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Moradores de comunidade em Tapauá, no interior do Amazonas, denunciam falta de escola

Foto: Emanuelle Araújo
*Lucas dos Santos – Da Redação Dia a Dia Notícia

A Prefeitura de Tapauá (a 448 km de Manaus) enviou fardamento escolar para estudantes do ensino fundamental, que moram na Comunidade da Redenção, na parte de baixo do município. Seria uma ótima notícia, caso os alunos tivessem onde estudar. Apesar do envio de uniformes, a prefeitura não possui escola e nem paga o aluguel de prédio para uso escolar. A situação foi relatada pelos moradores, de forma anônima por medo de represálias e até ameaças violentas.

Um morador informou que as aulas ocorriam na casa de reuniões do grupo de manejo da comunidade, da Associação dos Moradores e Entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus (Amepp). Os próprios membros da associação tiravam dinheiro do bolso para que as aulas funcionassem lá. Porém, os alunos precisaram sair do local e as aulas foram remanejadas para acontecer na igreja católica da comunidade. Mas, logo saíram porque a igreja não tem paredes e o ambiente fica muito quente.

A única professora da comunidade, que prefere não se identificar, leciona para alunos de diferentes séries, conhecida como classes multisseriadas, vai pagar o aluguel de um espaço que garanta mais conforto para os estudantes. “Faço isso por amor, porque sei que esses jovens têm muito potencial e a educação é extremamente importante. Tem muitas pessoas que não sabem nem escrever o nome. Sei que tem muitas pessoas esforçadas, porém não têm oportunidade. Preciso ajudar eles. Me dói quando eles falam que querem a escola. Como mulher, não vou desistir, nem que eu tenha que dar a minha própria vida”, afirmou.

Ela destacou ainda a presença de pessoas jovens no manejo sustentável de pirarucu, uma das principais renda da comunidade, as quais precisam de escola e cursos. “Não temos uma escola adequada, mas temos impressora e computador, que os próprios comunitários compraram. Só que a gente precisava de uma força, de uma escola, uma casa de apoio para incentivar esses jovens”. Ela também destacou a importância da educação para incentivar os jovens da região “a lutar pelos nossos direitos”.

“A gente precisa de pessoas [capacitadas] para quando a gente sair em busca de recursos para nossa associação, nossa sociedade, os ribeirinhos. Eu vejo a gente fraco nisso. Se a gente tivesse mais jovens na escola, mais cursos incentivando esses jovens a sentirem coragem de eles mesmos seguirem com as próprias pernas, a gente estaria mais seguro para enfrentar o mundo com garra”, disse.

Pais e estudantes pedem estrutura

No local onde a escola estava funcionando provisoriamente, uma igreja católica, sem paredes, uma mãe relatou que a lousa caiu em cima de sua filha e cobrou investimentos na construção de escolas. “Em vez de o senhor [prefeito] estar dando festa na cidade, dando presentes no Dia das Mães, o senhor podia estar gastando o dinheiro fazendo a escola para os alunos”, disse.
Em diversos vídeos, enviados para a prefeitura, os estudantes também relataram sofrer com sol e chuva devido à estrutura precária que possuem para realizar as aulas. “Estamos para morrer com o calor e quando vem temporal molha tudo. Não tem condições de estudar em um local assim. Tem pessoas que passam mal com o calor”, destacou um dos estudantes, que também prefere não se identificar. Os vídeos foram feitos com os alunos usando o fardamento que a prefeitura enviou.

Os moradores também fizeram vídeos das mesas e cadeiras da escola, que estão em péssimas condições de uso. Também enviaram fotos do que supostamente seria os materiais para preparar a merenda escolar para o ano todo. A pouca quantidade de alimentos surpreende. Outra reivindicação é que tenha mais de um professor para atender a comunidade.

A reportagem enviou mensagem ao prefeito da cidade, Gamaliel Andrade de Almeida (PSC/AM), por meio de mensagem nas redes sociais e celular, porém não obteve sucesso. No dia 8 de maio deste ano, agentes da Polícia Federal (PF), apreenderam R$ 100 mil, em espécie, em poder do prefeito de Tapauá. A apreensão ocorreu no Aeroclube de Manaus e, além do dinheiro, o celular do prefeito também foi apreendido. Ele foi detido pela polícia, mas logo foi liberado. Conforme a assessoria jurídica da Associação Amazonense de Municípios (AAM), o prefeito afirmou que o dinheiro não é verba pública. Portanto, teria como provar a sua origem. De acordo com a AAM, Tapauá não tem agência bancária. Dessa forma, toda movimentação de dinheiro na cidade seria em espécie.

MPT/AM

Em junho deste ano, o Ministério Público do Amazonas (MPAM), por meio da Promotoria de Justiça de Tapauá, expediu a Recomendação nº 2022/0000007041 à Prefeitura do Município visando a realização de concurso público para diversos cargos da área de Educação. Conforme prescreve o Promotor de Justiça Bruno Batista da Silva, o concurso deve ser realizado no prazo de 120 dias. O último concurso público para preenchimento de cargos no Município ocorreu em 2005.
A medida foi tomada no bojo do Inquérito Civil nº 183.2021.000014, no qual se verificou a existência de diversos cargos ocupados por servidores temporários, como: professor indígena, professor de educação especial, pedagogo, assistente social, psicólogo, assistente administrativo e profissional de apoio da vida escolar.

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