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No ‘bate-palma’, população pouco adere às recomendações do uso de máscaras

Com recente queda nas mortes por Covid, Governo do Amazonas decretou a reabertura do comércio

A rua comercial mais famosa de Manaus, o ‘bate-palma’, reabriu na última segunda-feira, dia 01, após 74 dias de portas fechadas. Apesar da chuva, o fluxo era parecido ao de um dia qualquer, mas as máscaras em quase todos os rostos e os sprays com álcool nas mãos dos seguranças lembravam que o novo coronavírus continua à espreita.

De acordo com a reportagem da Folha de São Paulo, no calçadão, que ganhou o apelido pela forma como os vendedores atraíam clientes, a maioria dos camelôs estava funcionando. As poucas bancas embrulhadas em lona traziam a mensagem ameaçadora: “Para sua segurança, não mexa”.

Havia fila em apenas uma pequena loja de roupa feminina, dentro de um centro comercial. A entrada era controlada por uma funcionária —apenas cinco clientes por vez.

“Está normal. O que me deixa triste é as pessoas não obedecerem, não usarem máscara. Mas não vou generalizar, tem uns 10%, 15% de pessoas que não usam”, diz Socorro Oliveira, 50, gerente da loja de roupas Estrela de Ouro.

Segundos mais tarde, entra uma cliente com a máscara abaixada. Mesmo demonstrando irritação, a gerente prefere não chamar a atenção. “Aí vai da consciência do cidadão.”

Outra mudança durante o fechamento foram os quilinhos mais dos clientes. De dentro de um provador, uma cliente reclama que o vestido que estava namorando já não serve mais. “Ai, meu amor todo mundo engordou mesmo. Efeito quarentena”, consola Oliveira.

Crítica ferrenha do Bolsonaro, Oliveira diz que “temos um presidente que acha que o vírus que é brincadeira”. Ela diz que perdeu seis amigos para a Covid-19.

Ao ouvir a conversa, uma vendedora diz: “Eu perdi dois primos”. A gerente lembra que a mãe de criação de outra funcionária também morreu após contrair o vírus.

Oficialmente, 1.371 pessoas morreram em decorrência da Covid-19 em Manaus até esta segunda, mas os registros cemitérios públicos indicam uma grande subnotificação.

Em abril e maio, foram sepultadas 4.334 pessoas nesses espaços, contra 1.731 enterros no mesmo período do ano passado. A diferença é de 2.603 óbitos a mais.

Com recente queda nas mortes e as UTIs mais vazias, o governo do Amazonas, chefiado por Wilson Lima (PSC), decretou a reabertura do comércio de Manaus em quatro etapas. Nesta segunda-feira, foi a vez de lojas de roupa, concessionárias, igrejas e templos.

A partir de 15 de junho, a abertura se estenderá a lojas de departamentos, de eletrodomésticos, restaurantes e as poucas livrarias. Academias de ginástica e cabeleireiros ficaram para o dia 29. A rede privada de ensino e cinemas reabrem em 6 de julho, mas a rede pública ainda não tem data definida de retomada.

A medida não contou com o apoio do prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB), que achou a reabertura prematura. Mesmo com autorização, a Igreja Católica não retomará as missas por enquanto. “Não é porque o governo determinou que vamos participar”, disse o arcebispo dom Leonardo Steiner. “Temos responsabilidade com toda a sociedade.”

 

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