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Garimpeiros dizem que retornarão ao Rio Madeira após saída da PF

Balsas de garimpo incendiadas em operação da Polícia Federal, no Rio Madeira Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Barcaças queimadas boiando, manchas de óleo diesel e colunas de fumaça preta formavam a paisagem do Rio Madeira ontem, um dia depois de a Polícia Federal iniciar a operação de desmonte da concentração de barcas de garimpeiros na altura do município de Autazes (AM). Os garimpeiros podiam ser encontrados com mulheres e crianças nas margens do rio, no caminho para Borba, município a 210 quilômetros de Manaus onde a maioria se refugiou.

Os garimpeiros atracaram cerca de cem balsas no porto de Borba e esperam com apreensão a Polícia Federal, que deve seguir hoje a caçada às centenas de embarcações de garimpo. Uma minoria falou em reagir, incendiando barcos de transporte e prédios públicos. Mas a maioria está preocupada apenas em tentar reduzir o prejuízo e teme a presença ostensiva da Força Nacional e da Polícia Militar do Amazonas.

Balsa de garimpo no rio Madeira no município de Autazes, 120 km de Manaus Foto: Ricardo Oliveira / Revista Cenarium / FramePhoto / Agência O Globo / Agência O Globo

Guarnições da Força e da PM foram enviadas nos últimos dias a Autazes, Borba e ao município de Olinda do Norte. Dois barcos da Marinha patrulham o rio. As medidas têm como objetivo evitar que se repita o incêndio das sedes locais do Ibama e do ICMBio, como aconteceu em outubro de 2017, em reação ao trabalho dos órgãos ambientais contra o garimpo ilegal.

A operação da PF com apoio da Marinha, que inclui um barco porta-helicóptero e uma barca com capacidade de transportar dez veículos da polícia, havia incendiado até ontem mais de cem balsas. As dragas flutuantes eram operadas por até oito pessoas, e às vezes uma família inteira trabalhava e morava nelas, geralmente contratada pelo dono da embarcação.

Os tripulantes foram obrigados a abandonar as embarcações em pequenos portos, na selva ou até em um banco de areia no meio do rio. De lá, tentavam voltar para sua cidade de origem de carona em outro barco. Para evitar reações quando começam a inutilizar os equipamentos, os agentes da PF jogam gás de pimenta, disparam balas de borracha para o alto e dão alguns minutos para os garimpeiros saírem da balsa, antes de jogarem combustível para atear o fogo.

— A gente trabalhava aqui no Madeira há três anos. Nunca destruíram nada. Isso nunca aconteceu — queixou-se o garimpeiro Luiz Henrique Ribeiro, de 26 anos, que pedia carona às lanchas que passavam no Rio Madeira para voltar a Novo Aripuanã (AM). — Eles podem fazer isso, mas o garimpo não vai acabar. Tem muito ouro aqui.

Em Rondônia, apoio

Como Ribeiro, a maioria dos garimpeiros veio da região de Novo Aripuanã e Humaitá, na divisa entre Rondônia e o Amazonas. Do lado de Rondônia, a economia é baseada na extração de ouro e o garimpo tem apoio político. Nos últimos dois anos, a falta de trabalho levou essa população a explorar o rio.

— Aqui não tinha nada de garimpo. Eles começaram a chegar nos últimos meses. Eles trazem dinheiro — afirmou o ribeirinho Ivan Medeiros, de 68 anos, que desde que nasceu mora na Vila Rosarinho, em frente ao ponto do Rio Madeira onde se formou a concentração de barcos de garimpo. Na última semana, ele viu a comunidade minúscula bombar em comércio e movimentação de pessoas trazidas pelo comboio de garimpos.

No caminho da comunidade a Borba, alguns garimpeiros afundavam a embarcação antes da chegada das lanchas da PF e do Ibama – o objetivo é preservar a estrutura de sustentação da balsa, chamada de “cocho” que é feita de madeira nobre, para reavê-la depois. Também aproveitavam para esconder bolotas de ouro embaixo desses equipamentos.

— Quando a coisa acalmar a gente volta e pega de novo — disse um garimpeiro.

*As informações são do O Globo.

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