*Da Revista Cenarium
Há exatamente sete meses, a pandemia de novo coronavírus vem transformando a vida e o comportamento de muita gente mundo afora. No Brasil, milhares de pessoas perderam seus empregos e por conta da quarentena os que já estavam fora do mercado de trabalho precisaram se reinventar para sobreviver.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em setembro passado, o desemprego no Brasil aumentou 27,6% em quatro meses de pandemia. As regiões Norte e Nordeste foram as mais atingidas pela crise, com altas de 14,3% e 10,3%, respectivamente.
Entre as dificuldades econômicas, apostar em algo que você faça bem, mas que nunca levou a sério pode ser a solução para uma volta por cima e uma alternativa para suprir as necessidades financeiras.
Foi o que fez a amazonense, dona de casa e especialistas em doces de festas, Fernanda Mello, de 34 anos, que trabalha com doces desde 2013. Durante a pandemia, Fernanda teve um insight [ideia, em português] e resolveu se reinventar para sobreviver diante da crise econômica e de saúde.
Segundo a doceira, a ideia de incluir brigadeiros tie-dye — técnica que se popularizou nos anos 60 e 70, mas que voltou com força total no período de isolamento social — como nova opção na lista dos docinhos vendidos por ela nas redes sociais, deu tão certo que os brigadeiros tie-dye passaram de novidade ao número um da lista de pedidos dos clientes.
“Eu buscava um diferencial para alavancar as vendas dos produtos e comecei a pesquisar na internet até que vi as pessoas usando a técnica do tie-dye também em bolos e brigadeiros. Achei interessante e resolvi testar. Os primeiros não saíram muito perfeitos, mas fui aprimorando o processo. Hoje, sou pioneira e a única em Manaus, até o momento, que faz esse tipo de brigadeiro”, orgulha-se a empreendedora.
Mãe de três filhos, de 12, 10 e 7 anos, Fernanda optou por trabalhar em casa para cuidar dos filhos. Mas, segundo ela, já tinha um talento para cozinhar e uniu o gosto gourmet a uma fonte de renda para ajudar nas despesas da casa. “No começo vendia meus ‘quitutes’ [doces, comidas e salgados] apenas para amigos e familiares. Porém, as pessoas iam divulgando o meu trabalho no boca a boca e resolvi seguir como negócio de forma virtual para sanar as necessidades financeiras da família”.
Atualmente, aponta Fernanda, o faturamento mensal oriundo dos docinhos gira em torno de R$ 1 mil a R$ 2 mil, dependendo da demanda e do mês. Recentemente, a empreendedora lançou a “Caixa Cenário”, uma novidade que vem fazendo sucesso entre seus seguidores, principalmente neste período onde grandes comemorações ainda estão suspensas por causa da pandemia.
“Lancei a ‘Caixa Cenário’ mês passado e está tendo bastante saída. Muitas gente encomenda para dar de presente ou fazer surpresa para quem está fazendo aniversário. A caixa acompanha um minibolo com o tema que a pessoa escolhe, além de brigadeiros com sabores definidos pelo cliente e um cartão. O formato pode ser estendido para qualquer ocasião, não apenas para aniversariantes”, finaliza Fernanda.
Já a haitiana Waddana Paul, de 30 anos, mais conhecida na cidade como “Paula Empada da Vizinha”, chegou em Manaus há oito anos com o filho pequeno, hoje com 12 anos, fugindo da fome e da destruição causada pelo terremoto catastrófico que assolou o Haiti em 2010. Desde então, já fez de tudo para sobreviver na cidade.
Atualmente, Waddana está no quarto período de Biomedicina, no Centro Universitário Fametro. Para sobreviver e custear os estudos, ela vende empada na cidade. Seu sonho é se formar em Biomedicina, trabalhar na área e dar uma vida melhor para sua família, que já mora em Manaus.
Faça chuva ou sol, a haitiana percorre diversos pontos da capital amazonense vendendo suas empadas. Segundo ela, pela manhã vai para a faculdade e à tarde, de acordo com o planejamento estipulado por ela, faz ponto fixo em alguns locais como, Praça 14, onde mora, Feira da Manaus Moderna, quando não tem aula, em um supermercado localizado na Cachoeirinha, Zona Sul da cidade.
Antes da pandemia, Waddana vendia as empadas em shows e festas realizadas na cidade, nos finais de semana. “Agora com os eventos suspensos na cidade por conta da pandemia não vendo mais as empadas nos finais de semana e à noite”.
Durante a pandemia, Waddana viu sua renda cair drasticamente. “Meu lucro, depois de pagar todas as contas era de R$ 400. Agora, não chega nem a R$ 200. Hoje, por exemplo, Dia das Crianças estou em casa. Nem presente meu filho ganhou, porque não sobrou nada e sou bem realista. Converso muito com o meu filho e ele entende que o que eu ganho é para sobrevivermos. Se sobrar alguma coisa, consigo levá-lo pelo menos para tomar um sorvete. Mas nem isso eu pude fazer hoje”.
Waddana enfatiza também que seu aniversário é no dia 15 de outubro, porém, vai passar em branco, já que o que ela conseguiu juntar até o momento com a venda das empadas é para pagar o próximo aluguel, onde mora com a família.
Com a reabertura do comércio as pessoas também ficaram sem dinheiro, explica a haitiana, que tem dias que volta para casa sem vender nenhuma empada. “Fico triste porque eu pago um amigo haitiano para fazer as empadas para mim. Ele trabalha na minha casa e minha responsabilidade é vender. Gosto de vender minha empada bem quentinha. A princípio trabalho com três sabores salgados, frango, frango com catupiry e quatro queijos e os doces incluem chocolate, doce de leite, maracujá, prestígio, chocolate com cupuaçu e por aí vai”, esclarece a universitária.
No período de isolamento social, Waddana criou a empada fit, cerca de 50% menos calórica do que a empada tradicional. Segundo ela, o produto foi desenvolvido para auxiliar o sistema imunológico e reduzir a gordura ingerida nos alimentos pelas pessoas. No entanto, afirma ela, muitos clientes não querem pagar o valor real do produto, que é feito com ingredientes de qualidade.
“Com o curso de Biomedicina eu aprendi muita coisa, principalmente no manuseio do alimento e resolvi criar essa empada saudável. Testei diversas vezes até que consegui achar o ponto certo. Porém, as pessoas nem sempre querem pagar o valor do produto. Hoje minha empada custa R$ 3 ou duas por R$ 5”, assinala a empreendedora.
Waddana ressalta ainda que os sabores variam de acordo com as encomendas acima de 60 unidades. Para essa quantidade, têm empadas de palmito, calabresa defumada, camarão, entre outras e os valores vão de R$ 0,75 a R$ 1,50.
Serviço
B. Fê Comidas e tal: @b.fecomidasetal – (92) 98198-0364
Empada da Vizinha: @empada_da_vizinha – (92) 99390-0038