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Vencedor de prêmio internacional de arquitetura aponta caminho para reabilitação do Centro de Manaus

Foto: Joana França
Foto: Joana França

A preservação do estado de uma ruína histórica, com forte ligação na paisagem e no imaginário coletivo de uma metrópole, misturando história e futuro, é um dos pontos de partida do projeto de reabilitação arquitetônica do Casarão da Inovação Cassina, no Centro de Manaus.

Assinado pelo arquiteto belga Laurent Troost, radicado na capital amazonense, o projeto é vencedor do prêmio Architecture MasterPrize (AMP), na sua 6ª edição anual 2021, na categoria Patrimônio. O prêmio global de arquitetura reconhece a excelência em design e qualidade em todo mundo.

Como o Cassina projetado por Troost, o Architecture MasterPrize é uma celebração da criatividade, inovação, arquitetura paisagística e promoção do belo, com seu exuberante jardim tropical, associado a vidros, transparências e reflexos, num edifício que bebe direto da fonte do patrimônio e se associa no presente à tecnologia, virtualidade e contemporaneidade.

“No caso do Cassina, a preservação do estado de ruína tornou a intervenção um manifesto por ser também a última fachada em Manaus com argamassa pigmentada com pó de arenito vermelho. Para tornar visível esta especificidade e paralisar a sua degradação, foram realizados minuciosos trabalhos de restauro”, explica o arquiteto, que também é um dos finalistas, também com o projeto do Cassina, do Prêmio de Arquitetura 2021 Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel.

Em Manaus, o escritório Laurent Troost Architectures atua no mercado com desenvolvimento de projetos para residências, empresas, indústrias e de uso misto, e o trabalho com o Cassina apontou para a tendência de reabilitação de Centros históricos, incluindo regeneração de espaços urbanos e reuso. “O fato de ousar um projeto de restauro diferenciado permite atrair olhares nacionais e internacionais, o que valoriza o patrimônio edificado e seu entorno. E isso pode ser perfeitamente repetido na iniciativa privada, com a reabilitação de prédios e imóveis particulares, em sinergia para a construção de um Centro mais denso e ocupado”, afirma o premiado arquiteto, que atuou 8 anos como diretor de Planejamento de Manaus.

“As áreas centrais, que não eram muito fortes no Brasil, em termos de vivacidade e urbanidade, com a pandemia, foram as primeiras que sofreram. Hoje, por um lado, o Centro de Manaus esta mais esvaziado por conta de negócios que não aguentaram a pandemia, porém, por outro lado, existem varias iniciativas privadas de pequena escala que apostam neste momento como oportunidade para investir no Centro e ousar pensar a urbanidade e o patrimônio histórico de forma diferente. Observo este momento como um renascimento e estou esperançoso com um Centro vivo, ativo, mais próximo das pessoas e da natureza.”

Casarão

Foto: Joana França

O Casarão da Inovação Cassina foi projetado como um centro de tecnologia digital, para abrigar espaços de fomento à criatividade e encontros para os criadores da economia digital. “Por meio da inserção de uma floresta tropical e de uma estrutura de aço industrial nas ruínas de uma casa histórica, o Cassina é a síntese dos ciclos econômicos da capital Manaus: a era da borracha, seu declínio, a era do Distrito Industrial e a era da nova economia digital”, afirmou Laurent Troost.

Construída em 1896 e em ruínas desde os anos 1960, as fachadas degradadas foram tomadas pela vegetação, com o tempo, criando uma beleza na imperfeição e no abandono de um patrimônio construído numa região emblemática, próxima do rio, onde nasceu a cidade. Não é à toa que a imagética da ruína, com suas potencialidades poéticas e plásticas, foi explorada por inúmeros artistas e arquitetos: Piranesi, Gordon Matta-Clark, Robert Smithson, Lúcio Costa (Museu das Missões), Paulo Mendes da Rocha (Pinacoteca de São Paulo e Capela Brennand) e Ernani Freire (Parque das Ruínas), para citar apenas alguns.

