*Da Redação Dia a Dia Notícia
Não se identificar com a imagem refletida no espelho é o primeiro passo para decidir fazer mudanças no corpo, seja por meio da cirurgia plástica, ingestão de hormônios ou com a realização de procedimentos estéticos. Pessoas em transição de gênero têm procurado as técnicas da Harmonização Orofacial (HOF) para fazer a adequação corporal, no entanto, a maior parte desse público não consegue arcar com o alto custo. Pensando em atender esse público, a mestre em Ortodontia Dra. Cynthia Cardoso criou o “Transforma”. O projeto genuinamente amazonense e pioneiro no Brasil foi lançado nesta quinta-feira (15), em uma festa no Casarão de Inovação Cassina, no Centro de Manaus.
De acordo com Cynthia Cardoso, o direito a uma saúde digna e igualitária ainda é uma demanda urgente das pessoas trans. A transição não representa apenas uma mudança de gênero, mas sim de identidade. Portanto, o Transforma nasceu com o intuito de abraçar as pessoas que querem destacar os traços faciais compatíveis com essa identidade de gênero.
“Esse é o primeiro projeto Brasileiro de Harmonização Orofacial voltado para a comunidade TRANS. Nós atendemos os pacientes em fase de tratamento hormonal que não têm condições de arcar com os custos dos procedimentos. Eles são atendidos no Ambulatório de Diversidade Sexual e Gêneros na Policlínica PAM/Codajás por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, dentistas, psicólogos e fonoaudiólogos. Depois, eles são encaminhados à Startclass para iniciar os procedimentos. É um atendimento acolhedor e humanizado por meio de um projeto pioneiro”.
As pessoas trans passam por diversos constrangimentos e as barreiras sociais mexem com o corpo e o psicológico delas, e, por isso, o atendimento o Transforma busca ser humanizado.
“Há uma demanda grande para se conseguir um procedimento transexualizador de forma gratuita ou de baixo custo aqui no Brasil. No geral, há poucos ambulatórios para o público transgênero e nós aqui no Amazonas estamos sendo precursores em oferecer a Harmonização Orofacial a esses pacientes como forma deles se expressarem da forma que for mais confortável e mais próxima do que querem ser”, disse a ginecologista Dária Neves, coordenadora do Ambulatório de Diversidade Sexual e Gêneros na Policlínica PAM/Codajás.
Durante a festa de lançamento, foram apresentados os objetivos do projeto e casos clínicos em formato documentário. O primeiro episódio contou a história da multiartista amazonense Andira Angeli.
“Iniciei o meu processo de transição em 2019 e vejo como isso foi importante pra mim. Ver um projeto como o Transforma dando a oportunidade para que outras pessoas trans possam reconhecer o que de fato são, por meio dos seus corpos, é maravilhoso. Estou muito feliz de poder participar dessa iniciativa e espero que sensibilize as autoridades e a sociedade para essa causa importante”, relatou a atriz que está em cartaz com o espetáculo Cabaré Chinelo.
Autoridades, profissionais da imprensa e influenciadores estiveram presentes no evento. Para o vereador Rodrigo Guedes, ações como o Transforma são essenciais para a inclusão das pessoas trans.
“Muitas pessoas trans ainda sofrem com preconceito e violência. Projetos como o Transforma viabiliza que elas tenham igualdade e visibilidade na nossa sociedade”, destacou.
Segundo o “Dossiê Assassinatos e violência contra trabestis e transexuais brasileiras” da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o Brasil é o país com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo pelo 14° ano consecutivo. Segundo o jornalista Clayton Pascarelli, mestre de cerimônias do evento, o dado assusta e mostra a necessidade de ações e políticas públicas que protejam as pessoas trans.
“A transgeneridade não é somente uma questão de aparência. Vai muito além de uma percepção estética. As pessoas trans enfrentam enormes desafios, tendo a sensação de não gostarem dos próprios corpos porque não se reconhecem neles. E isso aumenta quando elas são expostas ao preconceito e à violência. Nós como comunicadores temos a missão de trazer projetos como o Transforma como fonte de informação, como quebra de barreiras, fazendo com que nossa sociedade seja mais igualitária e acolhedora”.
Como funciona o Transforma?
Após passarem por todos os procedimentos médicos no Ambulatório de Diversidade Sexual e Gêneros, os pacientes são encaminhados até a Startclass, situada na Rua Rio Jutaí, 433, Conjunto Vieiralves, Zona Centro-Sul de Manaus. Lá, eles passam por um diagnóstico criterioso sobre as metas e desejos a serem alcançados com a HOF.
“A gente precisa considerar aspectos físicos da pessoa, como idade, tipo de pele, assimetrias, presença de flacidez e questões anatômicas para decidir quais procedimentos serão realizados para se chegar no resultado desejado. O tratamento em pessoas trans é peculiar, individualizado e personalizado, conforme a imagem idealizada. Eu sempre falo que uma harmonização facial bem sucedida será aquela em que o paciente ao final se reconhecerá mais satisfeito com o conjunto das características do seu rosto”, destaca a Dra. Cynthia Cardoso.
No projeto Transforma é possível fazer uso da bioestimulação de colágeno, bichectomia, preenchimento labial com ácido hialurônico e aplicação de toxina botulínica. A especialista destaca que uma das vantagens da Harmonização Orofacial é que a maior parte dos procedimentos tem efeito reversível ou temporário.