A Organização Mundial da Saúde (OMS) se reuniu em caráter de emergência nesta terça-feira por conta das suspeitas em relação à vacina desenvolvida pela Oxford/AstraZeneca. Mas optou por aguardar por mais dados das pesquisas sobre os supostos casos de trombose identificados em pessoas que tinham sido vacinadas, antes de tomar uma decisão final sobre o imunizante, conforme a matéria do UOL.
Fontes que estiveram no encontro fechado entre técnicos e pesquisadores revelaram à coluna que a opção foi por esperar até o final das investigações europeias, para então assumir um posicionamento definitivo. A previsão é de que isso poderia ocorrer na quinta-feira.
Principal aposta do governo federal brasileiro para a campanha de vacinação contra a covid-19, a vacina passou a ser alvo de polêmica, depois que diversos países europeus optaram por suspender o uso das doses de forma provisória. Entre eles estavam a Itália, Alemanha e França.
O Ministério da Saúde alemão, por exemplo, indicou que as autoridades locais “consideram necessária mais investigação após novos relatos de trombose cerebral em conexão com a vacinação na Alemanha e na Europa”. Em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, também tomou a decisão de suspender o uso da vacina, até que seja esclarecida a relação entre os casos de coágulos e as doses. Ele, porém, espera que a vacinação seja retomada rapidamente
O principal argumento das autoridades nacionais é de que precisam aguardar para saber se casos de coágulos de sangue em pessoas vacinadas teriam alguma relação com o imunizante.
Nesta terça-feira, a Agência Europeia de Medicamentos confirmou que está investigando cada um dos casos registrados pelos países europeus. Mas também apontou que voltaria a se reunir na quinta-feira para apresentar suas conclusões finais e tomar ações.
“Não podemos chegar a conclusões sem uma análise científica”, defendeu a agência. A entidade, porém, voltou a repetir que, pelo menos por enquanto, “não existem indicações de que a vacina tenha causado” os casos de trombose.
Segundo a agência, não houve qualquer sinal desses efeitos colaterais durante os testes clínicos e a trombose sequer estaria na lista de eventuais impactos secundários. De acordo com os europeus, os números de coágulos registrados não seriam maiores entre os vacinados, em comparação ao restante da população.
Após a declaração da agência, tanto as autoridades francesas como italianas comemoraram as sinalizações dos técnicos.
Enquanto isso, nos países que suspenderam as doses, a decisão levou a um cenário de confusão, com centros de vacinação sendo obrigados a fechar e cancelamento de imunizações já marcadas. No setor financeiro, a medida teve repercussões, com analistas apontando para o risco de um adiamento na recuperação econômica da Europa.
Já no início da semana, a OMS havia alertado que continuava a recomendar a vacinação
. “Vários países suspenderam a vacina”, disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, ainda na segunda-feira. “Isso não quer dizer que os casos de coágulos estão relacionados com as vacinas. Mas é a rotina controla-los”, indicou.
Antes do pronunciamento de Tedros, o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, disse, pelo menos até hoje, “não existem evidências de que os incidentes sejam causados pela vacina, e é importante que as campanhas de vacinação continuem para que possamos salvar vidas e conter doenças graves do vírus”.
Mariângela Simão, vice-diretora da OMS, explicou que a entidade está em contato com as agências nacionais e com a UE e acredita que uma decisão possa ser tomada ainda nesta semana.
“Não parece que temos mais casos de trombose que na população geral”, disse. Em sua avaliação, a recomendação é de que ainda há mais benefícios em vacinar que os riscos que a dose supostamente poderia gerar.
Ela também destaca que os problemas encontrados estão com doses fabricadas em plantas europeias, e não com as linhas de produção na Índia ou na Coreia do Sul, onde a vacina da Oxford também é fabricada.
Soumya Swaminathan, cientista chefe da OMS, diz que, por enquanto, não se viu uma relação entre os incidentes registrados e a vacina. Segundo ela, a taxa de casos de trombose é até mesmo mais baixa que no restante da população.
“Das mais de 300 milhões de doses aplicadas, não há sequer uma morte documentada ligada à vacina. E tivemos mais de 2,5 milhões de mortes pela covid-19. Não queremos que as pessoas entrem em pânico e continuamos recomendando para que a vacinação seja mantida”, completou.