*Paula Litaiff – Revista Cenarium
Cearense de Fortaleza, Alberto Barros Cavalcante Neto, 38 anos, há 17 anos vivendo em Manaus, foi eleito, em 2018, deputado federal pelo Amazonas como “Capitão Alberto Neto” e, agora, quer o comando da capital. Oficial da Polícia Militar (PM) desde 2003 – hoje major reformado -, conseguiu visibilidade nas redes sociais, filmando as operações policiais aos quais participava nas periferias, levando-o a ser um “fenômeno” da internet.
O status lhe conferiu um mandato logo na primeira vez que disputou um pleito eleitoral no Estado com 107.168 votos pelo Republicanos. Evangélico e seguidor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ele nega culpa do líder no número de vítimas fatais pela Covid-19 no Brasil, e diz se vai usar a atuação religiosa do colega de partido, deputado Silas Câmara, para influenciar os fiéis da Igreja Assembleia de Deus.
REVISTA CENARIUM – Como foi trocar Fortaleza por Manaus?
ALBERTO NETO – Em 2003, eu passei para o concurso de controlador de voo da Aeronáutica e fui transferido para São Paulo, depois Manaus. Antes disso, eu dava aula de Matemática no Ceará, era bastante novo e fui pai muito cedo, aos 18 anos, sempre tive uma vida de muita luta. No Amazonas, decidi que ia buscar um sonho que tinha desde criança que era ser oficial da Polícia Militar. Fiz o concurso e passei. O trabalho ao lado da população que sempre foi muito acolhedora foi o que me enraizou aqui e me dava forças para arriscar a minha vida todos os dias.
CENARIUM – Quando o senhor decidiu filmar as operações policiais nas ruas de Manaus já havia o interesse em entrar na política partidária?
AN – De jeito nenhum. Eu fui colocado para comandar uma área (na zona Sul) onde os moradores reclamavam da falta de proximidade da polícia com a população. Então, eu decidi junto com a minha equipe que nós iríamos filmar as operações para prestar contas aos moradores e, também, aos oficiais superiores da Polícia Militar.
CENARIUM – Antes, o candidato a cargo eletivo, primeiro militava em um partido e depois fazia campanha nas redes para concorrer no pleito. Hoje, o que vem ocorrendo é o inverso. Primeiro há aceitação nas redes e depois as eleições. Em que momento, o senhor decidiu que ia se candidatar em 2018?
AN – Isso não partiu primeiro de mim. Partiu de colegas do comando da Polícia Militar, partiu de amigos e familiares. Todos acompanhavam meu trabalho pelas redes sociais e viam meu esforço em sempre querer fazer o meu melhor. Depois, vieram os dirigentes de partidos falar sobre o assunto e compreendi que poderia fazer muito mais como parlamentar do que já estava fazendo como oficial. Foi quando eu decidi que iria me candidatar a deputado federal para ajudar mais a população na área em que atuo, que é Segurança Pública e, também, buscar trabalhar outros segmentos em projetos de leis e propostas.
CENARIUM – Em 2019, o senhor virou polêmica entre os internautas do Amazonas por ser acusado de receber salário em dobro do Poder Público: da Polícia Militar e da Câmara Federal…
AN – Houve muitas fake news sobre esse assunto envolvendo o meu nome. O militar quando tem mais de dez anos de serviço e toma posse de um cargo eletivo, ele vai automaticamente para a reserva, ou seja, é aposentado, o que chamamos de reserva proporcional. Isso está previsto no Artigo 14 da Constituição, parágrafo 8, inciso 2. Como eu tinha 18 anos de polícia e tomei posse como deputado federal, eu fui para a reserva. Com isso, fiquei com o salário da polícia, decorrente do meu trabalho o qual arrisquei minha vida por anos e da Câmara que perco, quando eu saí. Antes, tive a opção de decidir se eu ficaria com a aposentadoria da polícia ou da Câmara que até é maior, mas não sou político profissional e a aposentadoria de deputado é proporcional ao tempo de mandato.
