A nova vacina contra a herpes zóster, doença popularmente conhecida com cobreiro, começou a ser aplicada no Brasil em junho de 2022. Com um dos preços mais caros do mercado de imunizantes, a Shingrix, da farmacêutica GSK, tem mais de 90% de eficácia em pessoas a partir de 50 anos –idade em que o vírus começa a atacar com mais frequência.
A vacina tem esquema de duas doses. O preço por injeção é R$ 843 (R$ 1.686 ao todo). Mas pode variar de acordo com os impostos de cada região e conforme o valor cobrado em cada clínica – pode haver adicional pelo serviço de aplicação do imunizante. “É a vacina mais cara que existe”, afirmou a médica e diretora da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações) Mônica Levi.
“Infelizmente, por uma questão de dólar, a vacina veio com um preço muito acima do que a gente imaginava”, diz o presidente da ABCvac (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas), Geraldo Barbosa. Ele afirma que o preço alto é uma tendência para todas as novas vacinas que estão chegando no país. Os motivos: as tecnologias mais recentes (que tornam os imunizantes mais potentes) e valor do câmbio, já que não há produção nacional.
A Shingrix é quase o triplo do preço da vacina de geração anterior, a Zostavax da farmacêutica MSD. Com esquema de dose única, a Zostavax custa em torno de R$ 550. Nenhuma das vacinas está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), o que dificulta o acesso à população de baixa renda.
No entanto, o Shingrix é a primeira vacina contra herpes zóster que pode ser usada em pessoas imunocomprometidas, outro público-alvo da doença. Esses pacientes têm um sistema imunológico enfraquecido, como pessoas em tratamento de câncer ou que foram submetidas a transplantes. Portanto, eles têm uma maior predisposição para desenvolver a doença, que aparece com a queda da imunidade do paciente. A tecnologia utilizada no Zostavax não permitiu sua aplicação neste grupo.
Shingrix (mais de 90%) também é mais eficaz que Zostavax (mais de 70%). “A eficácia de Shingrix é tão alto que quase ninguém que recebe a vacina desenvolve herpes zoster”, disse o especialista em doenças infecciosas e porta-voz médico da GSK, Jessé Alves.
A vacina também protege contra uma grave complicação do herpes zoster, a neuralgia pós-herpética. A doença causa vesículas (pequenas bolhas na pele) que podem ser muito dolorosas. Mas quando a dor dura mais de 3 meses, é chamada de neuralgia.
“Você é uma pessoa com mais de 70 anos que já está tomando muita medicação, já pode ter algumas limitações devido a outras doenças e vai continuar com dores crônicas que te impedem de andar, que te impede de dormirdisse Jesse Alves. Segundo ele, essa é a grande vantagem da vacina.
Barbosa, da ABCvac, disse que a expectativa da indústria é que a Shingrix venda o dobro da Zostavax. Todos os anos, as clínicas imunizam cerca de 50.000 pacientes com Zostavax. “Não é uma vacina que tem uma quantidade muito alta. Não é para todos, é um tiro de prescrição”, declarou o presidente da associação.
O infectologista e pesquisador da USP José Angelo Lindoso considera que, pelo preço, a vacina é uma boa opção para pessoas que têm herpes zoster mais de uma vez. “A indústria diz a todos para vender. Mas não é porque a pessoa é velha ou já teve que eu vou vacinardisse Lindoso.
A GSK afirmou que a distribuição de vacinas começou com o fornecimento “considerável em todo o Brasil” Até julho. No ano passado, a farmacêutica faturou US$ 1,7 bilhão em 2021 com o imunizante. Grande parte do valor veio das vendas nos Estados Unidos (US$ 1,3 bilhão).
Farmacêutica A Pfizer e a BioNTech anunciaram em janeiro que estão desenvolvendo a primeira vacina de mRNA contra o herpes zóster. Se a vacina for lançada no Brasil, pode ajudar a baixar o preço do Shingrix.
INFECÇÃO POR HERPES
A doença é causada pelo vírus varicela-zoster. Sua primeira manifestação em humanos é como a catapora. A doença aparece com mais frequência na infância, mas os adultos também podem ser infectados.
Ao contrário de outros microrganismos, a varicela-zoster permanece no corpo do paciente por toda a vida e pode se manifestar novamente, desta vez como herpes zoster.
“Esse herpes permanece todos esses anos latente nos neurônios. E aí, por fatores que podem ser estresse, idade ou o paciente ser imunossuprimido, eles podem ter o que chamamos de recaída, onde a manifestação não será catapora. A pessoa terá telhas.”, explica Giliane Trindade, doutora em microbiologia pela UFMG e professora da instituição.
Nem todo mundo que teve catapora terá um segundo surto do vírus. Geralmente, o herpes zoster se manifesta após os 50 anos ou em pacientes imunocomprometidos. A varicela-zoster é reativada por uma queda na imunidade do paciente.
A médica do Sbim, Mônica Levi, diz que a ativação do vírus a partir dos 50 anos está ligada ao processo de envelhecimento do sistema imunológico. “Não é apenas o cabelo que fica branco, ou a pele que enruga. O sistema imunológico também envelhece“, Ele diz.
O sistema imunológico perde seu poder protetor ao longo dos anos. “Durante este processo, a imunidade à varicela-zoster diminui.diz Levi.
Os primeiros sinais da doença são dor e hipersensibilidade em alguma região da pele. “A pessoa não consegue nem tocar a região corretamente.”, diz a dermatologista e médica da UFPA, Carla Pires. Ela diz que é importante consultar um médico agora.
Logo após, aparecem vesículas (pequenas bolhas na pele), que podem se transformar em uma crosta dolorosa. As lesões cutâneas podem aparecer em qualquer parte do corpo, mas geralmente ocorrem no abdômen, tórax ou costas.
“Isso é muito doloroso, é um processo doloroso.”, diz Mônica Levi, da Sbim. Muitos políticos famosos, como o ex-governador de São Paulo Mario Covas (1930-2001), sofreram com a doença.
A doença é tratada com antivirais (o mais comum é o aciclovir), analgésicos e, em alguns casos, corticosteróides para ajudar a conter a inflamação.