*Da Redação do Dia a Dia Notícia
A disputa entre os bois Garantido e Caprichoso ocorre, anualmente, desde 1965, no município de Parintins (AM), localizado a cerca de 420 quilômetros de Manaus, capital amazonense, e faz divisa com o Pará. O Festival Folclórico de Parintins é marcado pela diversidade da cultura brasileira, sobretudo a nortista, e tem elementos das culturas indígena, africana e europeia. A festa é tombada como Patrimônio Cultural do Brasil.
A origem do festival foi em 1913, quando os bois brincavam fazendo pequenas apresentações nas ruas de Parintins. A brincadeira se popularizou e ganhou características próprias, incorporando as lendas e rituais das etnias indígenas e da cultura popular da Amazônia.
O primeiro festival foi realizado em 1965 com objetivo de arrecadar fundos para a construção da catedral de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins. No primeiro ano, 22 quadrilhas se apresentaram, sem a presença dos bois. Somente no ano seguinte que os bumbás participaram.
Em 1988 foi construído o Bumbódromo, com capacidade para cerca de 25 mil pessoas. A arena é dividida ao meio e nos dias da apresentação, a torcida (chamada de “galera”), fica em completo silêncio no momento da apresentação do boi adversário.
Lenda dos bois
Com músicas tradicionais, folguedos e fantasias bem elaboradas, a festa encena uma lenda antiga, que perdura até os dias de hoje pela oralidade, sendo contada de geração em geração.
A história do bumba meu boi narra as peripécias de um casal prestes a ter um filho. Quando a mãe, Catirina, tem desejo de comer língua de boi, seu marido, pai Francisco, sacrifica o animal favorito do patrão, que se enfurece e faz juras de morte ao empregado. Aí entra em cena o Pajé, que salva a vida do esposo de Catirina ressuscitando o boi antes que a tragédia se concretize.
Nessa breve reconstituição do conto, deparamos com diversos elementos populares em jogo, sobretudo os relacionados à cultura da Região Norte do país: os povos originários, as criações de gado, as tradições, a culinária e os elementos folclóricos.
Essa fábula é encenada há mais de 100 anos, momento em que se firmou uma rivalidade determinante para a festa de Parintins. O embate entre o Boi Caprichoso e o Boi Garantido remonta ao início das representações pelas ruas parintinenses.
O primeiro boi a entrar em cena foi o Garantido, em 1913. Alguns anos depois, apareceu o Galante, hoje conhecido como Caprichoso. Cada um deles é caracterizado por uma cor. O primeiro ostenta o vermelho, e o segundo, o azul.
56º Festival Folclórico de Parintins
Após 55 edições, o Garantido possui 32 títulos e o Caprichoso 25 – sendo um empate com título para cada um – o boi azul e branco busca seu bicampeonato na edição de 2023, assim como o boi vermelho quer seu destaque novamente na arena e com a galera após instabilidades da direção do bumbá. Este ano, o resultado será divulgado nesta segunda-feira, dia 03.
A festa
Os bois Caprichoso e Garantido se apresentam todas as três noites do evento e a ordem é definida por sorteio. Cada apresentação dura no máximo 2h30.
Os bois são avaliados a cada noite por uma comissão formada por nove jurados, que são selecionados em vários estados do Brasil. Ao total, 21 itens são julgados divididos em três blocos.
Itens dos bois:
Amo do Boi: É o dono da fazendo e o dono do boi, é ele quem dá as ordens aos vaqueiros para proteger seu boi mais querido. É ele quem inicia o festival dando as boas vindas e tirando os versos para apresentar e cantar ao público.
Levantador de Toadas: é o responsável pelas músicas cantadas no festival, ele precisa estar afinado com a galera e manter um sincronismo na apresentação das toadas.
Bumbódromo: Arena construída especialmente para a realização do evento, o mesmo tem o formato da cabeça de um boi. Em 2014 foi ampliada e aumentou sua capacidade.
Batucada: é o grupo de percussão do boi Garantido
Boi Bumbá ou Bumba meu boi: originalmente trazido do nordeste brasileiro pelos seringueiros que brincavam nos terreiros de seus alojamentos, aos poucos foi introduzido no folclore amazonense até se tornar a principal forma de expressão do caboclo amazônico.
Contrário: Modo como os bois (simpatizantes) se tratam em Parintins, geralmente não se chamam pelos nomes, como Garantido e Caprichoso e sim contrário.
Porta Estandarte: Representa o símbolo do Boi em movimento. Ela deverá ter garra, desenvoltura, elegância, alegria e sincronia de movimentos entre o bailado e o estandarte.
Cunhã-poranga: Representa a moça bonita, uma sacerdotisa, guerreira e guardiã. Expressa a força através da beleza. Deve possuir desenvoltura e incorporar a personagem.
Rainha do Folclore: Representa a expressão do poder, pela manifestação popular. Deve possuir graça, movimentos com desenvoltura, incorporação, indumentária.
Tribos: Grupos indígenas que se apresentam na arena.
Pajé: O Pajé é o senhor da cênica feitiçaria e representa a cultura indígena na área.
Figura típica: Personagem do boi, lenda Amazônia ou alguma referência ao folclore brasileiro, por exemplo: Bicho folharal, Dona Aurora, Neguinho do Campo Grande e outros.
Galera: Torcida, item de grande importância pois conta pontos nas apresentações, seu ritmo e sincronia são responsáveis por animar o festival.
Marujada de Guerra: Nome dado ao grupo rítmico composto por tambores e outros instrumentos do Caprichoso. No Garantido é a Batucada.
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