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Indígenas Yanomami fazem protesto em Boa Vista contra invasão garimpeira e colapso na saúde

Foto: Adriana Duarte/Reprodução/ISA

Insatisfeitos com a falta de amparo do poder público, lideranças dos povos Yanomami e Ye’kwana fizeram uma marcha pelas ruas de Boa Vista, capital de Roraima, na última quarta-feira (08) de setembro, denunciando a invasão garimpeira na Terra Indígena Yanomami e o colapso no atendimento à saúde da população indígena.

Durante a manifestação pacífica e democrática, as lideranças também entregaram cartas às autoridades e órgãos públicos formalizando as denúncias.

O ato é resultado do II Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami, realizado na região da Tabalascada, município do Cantá, ao norte de Roraima. Durante quatro dias de debates, os participantes deram depoimentos e denunciaram o aumento da violência decorrente da invasão garimpeira, do surto de doenças, mortes e o total abandono do poder público.

Indígenas de diversas regiões da Terra Indígena Yanomami (Maturacá, Marauiá, Demini, Novo Demini, Haxiu, Maloca Paapiu, Palimiu, Awaris,, Ajuricaba, Missão Catrimani, Surucucu,, Alto Mucajaí, Baixo Mucajaí e Uraricoera) produziram dois documentos, referentes ao colapso da saúde e ao garimpo.

“Antes era tudo lindo, tudo limpo. Agora, nesse ano, a água virou lama. O garimpo ilegal está se espalhando na nossa terra. Ele chegou em lugares onde a gente não pensava que ia chegar. Agora o peixe não enxerga nada. Agora ficamos preocupados porque o peixe tem mercúrio e não queremos envenenar nossas crianças e adultos. Agora o garimpo está expulsando nossa caça”, diz um trecho da carta sobre garimpo ilegal. Leia a carta na íntegra.

“Estamos muito revoltados com a presença dos garimpeiros que aliciam alguns dos nossos parentes com falsas promessas, destruindo e roubando nossa riqueza, nosso futuro. Os garimpeiros se fingem de amigos, mas depois envenenam as pessoas com drogas da cidade e estupram nossas mulheres e crianças. Os nossos parentes estão ficando viciados e a floresta foi desmatada”, descreve o texto.

De acordo com o documento, as mulheres Yanomami vivem momentos desesperadores com a falta de medicamentos básicos que poderiam salvar a vida de seus filhos. Cerca de 40 crianças morreram entre o ano passado e esse ano, vítimas de diarreia, pneumonia e malária.

“Onde tem garimpo, a saúde é ainda pior. O mercúrio está contaminando os rios e nossas famílias. No Palimiu já nasceram crianças com má formação. A saúde parou de atender no Palimiu e no Kayanau, porque os garimpeiros chegam armados ameaçando a vida de nossos parentes. Em outros lugares, como no Parima, tem funcionário atendendo garimpeiros e vendendo medicamentos por ouro, enquanto nossos parentes sofrem doentes e sem tratamento”, relata trecho da carta sobre a saúde. Leia a carta na íntegra.

A maior Terra Indígena do Brasil, localizada na divisa dos estados do Amazonas e Roraima, com mais de nove milhões de hectares, está invadida por mais de 20 mil garimpeiros. Dados do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami mostram que 463 hectares de floresta foram destruídos de dezembro de 2020 a junho de 2021, o que representa um aumento de 21% em relação ao acumulado em dezembro de 2020. A área impactada pelo garimpo soma-se hoje a um total acumulado de 2.702 hectares devastados.

“A floresta é nossa casa. Ela oferece caça, fruta, ela oferece tudo. Ela nos dá saúde. Nossos lugares sagrados são muito importantes. Se isso acabar, nós acabaremos. Nós somos fortes com a natureza e vamos resistir. Porque a floresta é a nossa vida. O que ela oferece é muito bom. E isso o Governo está destruindo”, apelam os líderes na carta de denúncia sobre o garimpo.

Após três dias de debates no Fórum de Lideranças e como forma de chamar a atenção das autoridades e sociedade roraimense os Yanomami e Ye’kwana se pintaram de preto, como símbolo de luta nas suas tradições culturais e com seus com arcos, flechas e faixas pretas com dizeres “Nossa luta é pela vida” e “Fora Garimpo, Fora Xawara” (doença na língua yanomami), se concentraram em frente ao Monumento ao Garimpeiro, no centro de Boa Vista.

Sete associações da Terra Indígena Yanomami assinam os documentos: Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Associação Kurikama Yanomami (AKY), Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (TANER), Hwenama Associação do Povo Yanomami de Roraima (HAPYR) e ainda o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY).

*Com informações do Instituto Socioambiental

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