“Quem acessa o prédio pela passarela que cruza o vazio sobre o jardim lembra a razão intrínseca de Manaus: a floresta amazônica. Esta forma inovadora de lidar com o patrimônio não esqueceu os aprendizados de sustentabilidade passiva, como estrutura de aço pré-fabricada, ventilação cruzada, permeabilidade, microclima, beirais grandes, telhado ventilado, esquadrias de vidro duplo”, comenta o vencedor do prêmio.

Projeto

Os quatro pavimentos da área de quase 1.600 metros quadrados foram projetados para dar ao visitante, usuário e público em geral o valor da memória popular e cultural associado ao bem histórico na reabilitação. O imóvel, localizado na rua Bernardo Ramos, na confluência das ruas Governador Vitório e Frei José dos Inocentes, se destaca com amplas áreas envidraçadas, escada em aço e espaços generosos de vegetação que dão ao ambiente uma amplitude espacial de qualidade.

A área de transição do jardim, com paisagismo de floresta exuberante e tropical, associado ao vidro, às transparências e ao aço, reúne o antigo e o futuro. O jardim fica posicionado por trás da fachada histórica que faz frente à praça Dom Pedro II. A fachada nova, inteiramente envidraçada, segue erguida em um plano recuado em relação à fachada existente, o que evidencia e valoriza mais o perfil histórico de décadas.

As fachadas marcantes da edificação estão preservadas com suas características originais. O projeto fez a proteção de uma característica original e específica do antigo hotel Cassina: o edifício é o último representante em Manaus de fachada com argamassa pigmentada com pó de pedra jacaré.

Tomie Ohtake AkzoNobel

O escritório Laurent Troost Architectures é finalista do Prêmio de Arquitetura 2021 Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel. Na edição 2020, o escritório foi um dos selecionados para fazer parte da exposição do prêmio, com o Edifício Manga (Vila Santa Thereza). A premiação faz um mapa das produções arquitetônicas de destaque na cena contemporânea brasileira, valorizando formas inovadoras, sustentáveis, plásticas e urbanas. Em sua oitava edição, o prêmio apresenta os projetos mais significativos construídos no panorama atual brasileiro.

Este ano, Troost foi selecionado para compor o catálogo e uma mostra do prêmio, que será realizada em 2022, no próprio Instituto Tomie Ohtake. Os premiados são anunciados na inauguração da exposição e contemplados com viagens internacionais.

Em 2018, Laurent Troost teve um dos seus projetos enviados pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) para participação no Prêmio “Oscar Niemeyer” de Arquitetura Latino-Americana. Foram 13 selecionados em todo o país. O Prêmio “Oscar Niemeyer” de Arquitetura Latino-Americana, ON Prize, é uma iniciativa da Rede de Bienais de Arquitetura da América Latina – Redbaal. A premiação assume como referência o nome de um arquiteto icônico para a América Latina: Oscar Niemeyer, cujo trabalho é reconhecido no Brasil, no continente e no resto do mundo. O projeto selecionado foi da Casa Campinarana.

Laurent Troost

Foto: Reprodução/Instagram

O arquiteto belga vive e atua há 14 anos no Brasil, tendo sua obra associada a termos como arquitetura amazônica, regionalismo e sustentabilidade, à frente do premiado estúdio que leva seu nome.

Quando na Europa, após a sua formação pelo Institut Supérieur d’Architecture Intercommunal Victor Horta, em Bruxelas, trabalhou para o Office for Metropolitan Architecture, de Rem Koolhaas, onde assumiu grandes projetos em diferentes países.

Mas foi em Manaus, onde tem esposa e filhas, que Laurent desenvolveu amplamente habilidades que marcam sua produção e assinatura com intensa originalidade e respeito ao ambiente e à floresta, equacionando desde dificuldades logísticas até conceitos projetuais e execuções.

Laurent é colaborador do Banco Mundial, atuando como consultor de questões urbanas e amazônicas. Nos 8 anos à frente do Planejamento Urbano de Manaus, desenvolveu vários projetos e estudos, com a equipe, que ampliaram aprendizado e particularidades da arquitetura brasileira e da região amazônica.

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