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As mulheres conquistaram o mundo!

Logo após a Declaração dos Direitos do Homem, resultante da Revolução Francesa, a ativista Olympe de Gouges escreveu em 1791 a sua memorável “Declaração dos Direitos da Mulher”. Sim, a luta por direitos e igualdade é antiga. Mas foi nos anos 1960, dentre tantas reivindicações sociais, que o feminismo ganhou popularidade, e se posicionou entre as discussões sociais mais acaloradas dos últimos 60 anos.

Minha reflexão hoje não gira em torno de uma proposta feminista, mas não deixa de se debruçar em torno da questão de gênero, das inúmeras desigualdades presentes nas relações entre homens e mulheres, como do desenvolvimento do feminismo não somente como uma forma de vida prática, mas com ideologia sólida e fundamentada.

Desenvolver uma reflexão sobre a mulher como do seu papel no mundo, de seu lugar na sociedade, de seu papel na educação de nossas crianças, de seu papel no processo educacional brasileiro. O fato é que mesmo diante de situações reais que evidenciam a importância da mulher na sociedade, lamentavelmente ainda podemos nos deparar com estatísticas desfavoráveis quanto à participação das mulheres no cenário político e social. E o que é mais triste, o fato que o Brasil se encontra entre os dez países com os maiores índices de violência contra as mulheres.

Falar de mulher no Brasil é falar de 52% da população. Porém, quando se trata dos cargos políticos elas ocupam pouco mais de 15%. Outro número recentemente divulgado na Educação no Estado do Amazonas relata a participação de 70% de mulheres nos cargos de direção, de coordenação e docência, o que relega os homens a uma minoria. Elas são a maioria também na área da saúde, representando 65% do total.

Já neste ano, a reaplicação do ENEM realizada no mês de março trouxe como tema da redação o “Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil”, evidenciando claramente a necessidade de se repensar a participação das mulheres na nossa história, na cultura e na construção de nosso país, bem como em refletir sobre que tipo de tratamento a sociedade brasileira oferece às suas mulheres. O ato de reconhecer soa praticamente como um “pedido de perdão” quanto à desvalorização da mulher brasileira e de sua contribuição na construção e desenvolvimento brasileiro que já coleciona inúmeros fatores negativos.

Se lançarmos um olhar para a história da evolução humana, perceberemos o curioso fato de que estamos todos ligados em uma única árvore genealógica. Trata-se da herança mitocondrial, que é passada geração após geração somente por mulheres. O mais interessante é que esta descoberta científica no campo da Genética sugere uma releitura filosófica e sociocultural do lugar da mulher em nosso mundo, em nossas culturas e sociedades contemporâneas e de seu verdadeiro papel e legado na história da humanidade.

A Eva Mitocondrial, como foi chamada pela cientista geneticista Rebecca Cann, perpassa uma das ideias que mais me fazem refletir, não por ser algo aterrador, mas porque, em minha pobre visão venha a se tratar de algo pertinente e bastante urgente em nossos dias, em nossas sociedades: por que para este ser tão importante e essencial foi dado um lugar inferior, apagado e sem o devido destaque? Como pode ser tão desvalorizada aquela que detém um lugar fundamental no processo biológico da evolução humana? Mulheres/fêmeas/mães amamentam, cuidam, protegem, dão a vida, assumem as responsabilidades, educam, curam. Mas, veremos mulheres usadas como objeto sexual, realizando pesados trabalhos domésticos, mulheres abandonadas que deram duro para criar e educar seus filhos, mulheres que possuem uma grande resistência e força, as mulheres espancadas, as Marias da Penha, violentadas, assassinadas por seus companheiros…

Muitas de nossas sociedades sempre evidenciaram o papel do homem como o chefe, o dono, o senhor, o pai, o provedor, o forte, o sábio, o viril, o fértil, aquele que comanda e que decide. Fatores estes que tiveram como consequência o fato de que as mulheres ficaram em segundo plano. Ditos como “por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher” evidenciam esta ideologia patriarcalista e machista que privilegia os feitos masculinos em detrimento do importante e fundamental papel da mulher.

Por que tudo para as mulheres em nossa sociedade é tão difícil? Por que tudo exige mais sacrifícios da mulher? Vivemos em um mundo social que não foi pensado para as mulheres brilharem. Este mundo é dos homens, feito para eles, e para que eles sejam os heróis. A estrutura social favorece os homens em todos os sentidos. E não às mulheres, não ao “sexo frágil”.

Há uma dívida social para com as mulheres, o que fazer? Há muito que mudar e reestruturar: nossa educação, elementos culturais e religiosos, leis, sistemas políticos, direitos civis, cidadania, valores morais e éticos. Acredito que em cada setor, em cada instância social, nas escolas de um modo especial, cada profissional, cada pessoa, cada cidadão, principalmente nós homens, tenhamos uma parcela importante na responsabilidade de mudar este quadro.

A mulher sempre esteve conosco, sempre foi protagonista, mas nem sempre reconhecida, nem sempre destacada. E a mudança é urgente e necessária, e tudo o que vier a tornar mais igualitária e menos desigual a vida de nossas mulheres deverá ser feito por todos nós e “pra ontem”.

Por Sérgio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

 

 

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