O número de casos de violência contra crianças e adolescentes tem crescido a cada ano. Dados da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal mostram que todos os anos ao menos 91,3 mil crianças e adolescentes têm seus direitos violados no Brasil. A negligência é o crime mais registrado, correspondendo a 74% dos casos. Em seguida, estão os seguintes tipos de violência: psicológica (49%), física (43%) e sexual (25%).
Segundo a psicóloga e professora da Faculdade Santa Teresa, Suky Ramalho, a violência no Brasil é um fenômeno social e cultural complexo, que envolve as bases históricas do país e que atinge todas as camadas da sociedade. “Nesse cenário, a violência contra a criança e adolescente se apresenta como um fenômeno de grande relevância. São diferentes tipos de agressões que têm como consequências agravamentos físico, emocional e psicológico ao desenvolvimento infanto juvenil. É preciso, portanto, estar atentos aos sinais”, afirmou.
A professora explica que xingar, humilhar e praticar castigos físicos, como bater, são também formas de violência. Cerca de 80% dos casos de violência, diz ela, acontecem em casa, onde a criança deveria estar segura e protegida. “Os principais violadores são pessoas da própria família – pais, padrastos, irmãos, mães, tios e avós. Isso expõe justamente o inverso do que a Constituição Federal estabelece, de que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”, destacou.
De acordo com Suky Ramalho, a criança e o adolescente, na maioria das vezes, não conseguem contar sobre a violência sofrida, seja por medo, vergonha ou dúvida. Entretanto, mesmo com possíveis dificuldades de comunicação, alguns sinais comportamentais servem de alerta para que as pessoas percebam que há algum problema. “É importante que a sociedade entenda que coibir a violência infanto-juvenil não é uma responsabilidade apenas da família e do Estado. Todos são responsáveis”, frisou.
Suky orienta que as pessoas fiquem atentas a qualquer mudança de comportamento, como tristeza e choro frequente, irritabilidade, isolamento social, problemas para dormir, episódios de pesadelo, dificuldade na escola e perda de interesse em brincar. Também deve servir de alerta qualquer sinal de marca na pele, hematoma, vermelhidão no corpo, inchaço na genitália.
A violência contra crianças e adolescentes pode causar inúmeros impactos na vida adulta. A professora explica que alguns estudos mostram que a exposição precoce à violência pode estar relacionada com sintomas de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático, baixa autoestima, comportamento agressivo, violento, abuso de substâncias psicoativas, como álcool e outras drogas, e, nos casos mais graves, tentativas de suicídio, sendo evidente o comprometimento à saúde mental e social.
É de extrema importância que a criança e adolescente tenha um ambiente acolhedor, onde possa se sentir segura. “Nem sempre esse local vai ser em casa. Em alguns casos pode ser na escola ou em qualquer outro lugar em que possa expor seus problemas e ter ajuda”, frisou.
Para os pais, a recomendação é reservar tempo para interagir com os filhos e criar um laço de confiança em que a criança e o adolescente sintam-se confortáveis em compartilhar sua vida.
A professora lembra que, ao menor sinal ou hipótese de violência, as pessoas devem denunciar.
“Existem os Conselhos Tutelares, que foram criados com essa finalidade de proteger os direitos infanto-juvenis. Há também o Disque 100, 190 e delegacias especializadas. O importante é não deixar que mais crianças e adolescentes entrem para as estatísticas de violência”, reforçou.