A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) retomou a captação de órgãos e tecidos no mês de março, passado o aumento de casos de Covid-19 no início do ano. A primeira captação de órgãos de 2021 ocorreu no dia 13 do mês passado, no Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio.
Conforme o coordenador da Central de Transplantes do Amazonas, médico-cirurgião de transplante de fígado, Marcos Lins, não houve uma interrupção no trabalho de captação de órgãos, mas uma baixa drástica das notificações de morte cerebral e, em outros casos, o óbito tinha diagnóstico de Covid-19, que é contraindicado para a doação.
“A equipe de doação/captação de órgãos permanece ativa ininterruptamente. Com a pandemia da Covid-19, houve queda drástica nas notificações de morte encefálica (morte cerebral), e os poucos casos de morte encefálica diagnosticados testaram Covid-19”, informou o coordenador.
Além da baixa no início deste ano, a captação também sofreu quedas nos meses de abril, maio e agosto de 2020, com nenhuma captação de órgãos e tecidos nesses meses, de acordo com Marcos Lins.
Procedimentos
A captação de órgãos pode ser considerada doação, porém, o processo de doação é mais abrangente e a captação é referente à cirurgia de retirada dos órgãos para transplante.
Esse trabalho é realizado em hospitais com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em pacientes com lesão cerebral, onde é aberto protocolo de morte encefálica. A Central de Transplante é notificada sobre a possibilidade de captação e passa a acompanhar o protocolo, adotando critérios rígidos e exames que são determinados pela legislação nacional.
Após confirmada a morte cerebral, é realizado o acolhimento familiar e oferecida a oportunidade da doação de órgãos. Se a família aceitar, são realizados os testes de compatibilidade, exames para detectar infecções incluindo da Covid-19. Se os exames tiverem resultados satisfatórios, a cirurgia é feita para retirada dos órgãos.
O Amazonas realiza a captação de fígado e rins, além de córneas. Somente o transplante de córnea é feito no estado, uma vez que há o Banco de Olhos. O fígado e rim são enviados para outros estados, para atender quem estiver no topo da fila de transplante, sendo amazonense ou não.
Captação
O estado já realizou 2.014 captações de córneas, entre 2004 e 2021. O trabalho de captação de fígado e rins iniciou em 2011, totalizando 46 fígados e 324 rins captados para transplante.
Apesar da pandemia da Covid-19 ter gerado alguns meses de baixa na captação de órgãos em 2020, o resultado total no ano foi positivo com aumento nas coletas de fígado e rins, conforme o coordenador da Central de Transplantes. Em 2019, foram captados apenas um fígado e 24 rins, sendo que em 2020 esse total foi de 12 fígados e 34 rins captados. Em relação à captação de córneas, o total de 2020 foi de 55, enquanto no ano anterior foram 176. Neste ano, já ocorreram captações de seis córneas, dois fígados e quatro rins, segundo dados da Central Estadual de Transplantes do Amazonas.
O coordenador espera que haja um aumento em 2021 ou que o resultado seja no mesmo nível do ano passado, mesmo com a pandemia. “Ano passado, apesar da pandemia, conseguimos aumentar (quase duplicar) as captações de órgãos em relação à 2019. Esse ano, esperamos manter ou aumentar em relação à 2020”, acrescentou.
Fila
A fila de espera para transplante de córneas no Amazonas, no Banco de Olhos, está na faixa de 50 pacientes. Foram priorizados os transplantes de urgência, por conta da queda na captação deste tecido, impactado pela pandemia.
Existe a previsão de que a programação de realização de transplantes seja retomada em breve.
A fila de espera por transplante de fígado está na faixa de 200 a 250 pessoas; e de 250 a 300 no aguardo por transplante renal. Esses pacientes são atendidos por meio do Tratamento Fora de Domicílio (TFD), que é uma estratégia das Secretarias de Saúde dos Estados e municípios para assistência aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Urgência
O coordenador da Central Estadual de Transplantes afirma que essa atividade é considerada de extrema urgência e não pode parar.
“No Brasil, mais de 40.000 pessoas aguardam na fila por um transplante, e consequentemente as captações de órgãos devem seguir sempre funcionando, dentro dos requisitos de segurança estabelecidos”, ressaltou o médico-cirurgião Marcos Lins.