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“O homem é o lobo do homem”: A “louca violência”

“O problema da “louca” violência é inseparável da natureza mesma do homo sapiens/demens, mas ela se desdobra verdadeiramente na era histórica, que é a era dos Estados e das guerras, com massacres gigantescos, sevícias cruéis, torturas insensatas que ultrapassam e transbordam todo e qualquer alcance ideológico.” Edgar Morin

 

Vivemos em um tempo de morte e aniquilação da vida? Nos encontramos à beira de uma normatização da barbárie? O melhor remédio para a cura da violência em nossas sociedades será a ação violenta? Os horizontes de reflexão são diversos, porém os fatos e a história não nos permitem romantizar a realidade. Dentro deste processo de encontros de culturas, indivíduos, ideias e ideais um elemento está em destaque, a vida humana, as sociedades, a própria humanidade, e ao mesmo tempo que está em destaque encontra-se em perigo, bem como do perigo da perda de valores, da coisificação utilitarista da vida humana e, porque não dizer, da vida em âmbito geral.

A partir deste breve olhar é importante reconhecer que pelo caminho trilhado, a duras penas, em detrimento de indivíduos e de culturas, muitas delas já dizimadas, faz-se necessário repensar, projetar, esperançar um futuro diferente que no mínimo salvaguarde a dignidade do ser humano. A reflexão sobre a natureza humana sempre fez parte de grandes sistemas filosóficos, bem como de todas as ciências que se voltam para este amplo e complexo conhecimento, onde desde a antiguidade já se posicionava sobre aquilo que faz parte da realidade estrutural mais essencial e inerente ao ser humano.

De maneira eloquente o pensador Thomas Hobbes (1588-1679) especificou algo assombroso que faz parte do grupo humano, a violência contra o outro. Hobbes não está definindo o ser humano, mas compreende que a natureza humana carrega dentro de si esta marca, de uma irracionalidade propensa à violência e à aniquilação do outro. O que é mais curioso e fundamental para nossa reflexão é que por se tratar de um pensador contratualista, Hobbes acene para a necessidade de um poder (o Estado) que garanta uma ordem legal que acomode este “instinto” humano. Em sua obra Leviatã, ele desenvolve a ideia de que o homem não possui uma disposição natural para viver harmoniosamente ou, viver a paz em sociedade. Para ele a natureza humana é marcada pelo egoísmo e pela autopreservação, o que por sua vez é uma forma de explicar e compreender a existência de tantos conflitos: a “guerra de todos contra todos”.

A guerra de todos contra todos é uma forma de compreender que no seio de sua dinâmica e de sua vida o ser humano está naturalmente lançado para um mar de conflitos. A presente ideia nos orienta a clarear racionalmente que somos propensos à intolerância, aos preconceitos e, infelizmente, à aniquilação do outro.

O filósofo afirma que necessitamos de um poder maior, o Estado, que por sua vez teria a missão de salvaguardar a paz entre todos: “Contrato é a transferência mútua de direitos”. Direitos estes, que a partir deste contrato sejam regrados pelo poder do Estado. E uma confirmação desta ideia veio com a necessidade, depois dos eventos Primeira e Segunda Guerra Mundial, de uma concisa Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).

A dinâmica implícita nestas ideias nos assegura o esboço de uma possível reflexão, a de que diante de uma natureza humana “perversa” se façam necessários estatutos que assegurem e fundamentem uma lei universal que salvaguarde a dignidade da vida e da existência humana.

Já o filósofo contemporâneo Edgar Morin quando se refere à existência da “louca violência”, nos ajuda a refletir sobre este encontro de culturas quando afirma:

Edgar Morin alertou para o fenômeno da megamorte o que nada mais é, em suas próprias palavras, a morte massiva, a morte de milhões. Para o pensador este novo fenômeno apareceu no século XX, cita entre outros as duas guerras mundiais, os campos stalinistas e nazistas, Hiroshima e Nagasaki que por sua vez “produziram a ‘megamorte’ em sua dimensão concentrada e aniquiladora”. Morin aponta caminhos para uma possível resolução de tamanha crise, porém seria tema para outro artigo.

Um elemento consequente a esta realidade diz respeito diretamente à notoriedade, à aplicabilidade e ao compromisso de cada ser humano em reconhecer na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no sentido de não deixar que perca seu valor e sua importância para a construção de uma cultura universal de paz, e que esta vida humana, acima de qualquer bem, seja entendido como um valor em si mesmo. É um processo e propósito que deve ser abraçado por cada pessoa, pelos sistemas políticos, pelos pensadores, ativistas, pelos processos de educação bem como de suas metodologias e devidos escopos, também pelas religiões assim como pelos sistemas econômicos e ideológicos.

Para ser mais abrangente se faz mister relembrar que a pujança da vida, sua integridade, sua importância na cadeia ecológica não é uma exclusividade humana. O encontro é também um encontro de espécies, de biomas, o que nos coloca um outro agravante, o de quanto somos responsáveis por um mundo mais justo e sustentável, portanto, mais digno de vida.

Por Sérgio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

Instagram: @sergioric13

 

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