*Da Redação do Dia a Dia Notícia
O dia 4 de dezembro reúne, em diferentes manifestações religiosas, devotos que celebram duas figuras de forte simbolismo: Iansã, orixá dos ventos e tempestades no candomblé e na umbanda, e Santa Bárbara, mártir católica associada à proteção contra raios e trovões. A data, que movimenta terreiros, igrejas e cortejos populares em várias regiões do país, é também um dos exemplos mais emblemáticos do sincretismo religioso no Brasil.
História de Santa Bárbara
Santa Bárbara teria vivido no século III, na região onde hoje fica a Turquia. Filha de um rico comerciante chamado Dióscoro, a jovem foi mantida reclusa pelo pai, que tentava impedir sua conversão ao cristianismo. Ainda assim, ela adotou a fé cristã e passou a desafiar as imposições familiares.
Ao descobrir a conversão da filha, Dióscoro entregou Bárbara às autoridades romanas. Após resistir às torturas e recusar-se a renunciar sua fé, ela foi condenada à morte. A tradição religiosa afirma que o próprio pai executou a sentença, decapitando-a. No entanto, logo após o assassinato, Dióscoro teria sido atingido por um raio, fenômeno que consolidou a imagem da santa como protetora contra tempestades, trovões e acidentes envolvendo fogo e explosões.
Quem é Iansã?
Nas religiões de matriz africana, Iansã, também chamada de Oyá, é a poderosa orixá dos ventos, das ventanias, dos raios e do movimento. Guerreira, intensa e irreverente, é considerada a senhora da transformação, das mudanças e dos espíritos dos mortos (eguns). No candomblé, é representada pelo vermelho e amarelo, cores que simbolizam sua força e dinamismo.
Iansã é vista como uma figura feminina que rompe barreiras, enfrenta batalhas e abre caminhos. Suas histórias (itans) narram sua coragem, seus amores com Xangô e sua íntima relação com os fenômenos da natureza.
Como surgiu o sincretismo entre Iansã e Santa Bárbara
Durante o período da escravidão, povos africanos trazidos ao Brasil foram proibidos de praticar livremente seus cultos. Para preservar suas divindades, os escravizados passaram a associar orixás a santos católicos cujos atributos fossem semelhantes. Assim, Iansã foi sincretizada com Santa Bárbara devido à afinidade com os fenômenos elétricos e com a força destruidora das tempestades.
Essa associação permaneceu com o passar dos séculos e hoje faz parte das tradições religiosas brasileiras, especialmente em estados como Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão.
Celebrações pelo país
As homenagens a Iansã e Santa Bárbara costumam movimentar milhares de fiéis. No candomblé e na umbanda, são realizados xirês, oferendas, danças e procissões, que incluem comidas típicas como acarajé e acarajé de Santa Bárbara, costume especialmente forte em Salvador. No catolicismo, missas, procissões e novenas celebram a vida da mártir.
Em muitas cidades, as comemorações se misturam: devotos participam tanto das cerimônias católicas quanto das de matriz africana, reforçando a convivência entre as tradições e a identidade plural brasileira.
Simbolismo atual
Mais do que uma coincidência de datas, o dia 4 de dezembro é visto como um momento de reafirmação do respeito à diversidade religiosa. Especialistas lembram que o sincretismo não significa fusão das crenças, mas uma estratégia histórica de resistência cultural e espiritual.
Para muitos devotos, Santa Bárbara representa força, proteção e coragem, enquanto Iansã simboliza transformação, movimento e liberdade, atributos que, apesar das diferenças culturais, seguem inspirando gerações.
Assim, a data continua sendo celebrada como um marco de fé, história e identidade, reunindo diferentes expressões religiosas sob o mesmo sentimento de devoção.
