O médico Carlos Jorge Cury Mansilla foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM) a cinco anos de prisão pelo crime de lesão corporal gravíssima contra uma paciente. Sem ter especialidade em cirurgia plástica, Mansilla realizou procedimento estético que deformou permanentemente o corpo da mulher.
Segundo a juíza Eulinete Melo Silva Tribuzy, da 11ª Vara Criminal de Manaus, a imperícia do médico “ocasionou sérios danos (realização de nova cirurgia) e traumas sem precedentes na vida da vítima, já que teve seu abdômen mutilado”.
O médico havia sido condenado em primeira instância em janeiro deste ano.
A juíza também chegou a condenar Mansilla a um ano de prisão pelo crime de estelionato. Ela considerou que a vítima pagou R$ 13 mil para realizar o procedimento estético porque acreditou que o médico tivesse capacidade técnica. A magistrada, no entanto, extinguiu a punição porque, segundo ela, o crime prescreveu.
“No presente caso, o réu foi condenado a uma pena de reclusão de 01 ano, sendo que em conformidade com o artigo 109, inciso V, do CPB, prescreve-se a pretensão punitiva estatal em 04 (quatro) anos, uma vez tendo a denúncia sido recebida em 21/08/2015,o presente feito prescreveu retroativamente em 20/08/2019”, diz trecho da decisão de Tribuzy.
Os recursos do MP-AM (Ministério Público do Amazonas), autor da denúncia contra o Mansilla, foram analisados pelo desembargador Jorge Lins nesta segunda-feira (19) para aumentar a pena, e pela defesa de Mansilla, que pediu a redução. O desembargador negou ambos os pedidos e manteve a sentença inicial.
Mansilla responde a um total de 22 processos na Justiça. Uma das denúncias resultou na condenação dele a oito anos de prisão pelos crimes de estelionato e homicídio culposo contra Maria Altenizia de Lima Salles. Ela pagou R$ 25 mil para realizar uma cirurgia que resultou em sua morte.
Plástica
A vítima afirmou que procurou a clínica de Mansilla após indicação de uma cliente do salão de beleza onde ela trabalhava. Na consulta, a mulher contou ao médico que gostaria de fazer uma plástica no nariz e ele ofereceu os serviços de lipoescultura e abdominoplastia, com facilitação no pagamento – ela daria R$ 7 mil de entrada e seis parcelas de R$ 1 mil.
De acordo com a vítima, o pagamento do serviço foi feito em março de 2012, mesmo dia em que a cirurgia foi realizada no Incor (Instituto do Coração do Amazonas). Segundo ela, antes de realizar o procedimento, Mansilla disse que era cirurgião e aluno de Ivo Pitangui, renomado cirurgião plástico que faleceu em 2016.
A cirurgia da paciente durou mais de seis horas. Durante o procedimento, ela acordou e os médicos aplicaram reforço da anestesia. A mulher disse que ficou no hospital apenas 24 horas e foi para casa, mas a cicatriz do abdômen infeccionou, o que motivou ela a voltar ao consultório após 10 dias para retirar os pontos.
A paciente afirmou que os pontos foram retirados pelo irmão de Mansilla. No entanto, a cirurgia abriu. Mansilla, então, tentou fechar a cicatriz, mas não conseguiu, pois saia bastante secreção do local. Segundo a mulher, cinco meses após o procedimento, ela estava na mesma situação e procurou o médico.
A mulher afirmou ainda que havia uma deformidade na região das nádegas dela. O médico marcou uma segunda lipoescultura, realizada na sala ao lado do consultório de Mansilla. A paciente disse que o abdômen dela ficou bastante inchado e necessita de uma reconstrução. Ela também alegou que, desde a cirurgia, sente dores quando mantém relações sexuais.
De acordo com a paciente, as consequências da cirurgia mal feita afetou até o casamento dela, que foi desfeito um ano depois da deformidade. A mulher alegou que está “complexada uma vez que não tem espontaneidade para um encontro íntimo, pois aconteceu de ao se despir ser olhada de outra forma, com nojo ou assombro”.