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PSDB acelera discussões para definir nome contra Bolsonaro e PT

Quatro nomes já são cogitados para o processo, inicialmente previsto para ocorrer em 17 de outubro: os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-­prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

Já pressionado pelas candidaturas de Jair Bolsonaro, colocada na rua praticamente desde o primeiro dia de mandato, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressuscitada pelo STF com a anulação de suas condenações, o centro político acelera as discussões sobre possíveis nomes na disputa de 2022.

O PSDB deu início ao processo que definirá as regras das prévias para a escolha de seu candidato à Presidência da República com discussão sobre o adiamento da eleição interna e divergências sobre o colégio eleitoral expostas entre os prováveis concorrentes —João Doria, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio.

O governador de São Paulo, Doria, defende prévias já em outubro e com a participação de todos os filiados. Leite, governador do Rio Grande do Sul, fala em dar peso aos votos conforme o cargo do filiado. Tasso e Virgílio defendem o adiamento das prévias para o ano que vem.

A comissão, instituída na sexta (23) pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, teve sua primeira reunião na noite desta segunda (26), de forma virtual, e estabeleceu que as regras estarão definidas até 31 de maio. O prazo para a aprovação da direção nacional do partido é 15 de junho, e a escolha interna está marcada para 17 de outubro.

O senador Tasso (CE), que foi lançado às prévias por Araújo e passou a ser chamado por uma ala do partido de Biden brasileiro, afirma que a escolha do presidenciável deveria ocorrer somente no ano que vem. Ele admite concorrer, mas não deu uma resposta definitiva.

A inscrição dos tucanos nas prévias é prevista para o início de agosto. O nome de Tasso também é visto por parte do partido como uma forma de obter consenso e talvez evitar a necessidade de prévias —embora o entorno de Doria, por ora, insista na eleição interna.

Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus, afirmou à Folha que deve retirar sua candidatura caso Tasso participe. “Se ele realmente me disser que vai ser candidato, ele já está praticamente me colocando como cabo eleitoral dele e não como concorrente dele.”

Tasso, por sua vez, é entusiasta de Leite —e há dúvidas se o governador gaúcho iria concorrer contra o senador.

A escolha de um presidenciável pelo PSDB esbarra ainda nas conversas com outros nomes e partidos do chamado campo de centro, como Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoêdo (Novo) e Luciano Huck (sem partido).

A tese do adiamento das prévias, que encontra oposição de Doria e apoio de Virgílio e Tasso, tem como argumentos a pandemia e também a necessidade de mais tempo para a conversa com esses possíveis aliados. Mas, para auxiliares do governador de São Paulo, não caberia alterar a data fixada em resolução de Araújo.

A pandemia, sobretudo, impõe um desafio para a votação em outubro —principalmente se todos os filiados do partido puderem participar da eleição interna, como pregam Doria e seus aliados. Alguns caciques do partido acreditam ser possível viabilizar a votação não presencial, assim como debates pela internet. Há ainda a expectativa de que a pandemia esteja mais controlada até lá.

O partido tem cerca de 1,3 milhão de filiados no país, sendo 22%, a maior fatia, em São Paulo, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O cenário, em tese, é favorável a Doria.

Virgílio também defende as eleições diretas, com todos os filiados. “Tem que ser na urna eletrônica, com todos os filiados votando, uma ampla campanha, todos os candidatos viajando juntos pelo país, debatendo nas principais cidades”, afirma.

Leite defende pesos para equilibrar a vantagem de São Paulo. “Eu defendo que todos possam votar. A questão objetiva vai ser discutir os pesos que os votos têm, porque somos uma federação. Temos agentes políticos, como deputados, senadores, governadores, prefeitos. Tudo isso precisa ser considerado para que se tenha uma estrutura que reflita não apenas a vontade da maioria, mas a melhor estratégia para o pleito do ano que vem”, disse.

“A prévia deve ter uma estrutura em que tenha um jogo equilibrado. São Paulo naturalmente tem um peso pelo estado que é, pela força que lá o PSDB tem, mas a eleição é nacional”, completou o governador gaúcho.

Pelas redes sociais, o presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, aliado de Doria afirmou: “Democracia forte pressupõe a participação de todos. A beleza do sufrágio universal é que o voto do mais simples tenha a mesma importância que o voto do mais forte”.

Na última terça-feira (27), Doria, Leite e Araújo se reuniram para tratar do formato das prévias e das decisões a serem tomadas pela comissão. OS tucanos falaram ainda sobre como conciliar o processo da eleição interna com as agendas de governadores.

Debate Político

Caciques do PSDB veem nas prévias uma oportunidade de aprofundar o debate político e sintonizar o partido com seu eleitorado.

O ex-prefeito de Manaus afirma que a reafirmação das prévias no PSDB eram uma necessidade. “Em 2018, eu me dispus a disputar prévias com [Geraldo] Alckmin e não me deixaram, simplesmente ficaram me enrolando. Não foi uma coisa digna, nem justa. As prévias podem fazer com que militantes meio adormecidos possam despertar.”

Para Virgílio, no entanto, os nomes de centro ventilados até agora não são capazes de quebrar a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido), mas conversas e consensos entre os envolvidos podem construir essa candidatura alternativa.

“As prévias têm que ser muito fraternas. Estou entendendo que temos oportunidade de ouro para voltar a destacar o PSDB do lugar comum”, disse o ex-prefeito à Folha.

Virgílio elenca suas prioridades em relação ao debate das prévias: lançar uma nova social-democracia, discutir a Amazônia, defender o parlamentarismo e que o PSDB se afirme como oposição para valer.

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