CENARIUM – Mas nas informações da transparência do governo do Estado, o senhor estava como diretor de departamento e não como militar reformado…
AN – Houve problemas para fazer o ajuste dessa situação funcional, mas eu pedi a correção, conforme previsto na Constituição Federal e foi regularizado.
CENARIUM – Na Câmara Federal, o senhor foi favorável ao projeto integral do ex-ministro Sérgio Moro, conhecido como ‘Pacote Anticrime’ que incluía dá “poder de Deus” aos policiais, com a chamada “Carta Branca” para matar…
AN – Veja bem, houve uma comunicação equivocada do Pacote Anticrime e o projeto original foi bastante desidratado. Por exemplo, a questão de milícias que as nomeava como organizações criminosas foi retirada do pacote. E você sabe quem retirou de lá? Foi o pessoal do Psol (Partido Socialismo e Liberdade)*. Sobre o policial ter o direito de matar em casos extremos era para dar segurança jurídica ao trabalho policial, porque é um trabalho onde você a qualquer momento pode trocar tiros com bandidos e esse momento é de extrema emoção.
(*) O argumento dos deputados federais do Psol para retirar o termo “milícias” do Pacote Anticrime era que a medida reduziria a pena dos membros de facções. Na prática, as milícias passariam a ser regidas pela Lei de Organizações Criminosas, e não pelo artigo 288-A do Código Penal, que estabelece a constituição de milícias desde 2012. A diferença é que a Lei das Organizações Criminosas prevê no artigo 2º, pena de três a oito anos de reclusão, enquanto o 288-A do Código tem pena de quatro a oito anos de reclusão.
CENARIUM – Mas o senhor não avalia que o excludente de ilicitude (definição de que não há crime se a lesão ou morte é causada por forte medo) pode gerar a morte de inocentes, principalmente, pobres e negros?
AN – Não vejo dessa forma.Os policiais são treinados.
CENARIUM – Então, o senhor deve defender a tese do “Bandido bom é bandido morto…”
AN – Eu sou a favor de que se tiver que uma família chorar que chore a família do bandido e não do policial.
CENARIUM – O senhor não acredita que o certo seria que políticos trabalhassem projetos concretos para que crianças não virassem bandidos?
AN – Eu tanto acredito que apresentei muitos projetos nessa área na Câmara Federal, e esse é um dos motivos que quero me candidatar a prefeito de Manaus. Quero justamente trabalhar a educação de base para que as escolas não sejam comandadas por traficantes.
CENARIUM – Por que decidiu pelo cargo do Executivo depois de menos de dois anos de mandato? Pegou gosto pelo ato de fazer política?
AN – Não o gosto pela política em si, mas gostei da possibilidade de poder ajudar mais a população. Primeiro, eu deixei de ser capitão e passei a ser deputado federal, virei político partidário. Acredito estar realizando – modéstia à parte – um grande trabalho em Brasília e recebi muitos pedidos para me candidatar a prefeito de Manaus este ano…
CENARIUM – O senhor acredita que a popularidade na internet, que lhe deu um mandato na Câmara, influenciou na decisão de querer ser prefeito? “Tipo: vou aproveitar logo esse momento, vai que…”
AN – (Risos) A popularidade na internet associada as minhas propostas me ajudaram a ser eleito como deputado federal. Agora, o bom trabalho na Câmara me colocou, ou melhor, me cacifou a ser candidato a prefeito de Manaus. Apresentamos mais de 250 propostas legislativas em menos de dois anos, conseguimos estar inseridos em mais de dez comissões, entre elas como titular na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra) e na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO), onde estamos atuando diretamente buscando melhorias para o Amazonas. Penso que o Estado vive uma transição política e precisa de novos nomes para essa disputa. Então, seria covardia da minha parte me negar a concorrer. Quando me chamaram do meu partido, falei: eis-me aqui para trabalhar e construir grandes projetos para a cidade de Manaus.
