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Dia Mundial contra o Trabalho Infantil

O principal impacto de todo trabalho infantil diz respeito à inversão na dinâmica familiar. Quando a criança é responsável pelo ingresso de uma parte significativa da renda familiar, a criança torna-se, de certa maneira, a chefe de família.

Os impactos psicológicos são muito variáveis dependendo do tipo e do contexto social do trabalho. Trabalhos como tráfico e exploração sexual, considerados piores formas de trabalho infantil, não são aceitos pela sociedade em geral e só trazem uma carga negativa muito grande no psicológico e na autoestima. Outro impacto generalizado é a dificuldade na inserção em outros grupos sociais da mesma idade, porque os assuntos e responsabilidades são muito além da idade adequada.

Não tem como qualificar se o trabalho é menos ou mais danoso em termos psicológicos. Eu diria que o nível de dano psicológico tem muito a ver com as normas sociais e culturais as quais a criança ou adolescente está inserido. Se a criança está trabalhando dentro do que é considerado “aceitável socialmente”, ou seja, atendendo balcão em lojas, em oficinas mecânicas ou inserida em ambientes que não a deixe vulnerável, como casos de trabalhos em semáforos e exploração sexual, a princípio não se tem um impacto tão grande. Quando a criança está inserida dentro de um contexto familiar, a tendência é que haja danos psicológicos menores. Mas isso não é uma regra.

Além do já exposto, as crianças e os adolescentes perdem a possibilidade de acompanhar as etapas naturais de desenvolvimento biológico. Além disso, também perdem etapas de seu crescimento social. Quando se trabalha com crianças oriundas do trabalho infantil é muito comum sentir a necessidade de se recriar etapas que se perderam.

Outra importância muito grande é a possibilidade de ter a fase do brincar. O direito à atividade é quase sempre perdido por uma criança que trabalha, e brincar é necessário para a formação do ser humano.

O desenvolvimento de uma criança ou adolescente que trabalha pode ser comprometido especialmente em relação à capacidade de aprendizagem e às formas de se relacionar. O cérebro humano está em desenvolvimento até os 25 anos de idade, aproximadamente. Então, qualquer coisa que afete esse processo gera impacto para o resto da vida.

O brincar tem um significado universal, é uma necessidade para todas as crianças. O fato que toda criança encontra espaço para brincar, de certa maneira, indica o quão brincar é importante para a sua psique.

O que se discute hoje é a falta de espaço, temporal e físico, para crianças brincarem. O brincar tem um papel muito importante, social e cognitivo, no desenvolvimento, mas que não pode ter início, meio e fim mensurados.

A maior parte da incidência de trabalho infantil é intergeracional. Então, quando se fala de erradicação de trabalho infantil, apontamos para duas mudanças importantes: a quebra de ciclos familiares e de paradigmas culturais. Ainda assim, a identificação do trabalho infantil é mais fácil quando sua realização esbarra em um paradigma sociocultural.

Por exemplo, retirar as crianças de uma região de cultivo, no campo, é muito mais fácil porque você atinge, a partir de uma mudança politica e cultural, uma população de crianças trabalhadoras. No ambiente urbano, muitas vezes há dinâmicas familiares enraizadas com diversas formas de trabalho. A erradicação, de fato, só ocorre quando há a quebra desse ciclo intergeracional familiar, ou seja, quando os responsáveis mudam os valores e entendem que as crianças não devem trabalhar e que os adolescentes terão idade certa para isso.

Tudo que acontece na vida de uma criança gera impacto permanente. Isso porque, durante a infância, se tem grande volume de desenvolvimento fisiológico e cerebral. De fato, o ser humano está sempre em desenvolvimento.
Os impactos, no entanto, variam de acordo com a criança, do trabalho que exerceu, da aceitação sociocultural, entre outros pontos. Todas as questões abordadas têm características ofensoras. O nosso conteúdo genético é modificado pela vivência e ambiente. Então, o que passamos para nossos filhos não é o mesmo que nossos pais nos passaram, e assim sucessivamente.

Com poucas oportunidades de estudar, a criança que trabalha geralmente reproduz o perfil de outras gerações da família, que também trabalharam na infância. Sem a conscientização e direito a novas oportunidades que deveria ser garantido por meio de políticas públicas, dificilmente as crianças com este perfil conseguem romper o ciclo da pobreza e miséria de suas famílias.

“Se eu compro produto de alguma criança que está vendendo no semáforo, eu estou contribuindo com o trabalho infantil. Como cidadã e consumidora, também tenho responsabilidade de reconhecer aquela situação como ilegal”.

Por Samiza Soares

É terapeuta formada em psicanálise e hipnoterapia clínica pelo Instituto Lucas Naves e pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC), respectivamente.
Trabalha com sessões individuais e com casais, atendendo em consultório particular, plantão terapêutico emergencial, além de atendimento domiciliar e atendimento on-line.

Instagram: @samiza

E-mail: [email protected]

Facebook: www.facebook.com/samizasoaresterapeuta

 

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