A análise histórica da macroeconomia aponta que não há caminho para a recuperação de uma crise sem que haja “a mão que aciona o motor”. A referência à teoria econômica do birtânico John Maynard Keynes, que voltou à moda por conta da pandemia de covid-19, é a defesa do economista Armando Clóvis, professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), para a recuperação da economia brasileira.
Durante o programa Economia em Debate, parceria entre a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), ele afirmou que ao defender o corte de gastos, o Governo Federal diminui o dinheiro circulando na economia. “Isso seria eficaz apenas para diminuir o déficit público, mas não para recuperar a economia. À medida que você causa esse problema, causa desemprego, aumenta a demanda por seguro-desemprego, entre outras necessidades”, explica.
Ele explica que a economia brasileira vivencia uma depressão, caracterizada, entre outras coisas, por altas taxas de desemprego, durante longos períodos; falências em cadeia; e queda significativa na produção e na renda nacional.
“Existem dois tipos de crise: a recessão e a depressão. Na economia capitalista, tivemos três momentos como esse na história: 2008, 1970 e 1930. Na crise de 2008, se o governo não injetasse dinheiro na economia, não ia se recuperar. Em 2014 o Brasil entrou em recessão que acabou desencadeando para um processo de depressão com a queda vertiginosa nos investimentos privados. Percebemos isso pelo nível do PIB que caiu bastante e o aumento do desemprego. Ainda não recuperou porque há uma desconfiança do setor empresarial. Daí a importância do investimento do setor público”, disse.
O crescimento registrado antes da pandemia, de 1,1%, segundo ele, é comum nesse cenário de depressão, que apresenta pequenos ‘altos’ e longos períodos de ‘baixos’, e reflete que as políticas de reforma adotadas até então – como a trabalhista e previdenciária – não serviram para atrair a confiança do empresariado e para a geração de empregos.
“Nos anos 90, Tivemos um processo de desindustrialização com todas as reformas e terminamos a década com inflação alta e crescimento baixo. O período em que a economia brasileira cresceu um pouco mais foi de 2002 a 2008. Em 2014, o desemprego estava em torno de 5%. A política que a presidente Dilma adotou foi contrária ao que a elegeu. Adotou a austeridade, começou a cortar gastos. Depois do impeachment, aprovou-se o teto dos gastos, aprovou a reforma trabalhista e, desde lá, o desemprego está em torno de 12%. O IBGE apontou para uma perspectiva de 18%, a FVG aponta para 19%”, afirmou.
Armando Clóvis defende ainda a proposta de uma renda cidadã, voltada à redução da desigualdade histórica do País. “A literatura econômica afirma que a função econômica do governo, entre elas, é a função distributiva, uma vez que o mercado sozinho não consegue, falha. Isso é histórico, o presidente Rosevelt (EUA), em 1932, adotou a política de renda mínina para os vulneráveis. No Brasil, em 1970, tivemos o chamado ‘Milagre econômico’, com crescimento de 11% mas a maior desigualdade de renda. Portanto, não é só questão de crescimento”, explicou.
Para ele, neste momento, “só tem uma saída: o investimento público”. “O Brasil está na contramão do que é recomendado até por organismos internacionais como FMI – Fundo Monetário Internacional -, uma instituição conservadora, de política ortodoxa”, afirmou.