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Confrontos com a polícia israelense em Jerusalém deixam 331 palestinos feridos

A escalada de violência em Jerusalém durante o mês do Ramadã, em meio à expectativa do veredicto sobre o despejo de quatro famílias palestinas da parte oriental da cidade, teve seu pior dia nesta segunda-feira. Segundo o Crescente Vermelho, ao menos 331 palestinos ficaram feridos e 250 precisaram ser internados, sete em estado crítico, durante os confrontos com a polícia israelense pela manhã na mesquita de al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para o Islã, conforme a reportagem do O Globo.

Nas redes sociais, circulam imagens da polícia lançando gás lacrimogêneo e balas de borracha, incluindo dentro de mesquitas, enquanto palestinos atiravam pedras. Segundo as forças de segurança, ao menos 21 policiais ficaram feridos e três deles foram internados. À noite ocorreram novos enfrentamentos, e testemunhas dizem que há feridos, sem estimar a gravidade. Como nos choques ocorridos pela manhã, os manifestantes lançaram garrafas e pedras, e a polícia respondeu com bombas de gás.

O grupo islamista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou vários foguetes contra Israel entre a madrugada de domingo e a tarde deste segunda, “em resposta à agressão do inimigo na cidade sagrada”. Segundo os israelenses, um carro foi atingido no sul do país, e uma pessoa ficou ferida. Em represália, Israel bombardeou regiões de Gaza, e segundo o Ministério da Saúde do território, 20 pessoas foram mortas, incluindo nove crianças.

Trata-se de uma das ondas de protestos mais fortes na região desde a Segunda Intifada (2000-2005), com mais de 500 palestinos feridos desde sexta-feira.  A nova revolta ocorre quando a mobilidade dos palestinos é bem menor, por causa do muro que Israel construiu entre seu território e a Cisjordânia ocupada. O muro, cuja linha extrapola o território israelense oficialmente reconhecido, dividiu bairros árabes de Jerusalém e diminuiu a ligação entre a cidade e localidades palestinas vizinhas.

A situação será debatida no Conselho de Segurança da ONU nesta segunda, enquanto os Estados Unidos, a União Europeia e o Papa Francisco fazem apelos para que o governo de Benjamin Netanyahu reduza as tensões.

Já se temia um agravamento da situação nesta segunda: os israelenses comemoram hoje o Dia de Jerusalém, aniversário da ocupação do setor oriental, ou árabe, de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, junto com a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Israel declarou unilateralmente toda a cidade de Jerusalém como sua capital, citando elos históricos e bíblicos, status não reconhecido internacionalmente.

A Autoridade Nacional Palestina reivindica o setor árabe da cidade como a capital do seu futuro Estado. Os palestinos, tal qual uma série de organizações defensoras dos direitos humanos, denunciam várias políticas de Estado israelenses projetadas para aumentar sua presença na cidade, como demolições de casas de palestinos.

Violência dentro das mesquitas

Para evitar confrontos, a polícia havia proibido a passagem de israelenses para a Esplanada das Mesquitas — área sagrada que os judeus chamam de Monte do Templo. Os organizadores também cancelaram uma marcha sionista anual, nas quais grupos conservadores desfilam com bandeiras de Israel, cerca de meia-hora antes do seu início e “cederam à polícia” a responsabilidade pelas milhares de pessoas que já estavam reunidas esperando o começo do evento. Mais cedo, o percurso da passeata havia sido alterado para não passar pelo setor muçulmano ou pelo Portão de Damasco.

As táticas das forças de segurança israelenses contra os palestinos são alvo de críticas. Há cenas de pessoas sendo presas dentro de mesquitas, enquanto outras se protegiam do gás lacrimogêneo e das balas de borracha. Em um tuíte, Ofir Gendelman, porta-voz de Netanyahu, disse que “palestinos extremistas” haviam planejado a “rebelião” com antecedência

Perto da Esplanada, um carro que transportava israelenses foi alvo de pedradas e perdeu o controle, avançando sobre palestinos, que atacaram o veículo quando ele parou. A confusão só chegou ao fim após um policial atirar para o alto. Também há imagens de um jornalista da agência de notícias turca Anadolu sendo agredido por policiais e preso em seguida.

O Hamas deu um “ultimato” para que Israel retirasse suas forças de segurança de al-Aqsa até 18h (11h, horário da Brasília). Após o fim do prazo, mais mísseis contra o território israelense foram lançados pelo grupo. O Exército israelense suspendeu por um dia seus maiores exercícios militares em 30 anos para focar na preparação para uma possível escalada da crise.

Jerusalém tem sido uma panela de pressão durante todo o mês do Ramadã, que chega ao fim na quarta-feira. Bloqueios ao acesso de palestinos à Cidade Velha, marchas de israelenses de extrema direita pedindo “morte aos árabes” e o reforço do policiamento em áreas muçulmanas ajudaram a aumentar a tensão, mas o ponto principal de discórdia diz respeito ao despejo das quatro famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental.Forças de segurança israelenses brigam com manifestante palestino no Portão de Damasco, na Cidade Velha de Jerusalém. Israel prometeu restaurar a ordem em Jerusalém depois que centenas de manifestantes palestinos foram feridos em fim de semana de confrontos com as forças de segurança israelenses uma audiência importante no tribunal sobre uma disputa de propriedade de ponto crítico foi adiado Foto: MENAHEM KAHANA / AFPForças de segurança israelenses brigam com manifestante palestino no Portão de Damasco, na Cidade Velha de Jerusalém. Israel prometeu restaurar a ordem em Jerusalém depois que centenas de manifestantes palestinos foram feridos em fim de semana de confrontos com as forças de segurança israelenses uma audiência importante no tribunal sobre uma disputa de propriedade de ponto crítico foi adiado Foto: MENAHEM KAHANA / AFP

Sheikh Jarrah

A Suprema Corte deveria ter decidido nesta segunda se permitiria um recurso dos palestinos ou se manteria a decisão de expulsar as famílias. No domingo, contudo, aceitando um pedido do procurador-geral Avichai Mandelblit, que deseja participar dos procedimentos, o tribunal adiou o veredicto para algum momento nos próximos 30 dias.

As quatro famílias palestinas afirmam que vivem na região desde 1950, quando foram realocadas pela Jordânia após serem forçadas a abandonar suas casas em Jerusalém Oriental e Haifa durante a guerra com os vizinhos árabes que se seguiu à criação do Estado de Israel, em 1948.

Os moradores israelenses, por sua vez, dizem que compraram as propriedades legalmente de duas associações judaicas que as haviam adquirido no final do século XIX. Pela lei local, se os judeus puderem provar que sua família vivia em Jerusalém Oriental antes de 1948, teriam o “direito à propriedade”. Se o objetivo do governo era que o adiamento acalmasse os ânimos, não foi isso que ocorreu.

O temor é que o despejo das famílias abra precedentes para outros despejos: a ONU alertou na semana passada que a expulsão pode ser um “crime de guerra”. O governo americano expressou preocupação com a possibilidade de expulsão, tal qual os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão — países árabes que normalizaram as relações com Tel Aviv. Netanyahu, contudo, insiste no direito israelense de construir no território ocupado:

— Nós rejeitamos firmemente a pressão internacional para não construir em Jerusalém. Para minha tristeza, ela vem aumentando ultimamente — disse o premier no domingo. — Jerusalém é a nossa capital e, como toda nação constrói em sua capital e a aumenta, nós também temos o direito de construir em Jerusalém e construir Jerusalém. É isso que nós temos feito e isso que continuaremos a fazer.

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