*Da Redação Dia a Dia Notícia
Em entrevista ao Portal Planeta 92, na última sexta-feira (2), o senador Omar Aziz (PSD-AM) usou a expressão “denegrindo” considerada racista, reacendendo debates sobre o uso de linguagem discriminatória por figuras públicas.
“Isso não dá prosperidade pra ninguém, isso não enche barriga de ninguém. Isso aí fica alguns que não têm nenhum compromisso com o estado, atacando, denegrindo e tal. Não, eu preciso debater o estado”, disse Omar em entrevista ao portal Planeta 92.
O termo “denegrir”, utilizado pelo senador, tem sido apontado como problemático por especialistas e instituições de defesa dos direitos humanos. Embora amplamente difundido no vocabulário cotidiano, a palavra carrega uma carga simbólica que associa a cor preta a algo negativo, o que pode reforçar estereótipos racistas.
A origem etimológica de “denegrir” vem do latim denigrare, que significa “tornar negro”. Embora sua utilização no português tenha sido, por muito tempo, sinônimo de “difamar” ou “manchar reputações”, a crítica moderna reside no fato de que essa associação reforça uma ligação histórica entre “o que é negro” e algo ruim ou degradante.
Especialistas em linguagem e ativistas do movimento negro alertam que o uso de expressões como essa, especialmente por autoridades públicas, ajuda a perpetuar estruturas linguísticas que reproduzem o racismo estrutural presente na sociedade brasileira.
Até o momento, o senador Omar Aziz não se retratou publicamente pelo uso da expressão. Nas redes sociais, internautas criticaram a fala.
Ricardo Chaves, um dos líderes da Associação Coletivo Negro Consciente, explica por que expressões como essa são consideradas de cunho racista.
“A palavra denegrindo vem de denegrir, que no sentido figurado é escurecer ou tornar preto. Só que com o racismo estrutural tão presente no nosso país, no nosso dia a dia, muitas das vezes as pessoas usam denegrir para algo ruim, que é errado. A gente já vem há um tempo tentando desconstruir essas falas. Sim, é uma expressão racista”, afirmou ele.
Ele também ressalta a necessidade de abandonar o uso dessas expressões, pois reforçam o racismo enraizado na sociedade.
“A expressão denegrir por si só, ela já carrega uma conotação pejorativa, racista, que assimila o tornar algo ruim por ser negro. É a mesma coisa de falar que a coisa tá preta, tudo que é preto é ruim, e não é. A gente precisa tirar essas falas”, explicou ele.
DPU explica porque termos como “denegrir” são problemáticos
A Defensoria Pública da União (DPU) já se pronunciou publicamente sobre esse tipo de linguagem. Em postagem feita em 2022 no Twitter (atual X), o órgão esclareceu que diversas expressões do cotidiano possuem conotações racistas — algumas por associarem o negro ao negativo, outras por exaltarem pessoas de pele clara de forma positiva.
“Muitas dessas expressões associam a palavra negro ou preto a coisas ruins. Já outras, como ‘inveja branca’, fazem boas associações às pessoas de pele clara. Recentemente, uma jornalista se desculpou ao vivo por usar a palavra ‘denegrir’, quando poderia ter usado outro termo”, publicou a DPU à época.
A DPU reforça que a linguagem molda percepções e que mudanças no vocabulário são parte fundamental da luta contra o racismo. Termos como “manchar reputação”, “difamar” ou “desacreditar” podem ser utilizados como alternativas mais neutras.