No século passado, a temperatura na Amazônia aumentou 1ºC. Porém, com constante avanço de desmatamento e queimadas, o cenário pode ficar muito pior nos próximos 100 anos: a temperatura no bioma pode ter alta de pelo menos 6ºC.
A estimativa foi obtida por meio de estudos do cientista Philip Fearnside, biólogo e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Em entrevista ao G1, Philip Fearnside explica que o desmatamento e as queimadas geram impactos diretos na temperatura da região.
Entre esses impactos estão a perda de oportunidades para uso sustentável da floresta e a devastação da biodiversidade, ciclagem da água e armazenamento de carbono.
Fearnside ressalta que a atual geração poderá sentir os impactos das altas temperaturas em até 78 anos, por conta da aceleração diária que o processo sofre.
De acordo com o pesquisador, os efeitos do desmatamento são aparentes tanto na temperatura global, quanto na reciclagem de água por parte da floresta.
“O desmatamento está acontecendo agora, então, a curto prazo, temos a perda da floresta e das suas continuidades. Mas ele também está contribuindo com as mudanças climáticas, tanto no aquecimento global, quanto na reciclagem de água, que é essencial nas chuvas aqui na Amazônia e também em outras partes do Brasil, como São Paulo, por exemplo, lugar que já sabemos que houve falta água recentemente”, ressaltou.
Uma pesquisa de Philip publicada em 2019, sobre dinâmicas, impactos e controle do desmatamento, mostra que o problema representa uma ameaça à Floresta Amazônica, causando mudanças climáticas e aumento do fenômeno El Niño, que causa períodos de seca, criando ambientes propícios à incêndios.
“É impressionante como já estamos vivendo tudo isso, como as queimadas na Califórnia, na Austrália, mas também dentro da própria Amazônia, que agora está queimando muito mais. A preocupação é de que isso possa ser transformado em gases de efeito estufa ao longo de poucos anos”, afirma.
Segundo Phillip, para desacelerar o aumento da temperatura na Amazônia, é necessário parar com uma série de medidas que geram danos diários. Para se recompor, tanto em quantidade de árvores, quanto em biodiversidade, a floresta levaria séculos, afirma o pesquisador.
“A primeira medida que devemos tomar é parar o desmatamento, mas também diminuir a emissão do combustível fóssil. Isso tem que ser agora, não dá pra esperar décadas e ter uma expectativa de controle da situação”, alerta.