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B. Zanardo: Sobre fotografia, cinema e pandemia

Foto: Bruno Zanardo

Esses tempos estranhos de pandemia e confinamento trazem algumas reflexões acerca do meu trabalho e de muitos outros profissionais da área em que atuo: fotografia e cinema. 

Os eventos acabaram: não temos mais casamento e suas festasnão temos mais as formaturas que eram fonte de renda para muitos do setor audiovisual, desde cenógrafos, músicos, operadores de som, fotógrafos, cinegrafistas… Fico pensando em como estão eles, como estão sobrevivendo!

O cinema parou.  Vejo amigos sem trabalho por não poder trabalhar durante a pandemia. Vejo amigos tentando agilizar outros pontos da produção cinematográfica para assim que sairmos desse looping de 1 ano, consiga partir para seu processo de gravação. Porém, isso não gera renda. Nesse meio cinematográfico ainda temos os técnicos, os diretores de fotografia, eletricistas, produtores, atores. Os únicos que estão trabalhando são os roteiristas. Esses estão e bastante, inclusive com a concorrência desleal do roteirista que está escrevendo a história do nosso país. Essa briga ainda vai ser feia!

A única classe que não viu tanto seu trabalho ser afetado pela falta de trabalho foram os fotojornalistas. Esses, pelo contrário, tiveram dias muito difíceis. O medo de contrair essa doença que levou muitos amigos da fotografia, quando se entra ou se acompanha a luta pela vida nos hospitais vai deixar muitas sequelas. Não só pelas consequências físicas desse vírus tão violento, mas deixará em muitos uma grave sequela psicológica.

Acho que todos teremos sequelas psicológicas. Ninguém está bem. Eu surtei de tanto ficar em casa, especialmente por ser grupo de risco. Outros surtaram por medo, por ver tanta morte. Eram cenários de guerra, de horror, de busca pelo ar, de rede do sofrimento.

Algumas pessoas conseguiram driblar um pouco esse sentimento de impotência que sentimos hoje se reinventando, tentando novas formas de fotografia, como o ensaio remoto, onde o fotógrafo e a pessoa a ser retratada mantinham seus computadores, tablets ou celulares ligados em uma videochamada e aí o fotógrafo dirigia, dava ideia de onde colocar os equipamentos e fotografava a distância. Uma alternativa válida.

Começaram também as lives, com os artistas se apresentando, usando alguma plataforma de streaming de vídeo e assim conseguiam se apresentar, muitos de forma gratuita, recebendo“doações” ou mesmo vendendo ingressos. E essas lives fizeram um bem danado. Em um momento de solidão e refúgio dentro de nossas casa se mentes em meio a esse horror, ver esses artistas se apresentando era um respiro para nossas almas e mentes confinadas.

Houve ações muito interessantes nesta época de pandemia, como os Fotógrafos pela Democracia, projeto em que participei e doamos uma obra nossa e o dinheiro foi revertido para os fotógrafos que se inscreviam para receber as doações pois não tinham como trabalhar. Entre os fotógrafos que fizeram parte desse movimento de auxilio, estou eu, Juan Esteves, Rogério Assis, Bob Wolfenson, Nair Benedicto, Cristiano Mascaroe até a Laerte, com um autorretrato belíssimo.

Teremos ainda um tempo assim, de dor, de luto, de readequação. Talvez sairemos com mais consciência sobre a vida e sobre a morte e provavelmente veremos o renascimento de uma nova arte, mais intimista, mais pessoal, mais interiorizada em sentimentos. Passamos agora mais tempo com aquele que melhor conhecemos. Nós mesmos.

Por Bruno Zanardo

É fotógrafo e diretor de fotografia de cinema paulista, estuda essa arte há 20 anos e é apaixonado pela Amazônia, onde resolveu viver desde 2013.

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