Leopoldo Luque, médico de Diego Maradona, foi acusado formalmente por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A informação foi publicada neste domingo (29) pelo jornal esportivo “Marca”.
Um juiz também autorizou a busca na casa e na clínica do médico. Luque terá de testemunhar perante o Ministério Público por suspeita de negligência médica nos últimos dias de vida do ex-jogador.
A promotoria busca respostas para a suspeita de que Maradona não teve alta médica quando foi transferido de uma clínica, após ser operado de tumor na cabeça, para a casa onde morreu, em Tigre (30 km ao norte de Buenos Aires).
A justiça argentina investiga se houve negligência em torno da morte de Maradona. Os procuradores buscam determinar se o astro recebeu os cuidados necessários e quais foram as circunstâncias de suas últimas horas, de acordo com a reportagem do G1
“Já existem irregularidades”, revelou à agência France Presse uma pessoa próxima à família nesta sexta-feira (27).
Ambulância demorou
Poucas horas depois de sua morte, Matías Morla, advogado e amigo de Maradona, denunciou na quinta-feira “que a ambulância demorou mais de meia hora para chegar à casa onde estava o [camisa] 10”. Por isso, ele avisou que irá “até o fim” para esclarecer o ocorrido.
Morla e parentes do ídolo argentino não foram à justiça em busca de esclarecimentos até agora, garantiu uma fonte judicial à AFP.
“A investigação foi iniciada porque é uma pessoa que faleceu em casa e ninguém assinou a certidão de óbito. Não quer dizer que haja suspeitas de irregularidades, mas é isso que está sendo apurado”, disse a fonte, que pediu anonimato.
O campeão do mundo na Copa de 1986 no México morreu na quarta-feira aos 60 anos devido a um “edema agudo de pulmão e insuficiência cardíaca crônica”. Maradona estava em casa, em um condomínio privado da cidade de Tigre, onde residia desde 11 de novembro, após ter recebido alta da clínica onde havia sido operado de um hematoma na cabeça seis dias antes.
O caso aberto pela Procuradoria Geral da República de San Isidro intitula-se “Maradona, Diego. Investigação da causa da morte”.
‘Contradição em depoimento’
“Temos que ver se cumpriram com seu dever ou se houve um relaxamento. A enfermeira [ que estava de plantão quando se constatou que o ídolo estava morto] relatou algo quando o procurador apareceu no dia da morte de Diego, posteriormente ampliou seu depoimento e, no final, foi à televisão dizer que lhe forçaram a falar, então há alguma contradição em seu depoimento”, explicou à AFP o parente de Maradona que pediu anonimato.
A procuradoria aguarda o resultado dos testes toxicológicos no corpo de Maradona. No âmbito da investigação em que trabalham três procuradores, foram solicitados seus prontuários médicos e os das câmeras do bairro onde morou seus últimos dias.
As últimas horas
A procuradoria já deu início ao interrogatório.
“Ficou estabelecido que [uma enfermeira encarregada de cuidar de Maradona] teria sido a última pessoa a vê-lo com vida por volta das 6h30 da manhã (quarta-feira), no horário da troca da guarda”, informou em comunicado a procuradoria.
Em depoimento prestado na quinta-feira, a enfermeira “referiu-se a tê-lo encontrado (Maradona) descansando em sua cama, garantindo que dormia e respirava normalmente”.
Até esta declaração, acreditava-se que a última pessoa que o tinha visto com vida teria sido seu sobrinho Johnny Herrera, às 23h30 da terça-feira, de acordo com seu depoimento.
Ou seja, quase 12 horas antes de sua morte. O fato indignou o advogado de Maradona, que denuncia uma “idiotice criminosa”.
Além disso, a enfermeira presente no momento do falecimento deu novo depoimento.
“Ela disse que por volta das 7h30 ela o teria ouvido se mover dentro do quarto”.
A princípio, a mulher, responsável pelo turno da manhã, havia dito que às 11h o viu dormindo e não queria incomodá-lo, preferindo esperar pela chegada marcada para o meio-dia da psiquiatra Agustina Cosachov e do psicólogo Carlos Díaz.
Foram Cosachov e Díaz que perceberam que Maradona não reagia, dando início ao chamado de socorro. Um médico da vizinhança tentou reanimar o ídolo.
A primeira ligação para a empresa do plano de saúde de Maradona foi feita às 12h17. Um minuto antes, uma ligação para o número de emergência (911) feita pelo médico pessoal de Maradona, Leopoldo Luque, foi gravada.
A primeira ambulância chegou às 12h27. A entrada de outras ambulâncias foi então observada, disse a procuradoria.
Saúde precária
A localização da casa onde Maradona fazia a reabilitação foi escolhida para que o ídolo ficasse perto das filhas.
Após a cirurgia, a recuperação estava indo bem, segundo seu médico. A saúde de Maradona, porém, era precária devido aos antecedentes cardíacos. Ele passava por uma abstinência de álcool, que costumava misturar com os muitos medicamentos prescritos que tomava.
“Diego teve alta e depois, embora a clínica recomendasse que ele fosse para outro local para ser internado, a família optou por outro lugar. Na verdade, as filhas assinaram a alta do hospital”, disse o parente da família.
A AFP tentou entrar em contato com seu médico, até agora sem resposta.
O campeão do mundo no México-1986, que esteve pelo menos duas vezes à beira da morte em 2000 e 2004, foi visto muito deteriorado no dia 30 de outubro, em sua última aparição pública no campo do clube Gimnasia, onde recebeu uma homenagem pelo aniversário de 60 anos.
O adeus
Na quinta-feira, uma multidão compareceu ao velório do ídolo na sede do governo argentino, a Casa Rosada, mas a cerimônia não durou o suficiente para que todos os admiradores de Maradona pudessem se despedir do ídolo, o que provocou incidentes nas ruas da capital.
Outras milhares de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre até o cemitério particular de Bella Vista, noroeste de Buenos Aires, onde o corpo de Maradona foi enterrado.