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Entre a utopia e a esperança

“A esperança é o sonho do homem acordado.” Aristóteles

“A esperança não será a prova de um sentido oculto da Existência, uma coisa que merece que se lute por ela?”. Ernesto Sabato

Respeito, cuidado mútuo, diálogo aberto, paz, não violência, sem preconceito e sem desigualdades. Pensar em uma sociedade justa significa de fato pensar em um lugar impossível e utópico? Talvez a atual conjuntura humana não nos permita pensar que tudo isto seja possível. Mas, algo é real, em muitos momentos históricos o ser humano já se mostrou capaz de grandes e inúmeras realizações.

Já moramos em cavernas nos escondendo de predadores, sujeitos a todas as intempéries possíveis que a vida e a natureza podem ofertar. No entanto, fomos capazes de mudar essa situação, tentando, errando, repetindo, refazendo, reorganizando aprendizados, criando hipóteses, especulando possibilidades, calculando e recalculando. O ser humano aprendeu que para que qualquer mudança desejada se torne realidade, se faz necessário agir para modificá-la.

No século XIX, o proletariado se viu sem garantias e sem direitos, e sua situação parecia irreversível dentro de um capitalismo emergente e profundamente  desigual. Esta classe operária desejou mudanças, passou então a se reunir e se organizar, criação de sindicatos e as lutas por dias melhores saíam das mentes para se fazerem parte de leis e da própria vida, por melhorias, por remuneração mais justa, por garantias trabalhistas e condições sociais. Mudar era urgente e necessário. Mas sem ação qualquer mudança seria impossível.

Assim como existiu um tempo em que não existia educação pública e de qualidade para todos, era coisa de rico e de burguês. A massa pobre estava aquém e nem se pensava em educação como direito básico. No entanto, as forças sociais, os direitos humanos adquiridos fizeram um levante para que não se tratasse de um privilégio, mas de um direito universal, ou seja, mais uma conquista alcançada!

Quantas conquistas humanas se iniciaram com um sonho, uma meta, um desejo? Sonhos e desejos que pareciam impossíveis foram alcançados pela incansável característica humana da persistência e obstinação, uma força que o impulsiona rumo à superação de si mesmo e de suas limitações. A força humana foi substituída pela força animal, pela força da natureza, que por sua vez deu lugar às máquinas, e o que parecia impossível foi era de fato realizável.

Até o presente momento em que escrevo este artigo o mundo presencia as atrocidades de uma guerra. Inocentes morrem,a história vai sendo varrida, edifícios, construções, arte e arquitetura desabam diante do poder das bombas. Nos faz pensar que a guerra seja um dos piores recursos que o ser humano criou para decidir qualquer impasse social. O que revela quanto somos incapazes, muitas vezes, de solucionar nossos principais conflitos de forma pacífica.

Momentos críticos necessitam de soluções. Como solucionar o grave problema da intolerância, do preconceito, da homofobia, da xenofobia, misoginia e tantos mais? Como solucionar o impasse democrático que governos autoritários e liberais nos empurram goela abaixo? Como reacender em cada ser humano a defesa dos Direitos Humanos? Estaríamos em uma encruzilhada sem fim? Nos encontramos no xeque-mate da vida? Estaria a humanidade em um beco sem saída?

Os mais pessimistas dirão que não há mais nada o que fazer, que a humanidade está perdida, que a ética não mais acalenta os passos da liberdade humana, e que nada de bom se deve esperar. Diriam que é cada um por si, largado à própria sorte. E muitas questões pairam sem solução. De onde estas soluções tão desejadas virão? Quais recursos e tecnologias possuímos atualmente para solucionar tais impasses? Quando nos lançamos para o que se pode e o que se deve fazer, entramos no delicado campo da esperança, a meu ver, esperança essa muito mal interpretada como mera utopia.

Façamos uma breve distinção entre o ato de esperar e a atitude de esperançar. Esperar significa nada mais que aguardar por um evento que está por vir, sem necessariamente ter que fazer algo para que aquilo de fato aconteça. Esperar significa aguardar passivamente por algo que virá sem a minha intervenção. Já a atitude da esperança que deriva do ato de esperançar, não possui o mesmo sentido de esperar, no entanto, o senso comum associa os dois conceitos como se fossem a mesma coisa.

Esperançar e esperança partem da ideia de que para que algo aconteça, se faça necessária a minha participação e meu envolvimento. Esperançar não é atitude de quem apenas aguarda por algo, mas, mais do que isso, “arregaça suas mangas” para que aquilo que tanto deseja de fato aconteça. Esperançar é envolver-se, é assumir as rédeas da vida e dos acontecimentos. Pessoas esperançosas agem, fazem acontecer, modificam, influenciam o curso da vida e dos fatos.

Que relação há entre utopias e esperanças? O que seria do ser humano se não fosse a sua capacidade de se projetar para o futuro, de impõe a si mesmo metas e objetivos, desejos e anseios? Hoje se fala do projeto de vida, do plano de carreira, de um projeto de estudo ou mesmo de um projeto científico. O ser humano busca pela tão sonhada felicidade, e sim, sempre com um olhar para o futuro.

Somos seres de utopias e de esperança, e isto nos coloca no plano do envolvimento com a vida, com um futuro melhor, de forma que ele se entende como um grande modificador, um ser criativo que pensa, sonha, mas que também faz acontecer. E fazer acontecer é algo que faz parte de nossas vidas. Nós assumimos as rédeas de nossa própria história, de nossa vida social e política.

Utópico é todo sonho que não foi posto em prática, utópico é todo futuro pensado e somente esperado de mãos atadas, mas qualquer utopia se faz possível sim, quando o ser humano resolve pô-la em prática. O período Moderno Iluminista foi o vislumbre de tantos feitos humanos, do poder da ciência moderna, do conhecimento da natureza, do advento da industrialização e do capitalismo, todos estes sonhados, desejados e colocados em prática, no momento em que o ser humano resolve inventar, criar, modificar tudo à sua volta.

De tempos em tempos o ser humano tem se deparado com problemas diversos: problemas políticos, desafios econômicos, guerras, tempos de escassez, tempos de miséria, doenças, intolerância, desigualdades cada vez mais presentes. Viver sempre foi desafiador para o ser humano! Todas as mudanças alcançadas exigiram participação e engajamento, principalmente de forças populares e democráticas, de uma atitude uma vez taxada como utópica, mas que se transformou em esperança por tempos melhores, e não somente de uma espera estéril e infecunda.

Por Sérgio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

 

 

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