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Morre poeta amazonense Thiago de Mello aos 95 anos

Thiago de Mello, nascido em Barreirinha , no interior do Amazonas, é um dos poetas mais conhecidos da região, influente tanto nacionalmente quanto internacionalmente.

*Da Redação do Dia a Dia Notícia

O poeta amazonense Thiago de Mello morreu aos 95 anos, nesta sexta-feira (14). Ele faleceu em casa, em Manaus. A causa da morte ainda não foi informada.

Poeta, tradutor, escritor, jornalista, artista gráfico e roteirista, ele nasceu no dia 30 de março de 1926, em Barreirinha, interior do Amazonas. Autor de Faz Escuro Mas eu Canto, entre outras obras icônicas, ele viveu parte da vida no Rio de Janeiro até decidir voltar para a floresta em 1977. Na época, ouviu do amigo Carlos Heitor Cony que seria esquecido. Não foi.

“A floresta me fez perder muito da convivência com seres admiráveis, entretanto, a distância e o tempo fazem com que cresça a permanência da pessoa dentro de nossa vida”, disse o poeta em entrevista em 2016, quando esteve em São Paulo.

Preso por sua posição política no Brasil, em 1968, e no Chile, em 1973, durante o golpe de Pinochet, quando foi salvo pela poesia (o oficial de plantão, allendista, conhecia seus versos pela tradução feita por Pablo Neruda), Thiago de Mello foi também ameaçado de morte por sua defesa do meio ambiente. Outra luta: fazer poesia usando uma linguagem acessível ao leitor comum. “O difícil é fazer poesia com a palavra que o povo usa”, contou naquela mesma entrevista.

Os livros de Thiago de Mello são, em sua maioria, publicados pela Global: Faz Escuro Mas Eu Canto, Acerto de Contas, Melhores Poemas, Como Sou, As Águas Sabem Coisas, etc. Em 2011, a V&R lançou uma edição bilíngue de Os Estatutos do Homem – com o poema de Thiago e a tradução de Neruda.

Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas. Thiago de Melo tornou-se conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos. Sua obra mais famosa é “Os Estatutos do Homem”.

Em setembro do ano passado, a 34º Bienal de São Paulo homenageou Thiago de Mello. O verso que inspirou a bienal faz parte do poema ‘Madrugada Camponesa’.

O poema também ganhou uma versão musical, através de uma parceria entre Thiago de Mello e o músico Monsueto Menezes, no mesmo ano em que foi lançado.

Alberto César Araújo/Folhapress

 

Em entrevista a imprensa local, o escritor e poeta Tenório Telles informou que o velório de Thiago de Mello ocorrerá no Palácio Rio Negro, Centro Histórico de Manaus, em horário a ser definido.

 

 

 

“Fica decretado que agora vale a verdade,/ que agora vale a vida, / e de mãos dadas, / marcharemos todos pela vida verdadeira”. Este é o artigo 1 do histórico poema Os Estatutos do Homem, que Thiago de Mello escreveu como uma resposta ao AI-5 e que virou hino de uma geração. Serve como registro de uma resistência e de esperança. Serve para hoje, cinco décadas depois de ter sido escrito. “Fica decretado que os homens / estão livres do jugo da mentira. / Nunca mais será preciso usar / a couraça do silêncio / nem a armadura de palavras. / O homem se sentará à mesa / com seu olhar limpo / porque a verdade passará a ser servida / antes da sobremesa”, diz o artigo 5º do poema.

Leia a obra mais famosa de Thiago de Mello, Os Estatutos do Homem, de 1977:

O Estatuto do Homem

 

Artigo Primeiro

Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo Segundo

Fica decretado que todos os dias da semana,  inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo Terceiro

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito  a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo Quarto

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único

O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo Quinto

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

 

Artigo Sexto

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo Sétimo

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha  sempre o quente sabor da ternura.

 

Artigo Oitavo

Fica permitido a qualquer  pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo  Nono

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

 

Artigo Décimo

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único

Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

 

Artigo Décimo Primeiro

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais compra o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso  e das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

(Santiago do Chile, abril de 1964 dedicado a Carlos Heitor Cony )

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