Dia Mundial do Meio Ambiente, Junho Verde, Mês do Meio Ambiente. Muitas são as denominações que fazem desta data (5/6) e mês uma ‘oportunidade’ para empresas e instituições destacarem ações desenvolvidas em prol da sustentabilidade ambiental. É o período em que governos e organizações lançam campanhas sobre preservação, promovem mutirões de plantio e divulgam boas práticas ambientais.
Mas, na prática, quantas dessas ações estão realmente estruturadas dentro de um plano estratégico, com objetivos claros, metas mensuráveis e impacto de longo prazo?
O que se vê, majoritariamente, são ações pontuais, reativas e simbólicas — que até têm valor, mas poderiam transformar muito mais se fossem parte de uma visão integrada e contínua. A boa intenção, por si só, já não basta diante da urgência ambiental, que enfrentamos. É preciso saber onde, porquê, com quem, com qual impacto e como medir os resultados de cada ação.
Por isso, a importância de responsabilidades partilhadas e estratégias bem estruturadas.
É neste caminho que entra o ESG — sigla para ambiental, social e governança — não como um modismo corporativo, mas como uma ferramenta concreta de inteligência estratégica para alinhar impacto positivo e sustentabilidade de longo prazo.
O ESG oferece linguagem, parâmetros, indicadores, responsabilidades e senso de continuidade. Ele transforma ações isoladas em política interna, práticas desconectadas em cultura organizacional. E, no entanto, seu verdadeiro potencial ainda é invisível para muitas organizações. Mudar esta realidade é um desafio. Muitas empresas ainda confundem ações pontuais de responsabilidade social com ESG estruturado. Doar cestas básicas, apoiar uma causa ou promover um plantio são atitudes relevantes — mas, sem planejamento, governança, métricas, intencionalidade e impacto, elas não consolidam uma agenda ESG real.
ESG não é gasto. É oportunidade.
Ainda há uma resistência cultural equivocada que associa ESG a despesa, burocracia ou imposição externa. Na verdade, o que está sendo desperdiçado são oportunidades de fortalecer processos internos, gerar inovação, atrair investimentos e criar um posicionamento sólido e coerente de marca, com transformação social e ambiental para pessoas, comunidades…
Mas esse cenário vai mudar mais rápido do que muitos imaginam.
As pressões externas — tanto de investidores quanto de consumidores — estão aumentando sim e vão continuar crescendo. Investidores, no mundo todo, estão sendo cobrados por resultados socioambientais reais nas empresas que apoiam. E os consumidores — especialmente as novas gerações — estão cada vez mais conscientes, atentos e críticos quanto à coerência entre discurso e prática. Essas forças vão moldar o mercado daqui para frente.
E por que o ESG é, afinal, a oportunidade para o meio ambiente?
Porque quem organiza ações com base em metas e indicadores ESG consegue priorizar áreas mais vulneráveis; alinhar ações ambientais com metas sociais e urbanas; integrar diferentes setores da organização no mesmo objetivo; comunicar resultados reais com transparência e clareza, acessar financiamentos, selos, certificações e apoio institucional para mais ações de impacto ambiental e social.
Para enfrentar as mudanças climáticas com seriedade, as empresas precisam sair do simbólico e investir em ações de impacto ambiental real e de longo prazo. Vejam algumas estratégias possíveis: gestão circular de resíduos com logística reversa, reciclagem avançada e redesign de processos e produtos; reuso de água e captação de chuva, reduzindo consumo e vulnerabilidade hídrica; engajamento e financiamento de projetos de restauração de ecossistemas, com ações planejadas de reflorestamento e proteção de nascentes; revisão da cadeia logística, priorizando fornecedores sustentáveis e transporte de baixo impacto; parcerias com o poder público, apoiando a arborização urbana, hortas comunitárias e projetos de educação ambiental.
Essas são ações que posicionam a empresa como agente real de mudança, gerando valor ambiental e social com retorno estratégico e reputacional.
Pontual x Estratégico: o que muda?
Vamos a um exemplo muito real: uma empresa realiza um mutirão de plantio de árvores em um parque urbano. É bonito, simbólico, sim, e comunicável. Mas o que acontece se esse plantio não for acompanhado de um plano de manutenção, critérios técnicos de arborização urbana e a definição sobre mecanismos de manutenção no cuidado das espécies?
Agora imagine a mesma ação, integrada a um plano municipal de enfrentamento às mudanças climáticas, com mapeamento de áreas críticas, incluindo a recuperação de áreas degradadas, espécies nativas selecionadas, metas de cobertura verde por bairro e indicadores públicos de monitoramento.
As mesmas mudas foram plantadas — mas com um impacto infinitamente maior.
Por isso, é hora de mudar a lógica. O Junho Verde nos convida a refletir sobre o que realmente estamos entregando.
A sustentabilidade precisa sair da vitrine e entrar nos sistemas de decisão. As boas práticas já existem — mas precisam ser planejadas, conectadas e ampliadas. ESG é a ferramenta e pode integrar os setores privado, público, organizações não governamentais e a sociedade.
Que não percamos a oportunidade!