“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Luther King
O que nos faz concluir e afirmar que vivemos dias difíceis? Não podemos fazer comparações com tempos passados, e afirmar que nossos dias são menos ou mais difíceis, ou que os nossos problemas sejam os mais complexos e sem solução. Cada momento histórico carrega seus problemas e desafios específicos, e a cada sociedade, em seu tempo, é dada a oportunidade de escrever e reescrever seu destino com dever ético, livre e responsável.
Há um compromisso coletivo que assumimos como cidadãos livres e sobre a parcela que cada um de nós carrega para a construção de dias melhores, em todos os aspectos e instâncias de nossa existência humana. Acredito que seja este o ponto central da dinâmica da existência, principalmente humana, já que somos nós, portadores de racionalidade, consciência, autonomia e de liberdade.
Quantas vezes nos acovardamos em denunciar crimes contra a vida, injustiças contra o próximo, violação de direitos sociais e de direitos humanos? Quando e por que entendemos que calar diante da dor do outro seria o mais prudente e correto a se fazer? Quando uma sociedade se cala frente às injustiças, todo o sistema injusto se fortalece.
A missão de existir humanamente
Existir humanamente comporta essencialmente existir como portadores de uma nobre missão: fazer, defender, estimar e esperançar pelo bem. No entanto, reconhecemos que nem sempre a humanidade assume unanimemente este compromisso, traindo assim, o que poderia ser uma chave para erradicarmos muitos de nossos desafios sociais.
É de se reconhecer que existem absurdos atentados contra a vida, contra a natureza, contra a humanidade, contra valores e princípios éticos essenciais, como a justiça, a verdade, a solidariedade social, o respeito, assim como o diálogo e a preciosa tolerância.
Mas, não quero me deter nas más ações que presenciamos diariamente, muitas destas que nos afetam diretamente, nos fazendo de vítimas, como aquelas que assolam nossos semelhantes. Desejo, no entanto, refletir sobre o silêncio dos bons.
O alerta da fé
Há uma passagem bíblica que carrego como um dos maiores “puxões de orelha” na humanidade, onde o apóstolo Paulo, ao exortar seus irmãos na fé que viviam em Roma, afirmou: “A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados”. Me pergunto, onde estão os filhos de Deus? De que maneira se posicionam diante do mal iminente?
O alerta de Paulo pode ser interpretado também como uma urgente convocação: aqueles que afirmam que Deus é bom, que em suas palavras e discursos sempre defende o bem, o que de fato tem feito para diminuir o mal que o rodeia e que atormenta seus semelhantes?
Pessoas de bem, pessoas de fé, cidadãos e cidadãs, o que estarão fazendo concretamente para que o mal sempre a espreita seja aniquilado e banido? O que estamos fazendo para tornar nossas sociedades mais justas e mais fraternas? Estamos omissos, ou reivindicamos e defendemos dias melhores?
O peso da omissão
Hoje assistimos aos maus tratos que a humanidade pratica contra toda a natureza e suas formas de vida. Tudo para o ser humano se tornou uma forma de obter ganhos financeiros, obter lucro. Não se pensam as consequências, não se medem os esforços. O valor da vida se tornou banal e por que não dizer, tem se tornado descartável.
Imagino e acredito que as primeiras pessoas a serem chamadas ao protagonismo do compromisso com o bem sejam as pessoas de fé. Sim, por serem elas a reconhecer a sacralidade da vida, por reconhecerem a bondade de Deus, por defenderem o Bem.
Um chamado à consciência
Buda, Confúcio, Jesus, Sócrates, Maomé, Francisco de Assis, entre outros, foram líderes e pensadores que marcaram seu tempo por meio de sua prática de vida, valorizando a ética, o respeito e a tolerância, as virtudes da sabedoria de vida. Basta que observemos sua história, seus textos, suas ideias, logo entenderemos o que eles acreditavam e defendiam.
Do contrário, de que servirão os ensinamentos que as tradições religiosas e sabedorias humanas nos legaram? Se não forem colocadas para a construção de dias melhores, elas não passarão de letras mortas, de crenças hipócritas e insensíveis com a dor da vida, do próximo, da humanidade.
Viver de forma plena e digna depende do compromisso dos que honram suas crenças, seus valores e os princípios éticos que sustentam o bem pelo bem. O silêncio, neste tempo, é cúmplice covarde: ele alimenta o mal, dá-lhe fôlego, tempo e espaço. Não podemos calar. É hora de transformar palavra em ação, fé em coragem, é hora de fazer o bem acontecer.
Por Sérgio Bruno
É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 16 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

