O presidente Jair Bolsonaro visita nesta quinta-feira (27) São Gabriel da Cachoeira (AM), a 2.719 quilômetros em linha reta de Brasília. Na agenda oficial, consta a inauguração de uma ponte de madeira de 18 metros de comprimento e 6 metros de largura, em uma estrada de terra parcialmente transitável e pouco utilizada.
A ponte sobre o igarapé Ya-Mirim, a 85 km da sede de São Gabriel, já havia sido inaugurada em 2 março, em uma cerimônia que contou com a presença de cinco generais, entre os quais o comandante militar da Amazônia, Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira. O Exército realizou a obra, segundo a Folha de São Paulo.
Esta será a 22º cidade para onde Bolsonaro viaja neste ano para participar de solenidades oficiais. Em ritmo de campanha eleitoral, o presidente participou desde janeiro de inaugurações, incluindo outras obras já inauguradas, vistorias e atos simbólicos para entregas de títulos de propriedade de terra.
Em pelo menos quatro oportunidades, o presidente inaugurou novas pontes, sendo a menor delas a que foi reconstruída pelo Exército no Amazonas.
Para refazer a ponte em São Gabriel da Cachoeira, foram gastos 68,65 metros quadrados de madeira, pouco mais do que o necessário para a construção de uma casa popular. O serviço foi executado por 19 militares da 21ª Companhia de Engenharia de Construção.
A ponte faz parte de um programa de recuperação de 102 km da BR-307, que liga a cidade e a comunidades da Terra Indígena Balaio.
Quando foi construída, a rodovia federal terminava em Cucuí, povoado na fronteira com a Venezuela. Com a falta de manutenção, só metade da estrada está transitável. A via também é utilizada por yanomamis da região de Maturacá, que embarcam no igarapé Ya-Mirim para chegar até o seu território.
Bolsonaro deve visitar essa comunidade também, onde está instalado um pelotão de fronteira do Exército. O presidente deve gravar sua live no Facebook e pernoitar ali. É a sua primeira viagem a uma terra indígena desde que assumiu o cargo.
Esta não será a primeira vez neste ano que o presidente vai inaugurar uma obra que já foi previamente inaugurada.
Em Alagoas, por exemplo, o presidente inaugurou duas obras que já haviam sido inauguradas pelo governador Renan Filho (MDB). Na oportunidade, Bolsonaro aproveitou a solenidade para fustigar o relator da CPI do Covid, senador Renan Calheiros (MDB).
Renan Filho (MDB) foi apenas comunicado por email do Cerimonial da Presidência sobre a presença de Bolsonaro na inauguração das obras, que foram executadas pelo governo estadual.
Uma delas, do Canal do Sertão, custou R$ 3,5 bilhões, em valores corrigidos, dos quais apenas R$ 191 milhões liberados pelo governo Bolsonaro.
O quinto trecho do canal, orçado em cerca de R$ 400 milhões, não foi iniciado por falta de recursos. O trecho quatro, inaugurado por Bolsonaro, estava em funcionamento desde março.
Bolsonaro também inaugurou um complexo de viadutos que já tinha sido liberado para o tráfego em dezembro de 2020. Contratada pelo governo Renan Filho, a obra foi majoritariamente financiada pelo governo Temer.
Dos R$ 95 milhões investidos, R$ 53 milhões foram liberados pelo governo Temer, R$ 25 milhões foram pagos pelo governo estadual e R$ 17 milhões foram repassados pela gestão Bolsonaro.
Em outras três oportunidades, o presidente viajou para fazer a entrega simbólica de títulos de posse de terras para agricultores nas cidades de Açailândia e Alcântara, no Maranhão, e em Terenos, em Mato Grosso do Sul.
Em Açailândia, Bolsonaro acabou sendo autuado pelo Governo do Maranhão, sob gestão Flávio Dino (PC do B), por não usar máscaras de proteção contra a Covid-19 e gerar aglomerações.
Também houve uma viagem para Belém na qual a única agenda do presidente foi a entrega simbólica de cestas básicas pelo Programa Brasil Fraterno.
Em geral, as viagens do presidente seguem um padrão semelhante. Ele desembarca na cidade mais próxima com aeroporto, onde necessariamente segue até o saguão ou fora do aeroporto para cumprimentar seus apoiadores. De lá, embarca em um helicóptero e segue até o local da solenidade.
Não raro, o presidente faz paradas em cidades fora do roteiro da viagem. Quando foi ao Maranhão, na semana passada, Bolsonaro desceu na cidade de Senador La Rocque (651 km de São Luís) para cumprimentar apoiadores.
No início do mês, quando foi em Alagoas, desembarcou rapidamente em um distrito da zona rural de Girau do Ponciano (159 km de Maceió), onde visitou um mercadinho de bairro.
Nas solenidades, os discursos também seguem um roteiro semelhante. Agradece a Deus por estar vivo, fala da facada que tomou na campanha eleitoral de 2018 e agradece a seus apoiadores
Nas últimas solenidades, tem citado as eleições de 2022 e feito referências pouco elogiosas ao ex-presidente Lula (PT).
Os eventos, em geral, servem para prestigiar líderes de partidos do centrão. Em janeiro, por exemplo, o presidente inaugurou a readequação de um trecho de estrada em Coribe (649 km de Salvador).
Era uma obra pequena em uma cidade de 14 mil habitantes. O município, contudo, é berço eleitoral do deputado federal José Rocha (PL-BA), um dos mais influentes deputados do centrão.
Em 12 de maio, esteve em Alagoas para prestigiar dois fiéis aliados: o ex-presidente e senador Fernando Collor (Pros) e o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP).
Este formato de viagem também era praxe nos governos anteriores. Em seus oito anos de mandato, o ex-presidente Lula fez 822 viagens dentro do país, registrando uma média de uma visita a cada três dias.
Em geral, a média de visitas sobe em ano eleitoral. Em 2006, Lula fez 36 viagens nos três primeiros meses do ano. Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) fez 22 viagens no mesmo período.
Além de inaugurações, as visitas incluíam vistorias de obras em andamento, assinaturas de ordem de serviço e lançamento de pedras fundamentais.