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Obesidade contribui para agravamento da Covid-19 em jovens, aponta estudo

Pesquisa feita no Reino Unido observou 6,9 milhões de pessoas.

Desde o início da pandemia de Covid-19 é sabido que a obesidade, assim como outras comorbidades, pode agravar quadros da doença. Um estudo feito no Reino Unido a partir da observação de 6,9 milhões de pessoas, publicado recentemente na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, confirma essa tese apontando que quanto maior o índice de massa corpórea, maior a chance de agravamento da infecção.

Um levantamento feito pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), no período de 1º de janeiro a 18 de março de 2021, aponta a obesidade como principal comorbidade identificada em pessoas que desenvolvem formas graves da Covid-19 e evoluem para óbito, na faixa etária de 20 e 39 anos.

De acordo com o estudo, a obesidade foi verificada em 18,4% dos óbitos por Covid-19, na faixa etária de 20 a 29 anos. As cardiopatias apareceram em 8% dos óbitos; e a diabetes, em 6,9% das mortes confirmadas pelo novo coronavírus, entre 1º de janeiro a 18 de março.

Na faixa de 30 a 39 anos, a obesidade também é o fator de risco mais frequente, identificada em 15,8% das mortes por Covid-19. A diabetes está em segundo lugar (11,1%); e as cardiopatias em terceiro, aparecendo em 10,9% das mortes.

“Pacientes com obesidade possuem um tecido adiposo mais acentuado, e esse tecido é receptivo à infecção e à multiplicação do vírus. Então essas pessoas têm uma maior multiplicação e um tempo maior de permanência do vírus no seu organismo. Por conta desse tecido adiposo elevado, eles também têm um estado de inflamação já crônico. A carga viral nesses pacientes é muito maior”, detalhou o diretor-presidente da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Marcus Guerra.

“O estudo [do Reino Unido] mostrou que existe relação linear. Mostrou que o índice de massa corpórea a partir de 23 já eleva o risco para hospitalização. E esse índice acima de 28 eleva o risco de morte”, explica a médica endocrinologista Ana Flavia Torquato.

Essa tendência de agravamento, segundo a especialista, se deve, principalmente, a processos inflamatórios. “Obesidade é uma doença crônica associada a uma inflamação crônica. Então, existem alterações em relação à resposta imunológica do paciente. Além disso, o paciente com obesidade frequentemente tem comorbidades associadas, doenças metabólicas como, por exemplo, diabetes, que também é um fator de risco”.

O imunologista Edson Teixeira corrobora o raciocínio de Torquato e afirma que, devido a essas inflamações, quanto maior o índice de massa corporal, maior a possibilidade, também, de microtrombos. “E isso também é um fator que pode levar ao óbito”, diz.

Obesidade em jovens

Outra constatação do estudo do Reino Unido é de que a obesidade, sozinha, pode agravar casos de Covid-19 em jovens entre 20 e 39 anos de idade. Para Torquato, esse resultado é importante porque os jovens tendem a achar que não desenvolvem casos graves da doença.

Na última sexta-feira (30), Fabrício Dionísio da Silva, 29, foi intubado em razão de sequelas da Covid-19. Ele, que é obeso e contraiu a infecção em fevereiro, havia passado 51 dias hospitalizado e estava tentando se recuperar das consequências da doença quando seu corpo inchou subitamente e a saturação voltou a cair.

Alexandrina, irmã dele, descreveu seu quadro como “preocupante, muito complicado” e comentou ter ouvido dos médicos que a obesidade seria um fator de risco, apesar da pouca idade.

Ana Flavia Torquato ressalta, também, que o isolamento social provocado pela pandemia tem aumentado a proporção de pessoas obesas e com sobrepeso no País e que isso é preocupante. “O isolamento social, apesar de necessário para evitar a contaminação, se associa ao excesso de alimentação. A pessoa tende a ‘beliscar’ mais, comer mais. Mexeu muito com a questão psicológica, ansiedade, depressão, além do sedentarismo”, alerta a médica, que chama atenção para o desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação e atividade física.

Dados da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) divulgados em 2020 apontaram que, à época, no Brasil, 55,4% da população estava com sobrepeso — índice de massa corpórea acima de 25 — e 20,3% com obesidade — índice acima de 30.

Relação com vacina

Um outro estudo feito por pesquisadores italianos com trabalhadores da saúde com obesidade mostrou que, quando comparado às pessoas sem essa condição, esse público produziu cerca da metade da quantidade de anticorpos após a segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech.

O imunologista Edson Teixeira ressalta que essa pesquisa foi feita considerando um número muito pequeno de pacientes e focando somente na produção de anticorpos, o que não seria suficiente para cravar um entendimento sobre a eficácia da vacina nesse grupo ou mesmo indicar algo sobre a necessidade de reforço no esquema vacinal.

Mesmo assim, o especialista faz um paralelo com outras patologias e lembra que “para a hepatite B, para a raiva, para a influenza, há relatos na literatura mostrando que indivíduos com obesidade, quanto maior o índice de massa corporal, menor é a resposta às vacinas. Ou seja, não é uma coisa nova, mas é uma coisa que preocupa, no caso, da Covid-19”.

Segundo o Ministério da Saúde, pessoas com obesidade são prioridade para a vacinação contra a Covid-19 e estão incluídas na terceira etapa da campanha, que deve ser iniciada neste mês de maio.

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