*Audrey Bezerra – Dia a Dia On-line
A população feminina e o eleitorado feminino são maioria no Estado do Amazonas, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), respectivamente. No entanto, a representação das mulheres na política está longe de ser paritária como a dos homens, mesmo amparadas pela Lei nº 9.504/1977, que criou a cota de 30% para a participação feminina em eleições. Elas ainda não são a maioria na intenção dos votos e nem são protagonistas em meio à representatividade.
Atualmente, nas casas legislativas do Estado e município, há a presença de quatro deputadas na Aleam e três vereadoras na CMM. Nos municípios do interior do Amazonas, há três prefeitas.
Para tentar diminuir a diferença, hoje pelo menos três mulheres colocaram os seus nomes à disposição do eleitor de Manaus, para a disputa pela prefeitura municipal. São elas: a ex-deputada federal Conceição Sampaio (PSDB), que estava na Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Semasc), a defensora pública e ex-secretária de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), Carol Braz (PSC), e a jornalista Liliane Araújo (PSL).
Conceição e Carol são os dois nomes preferenciais do prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) e do governador Wilson Lima (PSC), respectivamente. Os dois estão no comando das máquinas municipal e estadual.
A ex-deputada Conceição ocupou grande espaço na agenda da prefeitura enquanto o prefeito Arthur Neto esteve afastado recuperando-se de uma cirurgia no joelho. Ela é o nome preferido do PSDB para qualquer composição com vistas à eleição e já se desincompatibilizou-se do cargo na Semasc.
Já a defensora pública Caroline Braz também saiu da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado para colocar seu nome à disposição do grupo comandado por Wilson Lima.
A defensora disse que seu nome já foi aclamado pelo presidente estadual do PSC, Wilson Lima, e pelos demais filiados. “O partido tem nomes de mulheres muito fortes, de pelo menos duas mulheres para serem eleitas possivelmente. E eu venho na pré-candidatura para a prefeitura e temos o apoio do partido. O presidente estadual já se manifestou a favor de que eu saia”, afirmou Carol.
Ela considera que a baixa representação das mulheres na política é cultural, mas que sofrerá mudanças ao longo dos anos. “Temos poucas mulheres na política, é muito difícil romper esse ambiente que é predominamente masculino, mas aos poucos vamos romper isso sim. Eu percebo isso nas ruas. As pessoas me recebem bem, dizem que estão ao meu lado e isso é muito bom. E esperamos que outras mulheres se sintam representadas e que queiram também participar dos próximos pleitos”, destacou.
Em julho passado, durante discurso de lançamento do ‘PSL Mulher’, a coordenadora da sigla, Liliane Araújo, disse que o novo diretório dará condições democráticas às pré-candidatas, para que se manifestem sobre ideias e necessidades em relação às políticas públicas voltadas para o universo feminino. Segundo ela, a “maioria dos partidos só lembra das mulheres quando precisa preencher a cota de representatividade para disputar uma eleição”, argumentou.
Conceição Sampaio
Radialista profissional, Conceição começou como vereadora de Manaus em 2004. Ela já acumula mais de 15 anos de vida pública. Foi eleita deputada estadual em 2006 e reeleita em 2010. Na eleição seguinte, conseguiu o posto de deputada federal. Foi a única mulher a fazer parte da bancada amazonense na Câmara Federal nessa legislatura 2015-2018.
Em 2019, assumiu a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania na gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto, título que largou neste ano para dar prosseguimento ao seu processo eleitoral, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Carol Braz
Ex-secretária de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc) do Estado, Caroline Braz é a pré-candidata do Partido Social Cristão (PSC), ao qual o governador Wilson Lima é filiado.
Recentemente, assumiu a presidência do PSC, sendo a primeira mulher a realizar tal feito, desde a criação do partido em 2008.
Defensora pública, apesar de somar 20 anos de experiência no serviço público, esta será a primeira vez que Caroline Braz concorrerá em uma eleição.
Liliane Araújo
Ex-apresentadora e repórter da Rede Amazônica, Liliane Araújo disputa eleições locais desde 2014, com a sua primeira candidatura como deputada estadual.
Concorreu também como vereadora, em 2016, e nas eleições suplementares ao Governo do Amazonas em 2017. Atualmente está no Partido Social Liberal (PSL), pelo qual também disputam os deputados Pablo e Péricles.
Menos corrupção
Em uma análise entre mais de 125 países, incluindo o Brasil, um estudo descobriu que a corrupção é menor onde mais mulheres participam do governo.
Publicado no “Journal of Economic Behavior & Organization” pelos pesquisadores Chandan Jha e Sudipta Sarangi, o estudo revela ainda que a representação das mulheres na política local também é importante. Na política local da Europa, por exemplo, a probabilidade de suborno é menor nas regiões com maior representação de mulheres.
“Esta pesquisa ressalta a importância do empoderamento das mulheres, sua presença em cargos de liderança e sua representação no governo”, disse Sarangi, professor de economia e chefe de departamento da Virginia Tech, nos EUA, em reportagem publicada pelo G1 em 2018.
No Brasil, a lei em vigor atualmente prevê que pelo menos 30% dos candidatos devem ser do sexo feminino. Em 2016, nas últimas eleições municipais, contudo, as mulheres representaram 86% dos 18,5 mil candidatos que não receberam voto – segundo especialistas, a lei incentivaria “candidaturas laranjas”, de candidatas registradas apenas para cumprir a cota.
Exemplos de liderança
A história da participação das mulheres na política é uma história de muita luta. Milhões de mulheres tiveram que ir às ruas para garantir o direito ao voto. No início do século 20, as principais mobilizações por melhores condições de trabalho eram iniciadas por mulheres – para confirmar, basta uma pesquisa rápida sobre as paralisações das indústrias têxteis, por exemplo.
Até a revolução russa, independentemente da avaliação que se tenha sobre as consequências dela, foi iniciada por uma greve de mulheres russas por pão, terra e trabalho.
Este ano, o diferencial na política ficou evidente. Entre os países com os melhores resultados no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, a maioria é liderado por mulheres.
Nova Zelândia à Alemanha, Taiwan ou Noruega, alguns países liderados por mulheres registraram relativamente menos mortes pela covid-19. Esses países foram elogiados na mídia por suas atitudes, bem como pelas medidas que introduziram em face da atual crise global de saúde.
Conforme publicação da BBC News, em artigo recente da colunista Avivah Wittenberg-Cox na revista Forbes considerou as líderes “exemplos de verdadeira liderança”. “As mulheres estão se colocando à frente para mostrar ao mundo como gerenciar um caminho confuso para a nossa família humana”, escreveu.
Além de ter mulheres como líderes, esses países que estão respondendo melhor à crise têm outras coisas em comum. De forma geral, esses países são desenvolvidos e com democracias consolidadas. São países que também tendem a ter sistemas de saúde fortes, mais preparados para lidar com emergências.