*Da Redação Dia a Dia Notícia
Cerca de 20 ilhas artificiais foram descobertas por arqueólogos do Instituto Mamirauá em pesquisas realizadas na região do Médio e Alto Solimões, na Amazônia. As ilhas que são chamadas de aterrados, são sítios arqueológicos de antigas aldeias construídas em áreas de várzea nos períodos pré-colonial e colonial.
As estruturas de terras ficam próximas a áreas com depressões, de onde foi retirado o material para a construção das ilhas, há centenas de anos. Na Amazônia, construções similares foram encontradas na Ilha de Marajó, no Pará e em Llanos de Mojos, na Bolívia.
As primeiras informações sobre essas construções na região do Médio Solimões, no Amazonas, foram coletadas em levantamentos de campo realizados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no ano de 2015. Em julho de 2018, um aterrado foi encontrado durante uma expedição ao Rio Juruá, na mesma região.
O arqueólogo Márcio Amaral do Instituto Mamirauá usou como guia informações de um morador da cidade de Tonantins (AM), onde subindo para a região do rio Içá, no Alto Solimões descobriu um conjunto de 13 ilhas artificiais. Cada ilha apresenta uma área entre um e três hectares e medem seis e sete metros de altura.
As descobertas realizadas reforçaram a teoria de que a Amazônia teria sido densamente populosa e composta por sociedades complexas e organizadas antes da chegada dos europeus. Os antigos omáguas, povo indígena do tronco tupi seriam os responsáveis pelas construções das ilhas. Este povo é ascendente dos atuais kambebas, etnia amazônida, que atualmente conta com cerca de 1.500 indivíduos em território brasileiro.
Construção das ilhas
Durante pesquisas, arqueólogos notaram que próximo aos aterrados havia uma depressão em torno de 25 a 50 metros denominada pelos ribeirinhos como ‘cavados’. A partir desses locais que indígenas extraíam a terra utilizada para a construção.
O arqueólogo Márcio Amaral, um dos responsáveis pelo estudo, afirma que para a construção das ilhas foi necessário a realização de cálculos avançados de engenharia para lidar com o clima da época. “Foi uma resposta complexa das antigas civilizações para sobreviver as épocas de cheia”.
O posicionamento das ilhas foi escolhido de forma estratégica, próximo aos recursos necessários a sobrevivência. “Elas foram construídas ao lado de bocas de paranás e lagos. Locais com fauna rica e diversificada, com muitos peixes, quelônios e jacarés”. O arqueólogo também destaca que a vegetação das ilhas artificiais é diferente da encontrada nas várzeas.
Vestígios encontrados
Em varreduras de superfície das ilhas foram encontrados vestígios do chamado ‘pão de índio’, que é um material orgânico que indica técnica tradicional de armazenamento de alimentos de origem vegetal.
Foram encontradas cerâmicas do estilo corrugado, esteticamente caracterizado pelas rugas, camadas modeladas nos vasos e peças. O estilo cerâmico datado do século 15 e 16 é comum a grupos tupis.
Também foram identificados fragmentos de cerâmica do estilo Hachurada Zonada, tipo ainda mais antigo – acredita-se que por volta de mil a.C.
Pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia do Instituto Mamirauá ainda devem retornar ao conjunto de ilhas para continuidade das pesquisas, porém os custos são elevados e os pesquisadores necessitam de custos para as expedições que possuem relevância para a compreensão e desvendamento da história da Amazônia.
*Com informações do Instituto Mamirauá
