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Vamos falar de mulher?

“Fomos silenciadas, mas sempre continuamos falando”. Carmen Lúcia, ministra do STF

Em minha reflexão desta semana mais uma vez estimulado pelo Dia Internacional da Mulher, desejo propor algumas ideias e lhe convidar, cara leitora, caro leitor a refletir sobre este que considero um dos temas centrais para um projeto sério de mudança social, política, educacional e cultural em nosso país. Gostaria de vir aqui escrever muitas coisas boas, sobre mudança de pensamento, mudança de comportamento, diminuição da violência, porém, quando se trata do cenário que envolve o tema mulher, nem sempre a realidade é louvável.

No momento em que vi a fala da ministra Carmen Lucia, tive a ideia não somente de refletir sobre a situação da mulher em nossos dias e pensei, vou deixá-las falar por si próprias e pensei em três perguntas que fiz às mulheres que encontrei nestes dois dias, entre amigas, alunas, meninas, adolescentes e jovens: 1) Quando se trata de ser uma mulher qual é a pior parte? 2) Quando se trata de ser uma mulher qual é a melhor parte? 3) Qual recado você tem para dar aos homens? Posso afirmar que fiquei e estou profundamente honrado em ter ouvido suas vozes, seus anseios, suas preocupações, e é com muita satisfação que as compartilho aqui com meus estimados leitores do Portal Dia a Dia Notícia.

Sobre a pior parte, o que mais preocupa nossas mulheres de fato é a insegurança. Insegurança em sair de casa e não saber se irá voltar, de entrar em um ônibus, em um Uber, em qualquer lugar e não saber se tudo ocorrerá bem, pelo fato de serem olhadas com “outras intenções”, as cantadas, o assédio, de não poder confiar em quase ninguém e principalmente pela violência contra as mulheres que permanece em altos índices. O site Agência Brasil (2023) afirma que em média no Brasil a cada 4 horas uma mulher é violentada.

Outras mencionaram o fato de a sociedade sempre cobrar de forma opressora, machista, estereotipando comportamento da mulher, de suas escolhas, seja pela roupa que vestem, por serem como são, como se a sociedade lhes roubasse a sua própria liberdade, de maneira que muitos padrões morais as sufocam. Uma outra coisa que causa bastante preocupação às mulheres com quem conversei foi sobre a desigualdade de gênero no mundo corporativo, os salários mais baixos e falta de valorização da mulher. Os preconceitos e piadinhas também são atitudes que as deixam muito incomodadas, justamente por se tratar de pura ignorância e desinformação.

As mais jovens se queixam das condições mais somáticas, principalmente as cólicas, a TPM e o fato de menstruarem todos os meses, justamente pelo incômodo que isto lhes causa, tanto em seu humor quanto em sua rotina, pois as priva de fazer várias coisas. Para nós homens se faz urgente compreender o corpo feminino e saber o que se passa dentro delas na dinâmica biológica de suas vidas, acredito que muitos problemas podemos evitar com essa prática.

Sobre a melhor parte, foram muito interessantes as respostas! “Gosto de ser mulher, de ser feminina”, “É bom ser mulher porque existem muitas coisas que nos ajudam a nos sentir mais lindas, maquiagem, adereços, roupas etc.”, “É bom ser mulher e se reunir com nossas amigas porque a amizade entre as mulheres é muito forte, nos ajudamos, somos confidentes”, “é bom ser mulher porque nos cuidamos bastante, tanto de nossa aparência quanto de nossa saúde”, “gosto de ser mulher porque isso está muito ligado à vida, ser mãe, amamentar, gerar outro ser”, “é bom ser mulher pois amadurecemos cedo e passamos a ver a vida com mais responsabilidade”.

Quando lhes pedi uma mensagem aos homens, a resposta foi unânime: “mais respeito pelo que somos”, “não queremos ser melhores e nem humilhar os homens, queremos igualdade”, “queremos ser valorizadas pelo que somos e não apenas como objeto de desejo”, “queremos uma sociedade mais igualitária e sem preconceitos”, “homens sejam mais carinhosos com a gente”.

Eu queria dizer que foi uma honra poder ouvir estas falas, estes anseios, que também devem servir de alerta para nós. Jamais seremos uma sociedade realizada, educada, próspera enquanto houver desigualdade e esta desigualdade é também uma questão de gênero. A disparidade salarial, a falta de representatividade em cargos de liderança e as dificuldades de conciliar carreira e vida pessoal são questões importantes que as mulheres ainda enfrentam.

Infelizmente a violência doméstica, o assédio sexual e outras formas de violência baseadas no gênero continuam sendo uma realidade para muitas mulheres em todo o mundo. O acesso à educação e oportunidades. Em algumas regiões, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para ter acesso à educação de qualidade e para buscar oportunidades de desenvolvimento profissional.

O acesso a serviços de saúde reprodutiva, incluindo planejamento familiar e cuidados durante a gestação e o parto é essencial para o bem-estar das mulheres, mas nem sempre é garantido. Assim como os estereótipos e preconceitos de gênero e os preconceitos sociais que podem limitar as escolhas e oportunidades das mulheres, afetando sua autoestima e seu desenvolvimento pessoal. Ligado a estas realidades devemos sempre nos questionar sobre a presença das mulheres na política, e do quanto a sociedade perde por não termos mais vozes femininas nos diversos setores de comando de nosso país. Hoje, apenas 15% dos principais cargos políticos em nosso país é ocupado por mulheres. Basta pensar no Supremo Tribunal Federal que entre 11 ministros apenas uma é mulher, é uma pequena parcela do retrato social em que vivemos, um pequeno panorama da condição da mulher em nossa sociedade, sempre vista como aquela que deve se calar porque é mulher.

Uma notícia destes dias chamou atenção pela repercussão e significado, onde a escritora, poetista e professora Conceição Evaristo se tornou a primeira mulher negra a tomar posse na Academia Mineira de Letras. Fato louvável, porém ainda esporádico, raro. Mais portas precisam ser abertas, mais oportunidades e políticas comprometidas com a causa feminina precisam ser pensadas, elaboradas, criadas, sancionadas. O caminho é árduo, é lento, porém não pode parar, não pode esmorecer, e necessita que sempre mais cidadãos se sensibilizem com esta causa.

Encerro minha reflexão com um pensamento da filósofa brasileira Djamila Ribeiro, Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la”. Mensagem esta que nos abre para a urgência de uma reflexão ética, política e legal, de que as desigualdades nos afetam, nos atrasam como seres sociais, como povo brasileiro. E a desigualdade de gênero é um triste fenômeno social que coloca em xeque a vida, a felicidade, a realização de nossas mulheres, de nossas mães, filhas, irmãs, amigas… ou melhor dizendo, de todos nós.

Quero agradecer a todas as mulheres, jovens e adolescentes, alunas e amigas que com muito carinho e paciência responderam aos meus questionamentos. Seja cada vez mais a temática feminina um compromisso e uma bandeira que todos devamos carregar pois está em jogo o que somos, o nosso futuro, nossa vida social, o bem comum, a felicidade de milhões de pessoas.

*Por Sergio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

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