Search
booked.net

Pela primeira vez, Funai tem mulheres indígenas e indigenistas em posições de destaque

*Da Redação Dia a Dia Notícia

Neste 8 de março, em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, pela primeira vez a alta cúpula da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) é composta exclusivamente por mulheres, sendo três delas indígenas. A crença na força da mulher indigenista como figura atuante, capaz e transformadora tem sido uma das marcas da nova gestão que percorre, desde o início de 2023, um caminho historicamente importante para o resgate urgente da figura feminina no indigenismo. Essas mulheres têm assumido posição de destaque para o alcance dos direitos dos Povos Originários.

“É muito importante discutir as mulheres no indigenismo. Mulheres que trazem sua história de resistência serem protagonistas dos direitos dos Povos Indígenas, sejam elas indígenas ou não indígenas”. É com essa fala que Joenia Wapichana, primeira mulher indígena a presidir a Funai, chama atenção para a importância da data de hoje, que representa reflexão, luta e conscientização sobre o papel da mulher indigenista e da mulher indígena, invisibilizado nas últimas décadas e repensado na atual gestão do órgão.

Joenia, considerada a primeira advogada indígena no Brasil a atuar pelos direitos dos Povos Indígenas, denunciando as violações do Estado brasileiro contra os povos originários, foi integrante do Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e do Conselho Nacional de Biodiversidade (CONABIO), e também eleita a primeira deputada federal indígena do Brasil para a legislatura 2019 – 2022.

“É importante colocar essa diversidade para a sociedade brasileira nas temáticas que envolvem mulheres, sejam elas ambientais, territoriais, na proposta de um desenvolvimento sustentável que venha a buscar alternativas econômicas, na valorização da cultura e das boas práticas, e dos conhecimentos tradicionais”, ressalta a presidenta da Funai.

Lucia Alberta Andrade, do povo Baré, foi a primeira diretora da Funai a tomar posse na nova gestão. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e com mestrado em Educação na mesma instituição, Lucia já fez parte do quadro de servidores do órgão de 2012 e 2016, como assessora, quando atuou na realização da 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista, um evento que reuniu mais de 50 mil participantes e resultou em quase 5 mil propostas para o atendimento aos povos indígenas de todo o país.

Para Lucia, o dia de hoje representa “mais que um dia de comemoração, um dia de luta. Um dia de mostrar o protagonismo das mulheres. Hoje, as mulheres estão nos espaços mais importantes e estratégicos do nosso governo. E pra nós, mulheres indígenas, ocupar esses espaços é muito mais forte. Ao mesmo tempo, nós temos uma responsabilidade muito grande, pois a cobrança por nós sermos mulheres indígenas é muito maior do que para outras mulheres. Esse dia é muito importante para mostrar que nós podemos, nós conseguimos. Nós conseguimos fazer a diferença nos lugares que nós quisermos”.

Outra mulher indígena à frente de uma diretoria, a antropóloga Mislene Mendes foi nomeada diretora de Administração e Gestão da Funai em fevereiro. Formada em Antropologia e com mestrado em Antropologia Social pela UFAM, a servidora e indígena do povo Tikuna coordenou as unidades da Funai localizadas no Alto Solimões (AM), de 2014 a 2019, e Vale do Javari (AM), de 2021 a 2023, e foi uma das figuras mais atuantes ao denunciar a situação precária de trabalho dos servidores da coordenação após o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, em junho de 2022.

“As mulheres indígenas, além do papel de dar continuidade à reprodução física e cultural de seus povos, também desempenham papéis políticos e sociais, visando ao fortalecimento e manutenção de suas identidades, e lutando por respeito e qualificação dos direitos indígenas como um todo”, aponta Mislene, que também chama atenção para o papel de representação das mulheres, que simbolizam “a luta e a resistência incansáveis de vencer todas as formas de dominação patriarcal e preconceito, com seus olhares ampliados e complementares aos direitos garantidos. Estar ocupando funções estratégicas dentro da Funai representa uma necessidade há tempos emergente, e corresponde a uma demanda antes invisibilizada e silenciada”.

Atualmente à frente da Diretoria de Proteção Territorial, Maria Janete de Carvalho foi presidenta interina do órgão antes de Joenia tomar posse. Filha do renomado indigenista Porfírio Carvalho, a antropóloga é formada pela Universidade de Brasília (UnB), onde também concluiu seu mestrado em Antropologia. Janete já foi coordenadora de Licenciamento Ambiental da Funai e tem uma longa trajetória no indigenismo, fruto de seu trabalho e de sua dedicação.

Já Neide Siqueira, servidora da Funai desde 1977, integra a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados desde 2014 e avalia os desafios impostos às mulheres no trabalho nessa que é uma das coordenações mais sensíveis do órgão.

“A participação das mulheres no trabalho com indígenas isolados é muito importante, pois trata-se de um trabalho muito específico, que exige um estudo e uma habilidade especiais. As mulheres, na Funai, sempre foram invisíveis, por mais que desempenhassem um bom trabalho. No entanto, cada vez mais elas têm se mostrado proativas não apenas no trabalho indigenista mas na defesa de seus direitos enquanto protagonistas de sua atuação”, pontua.

Para Neide, a Funai passa por um momento especial, sendo chefiada por uma mulher indígena e vinculada a um ministério também chefiado por outra indígena, Sonia Guajajara. “São duas mulheres qualificadas que têm mostrado que é possível fazer indigenismo por mulheres, dando participação efetiva aos indígenas nesse processo democrático. Antigamente, as mulheres indigenistas eram colocadas para cozinhar, fazer relatórios e digitar, por mais que tivessem projetos e ideias. Embora ainda hoje exista uma casta masculina machista na Funai muito forte, esse papel tem mudado, com luta e união das mulheres”, completa a indigenista.

Nas Coordenações Regionais (CRs) da Funai, o destaque para mulheres indígenas também fica evidente. A indígena Marizete de Souza, do povo Macuxi, tomou posse à frente da CR Roraima no último dia 1º. A indígena teve atuação relevante, por exemplo, nos debates sobre a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Historicamente, o Dia Internacional da Mulher foi instituído para homenagear 130 operárias de Nova Iorque (EUA) que, em 1857, protestaram por melhores condições de trabalho em uma fábrica de tecidos na qual eram exploradas. Após terem o pedido de negociação negado pelos patrões, essas mulheres foram trancadas no local de trabalho, que foi incendiado, assassinando todas elas. Esse é apenas um entre inúmeros exemplos que fazem parte da vida de mulheres ao longo da história, constantemente vítimas de violência física, sexual, patrimonial, psicológica e diversos outros tipos de abusos.

Entre no nosso Grupo no WhatsApp

Antes de ir, que tal se atualizar com as notícias mais importantes do dia? Acesse o WhatsApp do Portal Dia a Dia Notícia e acompanhe o que está acontecendo no Amazonas e no mundo com apenas um clique

Você pode escolher qualquer um dos grupos, se um grupo tiver cheio, escolha outro grupo.