CENARIUM – Como efetivamente o senhor acha que pode contribuir como prefeito?
AN – Até ontem, eu estava nas ruas, conheço cada rebimboca da minha cidade. Sei das dificuldades. Conheço o problema do povo de perto. Falta de saneamento básico, falta de Unidades Básicas de Saúde (UBSs)… O tráfico tomando conta de áreas adjacentes às escolas – acho que a prefeitura pode e deve auxiliar o estado no combate à criminalidade de forma efetiva. Eu defendo que o prefeito deve estar mais perto da população, ouvi-la mais. O slogan do meu mandato é “O nosso mandato”. Fiz um aplicativo para dar transparência ao que eu faço na Câmara Federal. A população vota junto comigo. Inclusive, vários projetos que fizemos vieram da população, das redes sociais.
CENARIUM – Sabemos que o seu nome é um consenso no Republicamos para disputar a Prefeitura de Manaus, mas a candidatura majoritária corre risco de virar secundária?
AN – A minha candidatura majoritária a prefeito de Manaus foi um acordo firmado com o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, que, inclusive, me convidou para entrar na disputa. Não estamos fazendo balão de ensaio, não há qualquer risco de eu virar vice (candidato a vice-prefeito).
CENARIUM – Na certeza de que o senhor não abre mão de ser “cabeça de chapa” nas eleições a prefeito de Manaus, quais partidos já aceitaram aderir ao seu nome?
AN – Eu busco um alinhamento coerente e já conversei o deputado estadual Delegado Péricles (PSL), com o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Josué Neto (PRTB), com o vereador Chico Preto (DC) e o vereador Felipe Souza (Patriotas). Mas queria deixar claro que ainda é muito cedo para falar em alianças, o que posso dizer é que pretendo alinhar coerência com a vontade de fazer o melhor projeto de governo para Manaus.
CENARIUM – O senhor é evangélico, por que decidiu se converter?
AN – Ah, essa é uma pergunta difícil… Sou evangélico batista há 17 anos. Decidi porque me senti melhor na igreja. Leio muito a Bíblia e me identifiquei com a doutrina evangélica de defesa dos princípios cristãos e dos valores da família.
CENARIUM – Tendo um colega de partido como o deputado federal Silas Câmara, irmão do presidente da Assembleia de Deus, Jonatas Câmara, o senhor aceitaria subir no púlpito da igreja para ser destacado por eles em período eleitoral?
AN – Estando dentro da lei, a exposição do respeito dos dirigentes a um visitante de outra igreja é natural. Não vou ser hipócrita em dizer que não quero o voto dos evangélicos. Eu quero sim, porque defendemos os mesmos princípios.
CENARIUM – Como seguidor do presidente Jair Bolsonaro, o senhor acredita que alguma culpa na morte dos mais de 100 mil brasileiros por covid-19 ao minimizar a ação do novo coronavírus, fomentar aglomerações e defender o uso de remédios sem comprovação científica?
AN – Negativo, não acredito que o presidente Jair Bolsonaro seja culpado. Se for para ter um culpado deve ser a China que não cuidou do seu isolamento no momento que surgiu o vírus naquele país. A pandemia do novo coronavírus gerou mortes no mundo todo e, também, é uma questão que ainda vai ser estudada. Existiam teses do isolamento vertical e a tese do isolamento horizontal. O presidente adotou a tese do isolamento vertical que trabalhava a questão da economia para que o país não quebrasse e não gerasse outro tipo de mortes por suicídios, mortes por fome. Eu não posso te dizer o que era correto, se qual o tipo de isolamento era o melhor. A questão da pandemia era muito complexa. Acredito que vão surgir novos estudos para esclarecer o que aconteceu. Mas não podemos de maneira nenhuma culpar o presidente.