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Evento aborda desafios e oportunidades para o desenvolvimento de negócios sustentáveis na Amazônia

Primeiro dia do evento reuniu empresários, lideranças indígenas e comunitárias e investidores para falar sobre o ecossistema de impacto da região

*Da Redação do Dia a Dia Notícia 

Painéis com discussões sobre o futuro da Amazônia, desafios e problemas da região e os possíveis caminhos para o desenvolvimento de uma nova economia foram o destaque do primeiro dia do 2º FIINSA (Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia). O evento, que tem o objetivo de contribuir para o fortalecimento do ecossistema de impacto amazônico, segue até nesta quarta-feira (dia 30), no Studio 5 Centro de Convenções. Saiba mais em fiinsa.org.br.

Na programação do festival, estão previstas palestras, oficinas práticas, sessões de pitch, lançamento de projetos, feira de negócios, mercado com produtos sustentáveis da Amazônia e estande  de parceiros. A abertura do evento contou com a recepção do diretor de novos negócios do Idesam e CEO da AMAZ, Mariano Cenamo, e da cofundadora do Impact Hub Manaus, Juliana Teles. O líder indígena Tashka Yawanawa fez uma ‘bendição’ para o início do festival.

Amazônia Viva

O 2º FIINSA se iniciou oficialmente com a participação do co-fundador e co-presidente do conselho da Natura &Co, Guilherme Leal. Investidor de impacto com experiência em empreendedorismo com impactos positivos, reforçou a importância da participação de atores múltiplos e diversos para a construção de novos modelos de negócio na floresta.

“Temos um sonho grande para a Amazônia e isso só se dá quando nos juntamos com pessoas diversas e os atores locais assumem o protagonismo do enfrentamento dos desafios da região. Acredito que a Amazônia é a maior oportunidade para o Brasil criar um modelo de negócio sustentável, e isso só é possível através da inclusão social, e do desenvolvimento econômico. Não existe agenda verde sem melhoria da qualidade de vida das pessoas”, afirmou Leal.

Em seguida, o primeiro painel do dia trouxe o tema ‘Visão de futuro para a Amazônia e para o Brasil’. Os moderadores Mariano Cenamo e Juliana Teles guiaram os convidados por temas como sonhos para a Amazônia na próxima década, empreendedorismo indígena e prosperidade na região.

“Estamos numa região de superlativos, em um dos maiores patrimônios da humanidade, mas que infelizmente não gera dividendos para quem vive aqui”, comentou o painelista Denis Minev, diretor-presidente da Bemol. “Isso se dá pelo baixo grau de desenvolvimento dos nossos ‘cérebros’. Não foi investido aqui [na Amazônia]. Ninguém se desenvolve sem produtividade, e essa produtividade vem do empreendedorismo. É inspirador que tantos empreendedores estejam aqui nesse evento […] Meu sonho para a Amazônia é que esse futuro, que todos sabemos ser possível, não precise aguardar até 2100 para acontecer”, completou.

A segunda painelista foi a cacica da aldeia Kaarimã e empreendedora social, Juma Xipaia. Ela destacou o papel dos povos indígenas na manutenção da floresta em pé e na construção da Amazônia do futuro. “Temos a Amazônia viva porque existem povos diversos que vivem nela e a defendem com suas próprias vidas. Esse é o futuro que sonhamos, uma Amazônia viva com suas culturas e saberes”, declarou a liderança.

Na temática de empreendedorismo sustentável, ela citou a experiência das comunidades da Terra do Meio, que participam ativamente do início ao fim do processo empreendedor. “Somos donos do próprio negócio. Não basta envolver, é preciso ter participação direta das comunidades tradicionais. Não somos objetos de pesquisa e comercialização, temos total capacidade de entender e empreender”, ressaltou Juma.

O chairman da G2D Investments e da GP investment, Fersen Lambranho, falou sobre a importância da revolução digital para o alcance de um futuro sustentável. “O digital vai permitir desmaterializar a ‘parafernália’ que a humanidade criou, e isso vai permitir que a floresta ‘refloreste’ o globo e o Brasil inteiro. Precisamos nos perguntar como o bioma mais importante do planeta vai participar da solução para reflorestar o globo. Se nós, de dentro da Amazônia, não formos capazes de construir isso, quem será?”, instigou.

Desafios da realidade

O segundo painel do FIINSA trouxe o tema ‘Choque de realidade: tempos difíceis em meio a violência e alta do desmatamento’. A presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, moderou a palestra e trouxe dados preocupantes sobre a questão fundiária, o desmatamento e o crescimento da violência na Amazônia, fatores que impactam a manutenção da floresta e os negócios sustentáveis.

O coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, Caetano Scanavinno, falou sobre o “problema do ilegalismo que permeia as operações na Amazônia” e que representa um desafio para o desenvolvimento sustentável. Ele também reforçou o respeito aos povos tradicionais e o cuidado ao selecionar parceiros para empreendimentos na região. “Tem muita gente que quer ajudar, mas esse não é só um trabalho solidário. Estamos lidando com povos dignos, que têm mais a ensinar do que nós. […] Não é só manter a floresta em pé, mas trazer o modo de vida desses povos para cá. Nacionalizar a Amazônia e amazonizar o mundo são os desafios”, ponderou o empreendedor social.

A ativista ambiental ribeirinha Odenilze Ramos trouxe os desafios do ativismo na Amazônia. “Se a Amazônia fosse um país, seria um dos piores para os ativistas ambientais viverem. Quem se torna ativista coloca um alvo na testa, e os povos originários não têm escolha, pois sabem que se não formos à luta por nossos territórios, perderemos quem somos, a nossa cultura, e tudo o que construímos […] Precisamos olhar para frente com otimismo, porque se desistimos, será um a menos na luta”, declarou.

Em sua fala, o líder indígena Tashka Yawanawa refletiu sobre os impactos das degradações sobre os povos indígenas e a resistência deles. “Nós sentimos as mudanças climáticas primeiro porque dependemos da floresta para viver. Toda vez que a chuva atrasa ou chove demais, os mais afetados são os povos indígenas. Por isso nossa luta é incansável. Todos os dias nossa luta se soma para preservar a Amazônia não apenas para nós, mas para toda a humanidade. São os que mais tem dedicado sua vida para proteger a floresta, porque entendemos ela, porque dentro dela existe uma sabedoria milenar, toda uma ciência. Nós  temos exercido uma função importante para que o legado de amanhã seja mais feliz que hoje”, disse a liderança indígena.

Possibilidades para uma nova economia

O painel ‘Caminhos possíveis: alternativas para se construir uma nova economia’ teve como moderador o superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgilio Viana. Ele iniciou a atividade falando sobre o cenário de esperança e oportunidades a partir da projeção da Amazônia para o mundo, e instigou os painelistas a comentarem sobre as possibilidades para a criação de uma nova economia sustentável.

A pesquisadora do Inpa, Rita Mesquita, abordou o papel da ciência na bioeconomia: “Manejar a floresta não é assunto simples, precisamos trazer a noção do altíssimo input de conhecimento necessário que está aqui na região para desenvolver alternativas econômicas. A ciência vai ter que mudar, abrir diálogo para a construção de modelos e novos caminhos que vão trazer mudanças para a economia”, enfatizou.

Patricia Daros, representante do Fundo Vale, trouxe a experiência da iniciativa sem fins lucrativos, que iniciou dando aporte a ONGs na Amazônia e hoje tem um papel mais ativo na articulação de novas iniciativas para a Amazônia. “A produção do conhecimento científico é fundamental. Começamos a nos consorciar, saímos de mero financiador de modelos de negócios produtivos para negócios de fato, fazendo parcerias com aceleradoras, instituições de pesquisas etc. É necessário estar em muitas pontas para garantir que a entrega da bioeconomia seja feita. Achar os caminhos para financiamento é importante, mas não basta dar dinheiro, precisa articular uma rede de soluções que possa mudar essa realidade”, argumentou.

Por fim, Gustavo Pinheiro, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), abordou a valorização dos saberes tradicionais e da ciência para traduzir ao mercado financeiro a importância de valorizar recursos naturais.  “Os investidores estão olhando para a Amazônia não mais por uma ótica colonial de exploração de recursos, mas para pensar em modelos de desenvolvimento. Acredito na necessidade de valorizar o saber tradicional dos povos indígenas da Amazônia no processo de construção de soluções tecnológicas. […] Biodiversidade, recursos hídricos, cultura e outros ativos precisam ser traduzidos para o mundo financeiro dar valor a eles, é um espaço que os centros de pesquisas das regiões impactadas precisam pensar”, disse.

Sobre o 2º FIINSA

O 2º FIINSA é realizado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e Impact HUB Manaus. É correalizado pela AMAZ aceleradora de impacto, Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e Uma Concertação pela Amazônia.

Conta com patrocínio do Fundo Vale, Instituto Clima & Sociedade (iCS), Partnerships For Forests, Uk Government, Amazon Investor Coalition, Instituto Sabin, Fundo JBS pela Amazônia, Americanas S.A, SAP, GBR, Coca-Cola, Swarovski, MJV e Cooperação Alemã GIZ, e apoio de vários parceiros como Rede Amazônica e Fundação Certi.

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