Amor: caminho para a vida feliz

Estimados leitores e leitoras, quanto já se escreveu e refletiu sobre o amor e o ato de amar. Acredito que cada reflexão, cada palavra, cada pensamento coerente venham nos auxiliar para a vivência deste sentimento-atitude tão precioso para nós seres humanos.

Amar é algo tão necessário para nós que é carinhosamente atribuído a uma dádiva, a uma força divina e muitas são as literaturas religiosas que carregam dentro de si a bondade-amor divinos no ato da criação, das origens do cosmo, da natureza e até mesmo da humanidade.

Existem muitas ideias e reflexões ao longo da história humana que nos aproximam de atitudes que fazem-nos pensar em amor, em ajuda mútua, em serviço, em caridade e na misericórdia, no dar de coração sem olhar a quem, no Bem-Comum. Acredito que estas maneiras de olhar este sentimento, esta atitude nos coloquem sempre em um caminho, o caminho do Bem Maior.

É interessante observar como já nas primeiras reflexões filosóficas na Grécia Antiga os pensadores Naturalistas pré-socráticos, aos tentar compreender a origem ou princípio natural, que eles denominavam “archè”, tenham chegado a ideias concernentes ao dinamismo da natureza e a suas leis Universais.

Desta maneira o filósofo Empédocles, da corrente pluralista (filósofos que atribuíram a vários elementos a origem de tudo) desenvolve a ideia de que a força que agrega tudo o que existe seria o amor, e que a força desagregadora seria o ódio. São conceitos que tentam expressar claramente um dinamismo natural, uma lei eterna que faz parte do funcionamento de todo o universo.

Ou seja, para Empédocles, observando que a natureza continha quatro elementos primordiais, presentes em todas as transformações, a causa fundamental que provocava a reunião ou separação destes elementos era extrínseca a eles, de maneira que para este filósofo, o Amor e o Ódio são os dois elementos universais que proporcionam o movimento de reunião e separação das substâncias.

Outros pensadores ao longo da história trouxeram esta discussão sobre o amor de maneira a tentar explicar sua importância para a nossa existência, bem como do dever que cada ser humano teria de abraçar o amor como uma regra fundamental para a vida. É possível encontrar nas palavras de grandes líderes religiosos estes princípios: no “amai-vos uns aos outros de Jesus Cristo”; no “ama e faze o que quiseres” de Agostinho; na não-violência de Mahatma Gandhi; no amor contido no “eu tenho um sonho” de Luther King, na dignidade da vida presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, entre tantos outros.

Acredito que a reflexão se faça possível na chamada de atenção que em vários momentos de nossa história esses e outros líderes influenciadores estejam apontando suas ideias e atitudes, sua práxis de vida e seus ensinamentos para um caminho: do respeito pela vida, do respeito pelo outro, bem como da necessidade de nos unirmos para solucionar nossos maiores problemas e repensar o futuro.

É muito apropriada a ideia de Empédocles de que a força “ódio” seja aquilo que nos leve a uma desagregação, uma separação, desintegração, em outras palavras, a uma total desunião. Como temos presenciado atitudes de ódio, pensamentos de ódio, financiamento de guerras, a ‘deletação’ do outro tem feito parte de nossas atitudes. Hoje é muito fácil eliminar e matar por motivos banais. Momento em que os preconceitos e atitudes intolerantes ganham mais força, e as consequências são para nós, terrivelmente dramáticas. E aqueles nossos antigos questionamentos voltam a povoar nossas mentes: Para onde estamos indo? O que estamos fazendo com a vida? Por que e para que tanto ódio?

O pensador contemporâneo Zygmunt Bauman chama atenção para o fenômeno da “modernidade líquida”, em que reflete sobre a dramática realidade em que nos encontramos, de valores passageiros, pouco duradouros. Bauman, em seu livro Ética Pós-Moderna conclama a sociedade para a necessidade de refazer seus valores éticos em vista de dias melhores.

Outro pensador não menos importante é Edgar Morin que trata destas realidades através de seu conceito de “ética da compreensão” como sendo aquela atitude urgente, pertinente e necessária que nossas relações humanas devam se fundamentar. Compreender é uma atitude de quem se desligou do posicionamento intolerante e egocêntrico e que passa a olhar o outro como parte da solução e não do conflito.

Sim, precisamos rever nossos princípios e atitudes. Não basta olhar somente para si, não basta desejar o bem próprio ou mesmo o amor próprio. Como bem refletiu o psicanalista brasileiro Flávio Gikovate em seu livro Mudar, amar não é um voltar-se para si, mas é acima de tudo algo que transborda, que vai sempre ao encontro de outro.

Se faz necessário refletir: Para onde o ódio e o egoísmo estão nos conduzindo?

Concluo esta breve reflexão com a contribuição de Agostinho: “Ama e faze o que quiseres”. Pois tudo o que fizermos por amor, tudo o que fizermos de bom, será algo bom não para nós mesmos, mas se fará presente na vida de outras pessoas. Um médico apaixonado pelo que faz, um professor, uma educadora, um sacerdote, uma mãe, qualquer pessoa que desenvolve seu fazer com amor, será alguém que emana amor para outras pessoas, para o mundo, para a humanidade. Pense nisso!