A pandemia virou o mundo do avesso e mudou profundamente o dia a dia de toda a população. Diversas famílias precisaram adaptar a rotina para conciliar o trabalho com a atenção dada aos filhos, que longe da escola e dos amigos, passaram a ficar mais tempo em casa. Esse distanciamento social trouxe muitos impactos à saúde mental das crianças e adolescentes. Alguns deles passaram a, inclusive, apresentar sinais de estresse, depressão e ansiedade. A psicóloga Shyrllene Soares explica a importância da rotina para minimizar as consequências do isolamento social.
“Nós, seres humanos, precisamos de rotina para nos sentirmos mais tranquilos emocionalmente. Quando estamos com a vida mais organizada, temos mais segurança, nossas emoções são mais tranquilas, porém, no caso da criança e do adolescente, a rotina tem uma importância. Isso porque elas ainda estão organizando o seu mundo interno e estruturando a sua forma de pensar. Costumo dizer que eles ainda estão esponjinhas, ou seja, ainda estão absorvendo tudo ao seu redor”, disse a especialista.
Sem a tradicional rotina de acordar, ir para a escola e reencontrar amigos e professores, durante a pandemia muitas crianças e adolescentes passaram a dormir menos e mais expostos a jogos eletrônicos e internet, sem supervisão, o que levou a prejuízos ao desenvolvimento cognitivo e aumento de quadros como o de ansiedade.
“Notamos no consultório que houve uma demanda maior, principalmente de crianças muito novas. Já atendemos algumas com 9 anos, apresentando crises severas de ansiedade e pensamentos catastróficos bem graves. Sintomas que antes costumávamos ver em adultos e agora passamos a ver cada vez mais cedo”, revela Shyrllene.
Para a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Estado do Amazonas (Sinepe-AM), Elaine Saldanha, desde o início da pandemia, a educação tem se mostrado fundamental para ajudar os estudantes a passarem por esse momento difícil.
A interação com os colegas e professores, mesmo que através de encontros virtuais, é uma forma de apoio e serve para amenizar a saudade de socializar. “A escola tem um papel essencial na promoção da saúde física e mental das crianças e adolescentes”, acrescenta a vice-presidente do sindicato, Laura Cristina Vital.
Dicas da especialista
Além da escola, a psicóloga Shyrllene Soares, aponta que os pais podem ajudar os filhos a entender e a gerenciar a situação, mantendo uma conversa aberta e tranquila. “É importante criar uma rotina juntos, organizando horários para dormir, acordar, alimentar-se, ler, brincar e realizar as atividades enviadas pela escola ou para as revisões dos estudos”, indica.
Em casa, a sugestão da especialista é que os pais evitem entrar no modo de julgamentos. “Muitas vezes eles acabam falando que os filhos não estão estudando, não querem sair dos jogos ou da internet, não dormem ou comem direito, ao invés de motivar os filhos a novos comportamentos em um momento como esse, que é difícil para todo mundo”, enfatizou a psicóloga.
Tanto as crianças quanto os adolescentes estão fazendo o melhor que podem, entretanto os pais não podem esquecer que são o comandante do barco, são os líderes da família, então tem que partir deles a solução. Criar um momento para família é uma alternativa. Fazer uma sessão de cinema no final do dia em casa, sair para caminhar ao ar livre, com as condições de segurança impostas pela pandemia, brincar de masterchef em casa com os filhos e preparar o jantar, são momentos que ajudam a enfrentar melhor o isolamento imposto.