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Incêndios na Amazônia já impactaram mais de 90% das espécies de animais e plantas do bioma

Macaco-aranha-de-cara-branca (Ateles marginatus), uma das espécies mais afetadas pelos incêndios na Amazônia. Foto: Miguelrangeljr

Desde 2019, o desmatamento e os incêndios fizeram com que a Amazônia brasileira perdesse cerca de 10 mil km2 de cobertura florestal por ano, um aumento bastante expressivo e alarmante em relação aos registros da década passada, quando a redução anual da floresta beirava os 6.500 km², de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Todavia, até bem recentemente, especialistas sempre quantificaram apenas o tamanho das áreas de vegetação destruídas, mas nunca a perda da biodiversidade causada pelo fogo. Agora um novo estudo científico divulgado na revista Nature“How deregulation, drought and increasing fire impact Amazonian biodiversity” (Como a desregulamentação, a seca e o aumento do fogo impactam a biodiversidade amazônica), traduz em números esse impacto: entre 93% e 95% de 14 mil espécies de animais e plantas já sofreram algum tipo de consequência, em menor ou maior grau, provocada pelos incêndios.

O estudo, que envolveu pesquisadores de universidades e instituições dos Estados Unidos, Brasil e Holanda, analisou dados sobre a distribuição do fogo na Amazônia entre 2001 e 2019 –  este último, certamente, um dos anos em que a região teve um índice recorde de grandes queimadas, apesar do grande volume de chuvas.

“Na época, os incêndios chamaram muito a atenção da mídia internacional e ficamos interessados em entender melhor as consequências disso, onde o fogo aconteceu e que áreas eram ocupadas por fauna e flora”, revela o biólogo Mathias Pires, professor e pesquisador do Departamento de Biologia Animal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Com a ajuda de imagens de satélite, o grupo sobrepôs as áreas afetadas pelos incêndios, entre 103.079 e 189.755 km² da Floresta Amazônica, com aquelas de ocorrência de 11.514 espécies de plantas e 3.079 de animais (apenas vertebrados, aves e mamíferos).

“Ficamos surpresos ao descobrir que o habitat da maioria das espécies de plantas e animais já foi afetado por incêndios e que esse impacto continuou a aumentar ao longo do tempo, apesar dos melhores esforços de conservação”, afirma Brian Enquist, professor de Ecologia and Biologia Evolutiva da Universidade do Arizona e autor sênior do artigo.

Ao fazer o cruzamento de dados sobre queimadas versus ocorrência de fauna e flora, os pesquisadores perceberam três ciclos de incêndios na Amazônia, associados diretamente com os diferentes momentos políticos nos quais o Brasil se encontrava.

Entre 2001 e 2008, a falta de uma fiscalização ambiental rigorosa no país servia de combustível para o registro de incêndios mais frequentes e em áreas extensas. No período seguinte, entre 2009 e 2018, as políticas de controle ao desmatamento conseguiram conter o desflorestamento, mas em 2016, apesar de a lei brasileira para a proteção do meio ambiente ter sido considerada um exemplo mundial, houve um afrouxamento na fiscalização – com isso, o desmatamento voltou a crescer na Amazônia.

Em 2019, com a posse do atual presidente, Jair Bolsonaro, a situação agravou-se ainda mais. Os altos índices de destruição da floresta continuaram, impulsionados por um discurso do Governo Federal a favor da mineração, contra a demarcação de terras indigíneas e em detrimento do trabalho de organizações não-governamentais.

O levantamento internacional aponta que, nos últimos anos, as queimadas aconteceram em regiões mais centrais da Amazônia, inclusive próximas a rios, o que é uma nova tendência, já que não ocorria antes. “O fogo consolida o desmatamento. Áreas desmatadas podem se regenerar, mas isso demanda muito mais tempo e investimento depois dos incêndios”, afirma Neves.

*Com informações do Mongabay

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