A brasileira Mondial, líder na fabricação de produtos eletroportáteis, comprou a fábrica da japonesa Sony, na Zona Franca de Manaus. Com a aquisição, a empresa estreia na produção de televisores, fornos de micro-ondas e aparelhos de ar-condicionado já no segundo semestre do ano que vem. Vai enfrentar nesse mercado concorrentes de peso, como as coreanas, LG e Samsung, e a americana Whirlpool. O valor do negócio, que envolveu apenas os ativos da companhia japonesa – a fábrica de 27 mil metros quadrados de área construída, laboratórios e equipamentos –, não foi revelado. A marca Sony não entrou na transação.
Depois de quase cinco décadas no País, em setembro deste ano a Sony decidiu encerrar as atividades da unidade na Zona Franca. Nessa fábrica eram produzidos televisores, entre outros eletrônicos. Essa unidade chegou a ser considerada uma das melhores fábricas da empresa no mundo. Procurada, a Sony confirma a venda dos ativos de Manaus e ressalta que o negócio deverá ser submetido à “devida anuência dos órgãos competentes”. Como a unidade está em Manaus, a transação precisa passar pelo crivo da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
Giovanni Marins Cardoso, sócio-fundador da Mondial, conta que a companhia já tinha planos de começar a produzir micro-ondas em 2022, aparelho de ar-condicionado em 2023 e televisores em 2024. Para isso, estava procurando um terreno para instalar uma fábrica maior em Manaus. Desde 2014 a empresa tem uma pequena unidade na Zona Franca, onde são produzidos DVDs, caixas de som acústicas de média e alta potência, boombox e outros produtos da linha de áudio e vídeo.
Com a compra da fábrica, o executivo quer dobrar a capacidade de produção das linhas de áudio e vídeo que já faz em Manaus, especialmente caixas de som, e acelerar a estreia na fabricação de itens que são os pesos pesados das linhas marrom e branca, como TVs, aparelhos de ar-condicionado e forno de micro-ondas. “Vamos fazer em seis meses o que estava previsto para três anos”, afirma.
A fábrica começará a ser operada pela Mondial a partir de 1º de fevereiro. Segundo Cardoso, o negócio não envolveu os cerca de 200 trabalhadores da Sony alocados nessa unidade. O executivo explica que os funcionários serão desligados pela Sony e poderão se candidatar ao processo de seleção que a Mondial vai abrir para recrutar 200 trabalhadores. “Não fechamos acordo com a Sony para manter os quadros.”
Além desse processo inicial de seleção, a companhia pretende abrir mais 200 vagas no segundo semestre de 2021 para a nova fábrica, por conta da expansão das linhas de produção. Na fábrica atual da Mondial em Manaus, há 240 trabalhadores.
Hoje, a produção de eletroportáteis da companhia está concentrada numa fábrica de 100 mil metros quadrados de área construída no município baiano de Conceição do Jacuípe, no Recôncavo Baiano. Nessa unidade há cerca de 3,5 mil trabalhadores.
Disputa
A estreia de uma empresa brasileira de eletroportáteis nas linhas de TV, forno de micro-ondas e aparelhos de ar-condicionado, dominadas por grandes multinacionais, promete ser uma briga boa. Cardoso lembra que, quando iniciou a companhia do zero, 20 anos atrás, as multinacionais dominavam o mercado de eletroportáteis. Hoje a companhia lidera com 36% do mercado de batedeiras e liquidificadores, entre outros eletroportáteis, e deve fechar o ano com quase R$ 3 bilhões de faturamento. “Acho que a empresa nacional tem vantagens em relação às multinacionais, pois está mais conectada com o mercado local e as decisões são mais rápidas.”
José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, considera o movimento da Mondial positivo. Para ele, isso mostra que, mesmo num momento de crise da economia, os investimentos estão acontecendo.
Ele lembra que é a segunda vez neste ano que a empresa faz uma grande aposta. Em maio, anunciou investimentos de R$ 47 milhões para ampliar a capacidade de produção da fábrica da Bahia e nacionalizar produtos importados. “Isso mostra que uma empresa brasileira é capaz de concorrer em outros setores onde há grandes players mundiais.” Ele lembra que essa trajetória, dos eletroportáteis para a produção de TVs, já foi feita também por outra brasileira, a Philco Britânia.