Mor (SP) em fevereiro deste ano (2023), o autor vestia braçadeira com a suástica nazista, o que se repetiu nos casos das duas escolas atacadas em Aracruz em novembro do ano passado. Já nos ataques de Vila Sônia, em São Paulo (2023), os agressores usavam máscara de esqueleto tal qual o personagem Ghost da franquia de jogos Call Of Duty, o aparato se tornou um importante símbolo neonazista da atualidade.

Membros da Divisão Atomwaffen nos EUA, juntamente com o ideólogo neonazista James Mason. Foto: Reprodução

Assassinos populares

Yuri também pontuou sobre o efeito gerado pela mídia, que “por vezes amplia a visibilidade do ‘pódio assassino’ dos serial killers”.

“A atividade jornalística vive em um grave dilema, de um lado a obrigação de revelar o nome e exibir a imagem do criminoso pelo interesse público e de outro a impossibilidade de contribuir com o desejo de ascensão de celebridades do mal. Inclusive, a onda do true crime cresce cada vez mais e já é quase impossível contê-la. Seja por lançamentos ficcionais baseados em fatos ou por documentários detalhados sobre serial killers – há diversos na Netflix”, destacou.

O advogado citou como exemplo a produção ‘Pacto Brutal: O Assassinato de Daniela Perez’, da HBO Max, que passou um bom tempo como a mais vista do catálogo. Outra produção que seguiu a mesma aclamação do público foi ‘Dahmer: Um Canibal Americano, na Netflix, assim como aconteceu com Ted Bundy há poucos anos.

O ‘não-ser’ humano

Outro fator relevante pontuado por Yuri é a reificação ou coisificação, ou seja, a transformação dos seres humanos em coisas. Em consequência, a “humanização” da mercadoria leva à desumanização da pessoa, isto é, o indivíduo é transformado em mercadoria, em objeto de posse de outro. Uma das formas mais simples de se observar a coisificação do ser humano é o trabalho escravo moderno. Reformas na legislação do trabalho fazem com que o indivíduo se torne servo de aplicativos com jornadas exaustivas e sem qualquer direito que o ampare.

O empregador passa a ver o empregado como uma coisa e consequentemente o trato humano acaba. O mesmo acontece quando em uma nação há um abismo entre as classes sociais, onde o rico é muito rico e o pobre é muito pobre. O resultado de uma forte coisificação é o desvalor da vida aliado ao perigoso sentimento de superioridade.

Perigos na escola e ausência familiar

Ademais, o bullying também é outro ponto destacado pelo advogado, pois tem alto potencial de corrosão da autoestima, “porque a vítima precisa manter-se na escola, apesar da angústia por enfrentar, diariamente, humilhações diante de centenas de colegas”.

“Fica, então, cada vez mais difícil para o agredido integrar-se ao ambiente. Ele desconfia de todos os membros da instituição, quando não percebe qualquer movimento para garantir-lhe segurança e participação efetiva nas atividades curriculares. O bullying aumentou bastante, nas últimas décadas, porque há mais violência nas escolas, decorrente da flexibilização das normas de conduta, erosão moral das famílias e admissão de brincadeiras encaradas como próprias de jovens”, disse.

Por fim, destaca-se a falta de confiança da população nas instituições estatais. Parcela considerável da sociedade considera válido o armamento para autodefesa, pois não confia em uma Segurança Pública eficaz ou um Judiciário justo. Com isso, a política de fazer justiça com as próprias mãos cresce no país desencadeando tensões em uma população sedenta pela vingança privada, desencadeando mais violência e apatia.

Danos psíquicos e soluções

Samiza Soares, terapeuta formada em psicanálise e hipnoterapia clínica pelo Instituto Lucas Naves e pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC), respectivamente.

A terapeuta e psicanalista Samiza Soares ressalta também que o bullying nas escolas é prejudicial para todos os envolvidos e pode causar danos emocionais e psicológicos duradouros. Segundo ela, “felizmente, existem várias coisas que podemos fazer para prevenir e combater” a prática no ambiente de ensino.

A profissional destaca primeiramente a educação de todas as pessoas sobre o bullying. Não apenas os estudantes, como também pais e professores, precisam conhecer os diferentes tipos de bullying e seus efeitos prejudiciais sobre o indivíduo e o ambiente que o cerca.

Outros pontos sugeridos por Samiza foram:

  • Estabelcimento de políticas anti-bullying pelas escolas, a fim de definir o comportamento inaceitável e as consequências para quem pratica o bullying;
  • Criar um ambiente de classe e escola onde os alunos aprendam a ser empáticos e respeitosos com os outros, independentemente de sua aparência, gênero, habilidades/deficiências, etc;
  • Ensinar aos alunos como se comunicar de forma eficaz, como resolver conflitos e como lidar com as emoções, o que também pode ajudar a prevenir o bullying;
  • Encorajar as vítimas a denunciarem o bullying que sofrem, e garanta que denunciar seja seguro e confidencial;
  • Providenciar apoio emocional para as vítimas e para os bullies. Em muitos casos, os bullies podem estar sofrendo em casa ou lutando com suas próprias questões pessoais;
  • Trabalhar com outras organizações e membros da comunidade para criar ações de prevenção do bullying, promovendo um ambiente mais positivo para os alunos.

Em casos como os de Manaus, onde houve o manuseio de explosivos do tipo coquetel molotov, Samiza indica a colaboração com as autoridades locais, sejam da segurança pública ou de assistência social

“Se um incidente desse tipo ocorreu, pode ser importante discutir o assunto com as autoridades locais e oferecer apoio e aconselhamento para o jovem envolvido. Além disso, pode ser útil procurar ajuda de profissionais qualificados, como terapeutas ou assistentes sociais, para entender e abordar possíveis problemas de comportamento ou emocionais”, destacou.

Sinais

É importante observar e saber se seu filho tá passando por bullying:

  1. Mudanças comportamentais: Seu filho pode começar a agir de maneira diferente do que é normal para ele, mostrando sinais de ansiedade, tristeza, medo ou depressão.
  2. Mudanças em seus hábitos alimentares ou de sono: seu filho pode ter perda de apetite ou alterações no sono, como dificuldade para dormir ou pesadelos.
  3. Tornar-se recluso e isolado: as vítimas de bullying podem parecer mais quietas e reservadas do que o normal, evitando situações de grupo ou sociais que costumavam gostar.
  4. Ferimentos inexplicáveis ​​ou perda de pertences pessoais: seu filho pode voltar para casa com roupas rasgadas, ferimentos ou objetos quebrados sem motivo aparente.
  5. Mudanças no desempenho escolar: seu filho pode ter dificuldades em concentração ou diminuição do desempenho escolar.

Se você notar algum desses sinais, é importante conversar com seu filho e descobrir o que está acontecendo. Fale diretamente com ele e pergunte como ele está se sentindo na escola e o que tem acontecido. Se você suspeitar que seu filho está sendo vítima de bullying, converse com os professores da escola, conselheiros ou outros funcionários qualificados para obter ajuda e orientação.

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