*Audrey Bezerra – Da Redação do Dia a Dia Notícia
Após quase entrar em extinção no País, a árvore que produz o óleo essencial do pau-rosa passa por novo processo de extração. No interior do Amazonas, nas proximidades de Itacoatiara, a 176 quilômetros de Manaus, dois empreendedores se uniram e desenvolveram um modelo de extração do óleo de pau-rosa, feito de forma sustentável, respeitando a floresta e sem degradação, que está sendo desenvolvido na destilaria da Kaapi Fragrâncias, inaugurada nesta semana, no dia 24 de novembro.
Os dois empreendedores, o agrônomo radicado em Itacoatiara, Sérgio Souza, e o pesquisador paulista, Eduardo Mattoso, contam que após dez anos de pesquisas e adaptações para a região, a destilaria apresenta uma proposta viável no coração da floresta amazônica, apta a ser replicada por pequenos produtores.
“Já temos a licença para a comercialização do óleo. Agora começa um novo processo, a gente vai enviar amostras desse produto para o mercado mundial, para os clientes, principalmente Estados Unidos e Europa, para que eles testem o produto e avaliem, e depois começa a parte de comercialização. Não é uma coisa fácil, está pronto, o óleo vende, não é assim. É um processo que demora, o pau-rosa ficou muito tempo fora da pauta dos produtos da perfumaria e nós estamos tentando promover o retorno dele, mas não é uma coisa simples”, afirmou o pesquisador, idealizador do projeto e responsável pela Kaapi, Eduardo Mattoso.
Atualmente, segundo ele, o valor do litro do óleo do pau-rosa custa em torno R$ 300 dólares.
Inicialmente, a destilaria da Kaapi Fragrâncias fará a produção dos óleos essenciais de pau-rosa, louro-rosa, capim-santo e priprioca. Tudo rigorosamente feito a partir de manejo sustentável, que respeita a floresta e a conservação ambiental. No método convencional, feito antes, a produção do óleo era baseada na destruição total da árvore, cujo tronco é cortado. Hoje, o óleo é retirado por meio de galhos, folhas e madeira das árvores em sistemas de plantios manejados pela poda da copa ou desbastes seletivos.
“Observamos que há poucos produtos nativos da nossa biodiversidade no mercado mundial. E é um sonho meu estudar as plantas e colocar no mercado internacional”, diz Eduardo Mattoso. Segundo ele, a unidade no Amazonas também incentivará o plantio de outras espécies produtoras de óleos essenciais, por meio de parcerias com produtores locais e com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam).
“Cada árvore é identificada. Ninguém derruba árvore”, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento, Alessandra Marangone.
Polo de Aromáticos
O engenheiro agrônomo, Sérgio Souza, natural do Rio de Janeiro, está há 37 anos no Amazonas, morando em Itacoatiara. Ele, que é responsável pelo plantio na destilaria Kaapi, conta que quando começaram a plantação na Fazenda Simpatia em meados de 2011, eles perderam as primeiras plantações por falta de experiência e pelo desconhecimento das peculiaridades do clima amazônico.
“Precisávamos conhecer o clima amazônico e também como cultivar as plantas. No início, perdemos o primeiro plantio, depois também e agora conseguimos. Hoje, temos 25 mil árvores, sendo 17 hectares de pau-rosa e as demais são de louro-rosa, priprioca, entre outras”, conta.
Apaixonado pelo plantio das árvores, Sérgio Souza defende que é importante que o Amazonas crie por meio da biodiversidade amazônica um novo modelo econômico para a região.
“A gente precisa tentar estimular. São investimentos caros, mas precisamos promover incentivos. É necessário criar um programa de governo, um modelo de Estado, que seja para o futuro. Então, a nossa ideia é criarmos um Polo de Aromáticos na região”, afirma, acrescentando ainda que, “hoje, com esse projeto, queremos resgatar a produção de pau-rosa no Amazonas que deixamos escapar. Naquele momento era importante fazer. E hoje, o formato é outro. Agora, nós sabemos como cultivar e queremos ensinar isso para outras pessoas também”.
Símbolo da Amazônia
O pau-rosa é uma das espécies com maior potencial econômico atualmente na Amazônia. Desta árvore é extraído óleo valorizado pela indústria de perfumaria, tanto que sua exploração levou a espécie à ameaça de extinção.
O óleo puro da madeira tem um tom amarelo-dourado. No início possui um aroma forte, meio cítrico, que se sobrepõe aos outros aromas. Com o passar do tempo, outros cheiros agregam-se ao primeiro, compondo uma mescla harmônica, doce e amadeirada. Já o óleo obtido das folhas é de um amarelo quase transparente, com um cheiro bastante suave, sem muitas gradações. O óleo essencial de pau-rosa apresenta ainda substâncias de uso medicinal, como potencial para fins farmacêuticos.
O pesquisador Lauro Soares Barata, químico de produtos naturais, doutor, professor aposentado do Instituto de Química da Unicamp, é um dos grandes incentivadores do projeto da destilaria da Kaapi Fragrâncias.
“É um projeto brilhante, um projeto fundamental. A árvore do pau-rosa é a árvore símbolo da Amazônia, assim como o pau-brasil que foi o símbolo do Brasil, que foi extinto, e o pau-rosa estava em via de ser extinto, agora ele tem plantação de pau-rosa de onde ele pode extrair o óleo então isso para mim é uma satisfação, para o brasileiro e para a Amazônia, para o manauara e para todos nós da Amazônia”, afirmou.
*A jornalista foi convidada pela assessoria de imprensa para conhecer a destilaria da Kaapi Fragrâncias.