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Setembro Amarelo: quando a dor se torna insuportável

Quando a dor se torna insuportável – A Campanha Setembro Amarelo é dedicada à conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio.

“Na beirada da poça, cada gato tem um jeito diferente de pular… às vezes, na rua, eu pensava em frases assim… gosto delas porque falam sobre a morte sem incomodá-la… um dos meus amigos que cometeu suicídio gostava mais de viver do que eu e todos os amigos juntos… ele procurava mais do que eu pela felicidade… ao saltar pela janela, ele não procura pela morte, mas apenas pela saída da infelicidade constante da vida… quero não me esquecer desta diferença… talvez o suicídio seja uma procura total da felicidade… a felicidade se foi quando não suportamos mais o ficar…”.
Herta Müller, em o livro Sempre a Mesma Neve, Sempre o Mesmo Tio.
Sabemos que o tema é muito delicado e requer um olhar mais atento para além das estatísticas que são, sem dúvidas, alarmantes. Contudo, mesmo sendo possível mensurar os índices e detectar grupos de risco, as pesquisas não incidem o sofrimento psíquico vivenciado de modo individual e solitário. É com o objetivo de falar sobre este tema, que ainda é tabu, que surgiu a campanha Setembro Amarelo.
O isolamento e distanciamento social, as incertezas geradas pela doença, o medo do contágio, as perdas de pessoas queridas para o vírus e aspectos econômicos como a diminuição da renda, passando pelo desemprego, são gatilhos para a ideação suicida. Para aqueles que já sofrem com distúrbios mentais, como depressão, bipolaridade e transtorno de ansiedade, o quadro é ainda mais grave.
No artigo “Reflexões para os Tempos de Guerra e Morte”, Freud ([1915] 1980) no capítulo “Nossa Atitude para com a Morte” afirma que embora o ser humano saiba que a morte faz parte da vida, ele lança mão de defesas para negá-la o tempo todo. Ainda questiona a atitude do nosso inconsciente para com o problema da morte e revela que o inconsciente comporta-se como imortal. A onipotência impera e não existe a crença de que se possa morrer. A morte é sempre do outro. O medo da morte que nos domina é algo secundário, resultado de um sentimento de culpa. Frente a todas estas construções, algumas perguntas podem ser reformuladas: quem comete suicídio deseja morrer? Quem morre? O que morre?
Dados recentes apontam que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. Estima-se, porém, que 90% dos casos poderiam ser evitados. Teria então, uma maneira correta para se abordar este tema?
Dentro da área psicanalítica, verificamos que não é raro a dor está presente nos discursos e narrativas daqueles que encontram na morte o fim desse sofrimento. Por isso, acredito que falar pode ser o início para um novo caminho.
Ao trazermos à luz por meio da pronúncia, quebra-se o tabu sobre o tema, abrindo possibilidades, seja numa intervenção profissional ou entre amigos, familiares e até mesmo um estranho.
É muito importante conversar e desabafar quando sentimentos de angústia, desesperança e tristeza surgirem.
E se notar que quem está perto apresenta comportamentos ou discurso que podem ser associados a um plano suicida, dê mais atenção e se aproxime. Estreite o contato e se ofereça para ouvi-lo. Uma escuta atenta, sem julgamento, pode salvar uma vida.
Podemos considerar o “Setembro Amarelo” como um importante avanço no que tange a falar abertamente sobre este tema complexo e demasiadamente humano. Não só o suicida é levado em consideração nesta campanha. Os familiares também aproveitaram este momento para compartilhar a dor da perda de um ente querido, abrindo um novo caminho desprovido de vergonha ou preconceitos. Falar do suicídio é falar de morte, e isto faz com que as pessoas se deparem com suas faltas. A palavra dá sentido, dá vazão a uma aposta, uma possibilidade para o suicida em potencial de falar sobre seu sofrimento. A palavra substitui o ato.
Então vamos agir com mais empatia e cuidado conosco e com o outro.

PsicANALISE-se…
Terapia ninguém precisa, todo mundo merece!

Por Samiza Soares

É terapeuta formada em psicanálise e hipnoterapia clínica pelo Instituto Lucas Naves e pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC), respectivamente.
Trabalha com sessões individuais e com casais, atendendo em consultório particular, plantão terapêutico emergencial, além de atendimento domiciliar e atendimento on-line.

Instagram: @samiza

E-mail: [email protected]

Facebook: www.facebook.com/samizasoaresterapeuta

 

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