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Desenvolvimento econômico e humano

Moradores do bairro Praça 14 falam sobre como percebem o cenário de saneamento e habitação da cidade de Manaus nos últimos 20 anos (Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real/2019).

“Como vos acho pobres de vida quando achais que economia é a virtude por excelência!” — Friedrich Nietzsche

Ser um país rico significa que seu povo de fato é rico? Viver entre as dez cidades com maior PIB do país significa que se vive com qualidade? Certamente para muitas pessoas viver em um país rico é sinal de que se vive bem, porém, podemos afirmar que necessariamente não é desta forma que ocorre. Em termos numéricos, o Brasil se encontra entre os dez países mais ricos do mundo, no entanto, se avaliado em termos humanos, a realidade não é bem esta.

Devemos sempre nos questionar sobre estes dados estatísticos, que são reais, mas, ao mesmo tempo, são o retrato de uma cada vez mais acentuada desigualdade social. Dentre as 10 cidades mais ricas do Brasil, Manaus ocupa o 5º lugar, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e Belo Horizonte. Mas, quando se trata de qualidade de vida, talvez a realidade seja outra.

Se ao sair de casa presencio problemas estruturais no funcionamento público, ruas esburacadas, violência crescente, pessoas vivendo nas ruas, fome e miséria, hospitais lotados, falta de saneamento, lixeiras viciadas, serviços de saúde e educação precários, já me pergunto o porquê de estar assim. Ao mesmo tempo, o que me vem em mente é exatamente que não se trata de recursos, não se trata de uma questão simplesmente econômica.

No retrato de nossa sociedade é evidente a desigualdade social, em que o crescimento econômico proporciona qualidade de vida apenas uma parcela da população, e não consegue solucionar ou reduzir consideravelmente a pobreza, ou melhorar a qualidade de vida da maioria.

A história de nosso país tem nos mostrado que mesmo com uma economia forte, um país pode ter problemas graves em educação, saúde e segurança, dificultando o progresso humano. Sem citar que o dito desenvolvimento econômico quase sempre se mantém às custas da voraz degradação ambiental sem uma política sustentável, prejudicando o bem-estar das gerações futuras.

O aumento da produção e do lucro nem sempre significa melhores salários ou condições de trabalho para os trabalhadores. Ele pode, sim, se configurar como uma fonte de injustiças humanas e sociais. De certa forma, pode-se afirmar que enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) mede a riqueza de um país, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) considera longevidade, acesso à educação e renda, mostrando uma visão mais ampla do progresso.

Há um discurso cada vez mais recorrente de que desenvolvimento se dá a partir de processos puramente legais e técnicos no campo da economia. No entanto, a economista e professora Maria da Conceição Tavares afirmava que “Uma economia que não se preocupa com a justiça social só contribui com a brutal centralização de renda que condena os povos a pobreza e a miséria”.

Mas, de fato, o que significa ter qualidade de vida? Podemos em poucas palavras afirmar que qualidade de vida significa viver com bem-estar físico, mental e social, garantindo acesso a condições básicas como saúde, educação, moradia, segurança e lazer. Para isso, é necessário elaborar políticas que garantam que o crescimento econômico seja acompanhado de justiça social, inclusão e sustentabilidade.

Ou seja, não se trata apenas de aspectos materiais e monetários, mas inclui satisfação emocional, autonomia e dignidade, permitindo que cada indivíduo viva de forma plena e significativa. Afirmar que desenvolvimento econômico significa desenvolvimento humano não seria correto porque o crescimento da economia de um país ou região não garante, por si só, melhorias na qualidade de vida da população.

Para nós é necessário e urgente estar atentos à qualidade dos serviços prestados pelo poder público, às principais diretrizes econômicas adotadas, bem como ao ideal de qualidade de vida que desejamos para nós mesmos, das formas e métodos que empregaremos para chegar a este objetivo. Qualidade de vida não se mede apenas economicamente, mas se trata de uma questão humana, individual e social, política e econômica, portanto, uma tarefa em que todos devem responsavelmente se envolver.

Por Sérgio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

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