Cerca de 4 toneladas de documentos sobre a história do cinema no Brasil, equipamentos que eram relíquias para um futuro museu e parte do acervo de Glauber Rocha estavam entre os materiais armazenados no galpão da Cinemateca Brasileira destruído pelo fogo na noite quinta-feira (29).
De acordo com funcionários, pesquisadores e cineastas que alertavam sobre o risco de incêndio havia mais de um ano, o galpão armazenava:
- grande parte dos arquivos de órgãos extintos do audiovisual, relacionados aos trabalhos da Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme) e do Instituto Nacional do Cinema (INC), ambos criados nos anos 1960, e do Conselho Nacional de Cinema (Concine), criado nos anos 1970;
- parte do acervo do cineasta Glauber Rocha, como duplicatas da biblioteca dele;
- parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, com cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm;
- parte do acervo produzido por alunos da ECA-USP em 16mm e 35mm;
- parte do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade;
- equipamentos e mobiliário de cinema, fotografia e processamento laboratorial, muitos deles fundamentais para consertos de equipamentos em uso e relíquias que iriam compor um futuro museu;
- matrizes e cópias de cinejornais, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, filmes domésticos, além de elementos complementares de matrizes de longas-metragens, todos estes potencialmente únicos.
“É como se, de repente,, você queimasse todo o arquivo do Ministério da Economia de 1950 pra frente. Não tinha só ‘coisa para pesquisador’. Eram todos os dados, o arquivo, que a gente usa, filmes, informações sobre eles”, disse o cineasta Francisco Martins, diretor da Associação Paulista de Cineastas (Apaci) e integrante do SOS Cinemateca.
A gestão do órgão é de responsabilidade do governo federal, por meio da Secretaria Especial de Cultura, em Brasília. Em nota, a pasta informou que “lamenta profundamente e acompanha de perto o incêndio que atinge um galpão da Cinemateca Brasileira” e que foi pedida uma investigação à Polícia Federal para apurar as causas do fogo.
“O que tinha ali é a história do Brasil, a memória do audiovisual, que serve para entender, por exemplo, o que é um governo fascista, de que métodos ele se utiliza e resistir contra isso. Mais do que um desastre, isso foi um crime, pois o governo federal foi alertado e negligenciou sua obrigação de cuidar do patrimônio. Temos esse problema grave: a educação sendo minada como projeto, sabotada, para que as pessoas não reflitam, não pensem sobre o seu país”, disse Eloá Chouzal, pesquisadora e integrante do Movimento Cinemateca Acesa.