*Da Redação Dia a Dia Notícia
Mesmo com contratos que somam mais de R$ 8,5 milhões para a compra de uniformes escolares, crianças da rede municipal de ensino de Manaus seguem sem receber o fardamento neste ano letivo. A denúncia parte de pais que relatam a ausência do material básico nas escolas. As famílias reclamaram do descaso com a educação, mesmo com um orçamento recorde de R$ 2,8 bilhões previsto para a Secretaria Municipal de Educação (Semed) em 2024. As informações são do site Radar Amazônico.
Na última semana, a reportagem ouviu dezenas de relatos que narram histórias semelhantes e que revelam o sucateamento da educação infantil na capital amazonense, mesmo com a Secretaria Municipal de Educação dispondo de orçamento recorde de R$ 2,8 bilhões estimado para este ano.
“Nunca receberam farda, nunca receberam kit escolar, nada, nunca receberam nada. Desde quando eles começaram a estudar aqui, nunca receberam nenhum tipo de material escolar da prefeitura”, disse o morador Valdriane Fernandes Vales, que tem três filhos matriculados na Escola Municipal José Augusto Roque da Cunha, localizada no Monte das Oliveiras, zona Norte da capital.
Falta farda, falta mediador, mas sobra mídia
Do outro lado da cidade o cenário é o mesmo. Uma mulher identificada como Márcia da silva Pizano, que é tia de uma criança com transtorno do espectro autista (TEA), relata que não só faltam uniformes como mediadores nas salas de aula do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Dr. Fernando Trigueiro, no Japiim, zona Sul da capital amazonense.
“A diretora informou que nunca mandaram [fardas] e que se quiséssemos eles vendem a R$25 reais cada peça (calça e camiseta). […] Na questão do mediador, durante uma reunião com a pedagoga foi informado que teríamos que ter sorte para conseguir, pois a Semed abrange centenas de crianças”, disse Márcia, que afirma que já chegou a ser expulsa da instituição por tentar acompanhar o sobrinho dentro da sala de aula.
A denunciante também reclama de como a gestão de David Almeida vem usando as crianças de escolas municipais para fazer mídia e ganhar popularidade nas redes sociais.
“Esse ano a mulher do prefeito foi na escola e não passaram nada [dos problemas da instituição] para ela, apenas puxa saquismo!”, disparou
Uma outra mãe relatou esse mesmo problema em outra unidade da rede municipal de ensino, mas por medo de represálias ela prefere não ter seu nome divulgado.
“Eu nem lembro qual foi o último ano que meus filhos receberam fardamento. Mas eles [direção da escola] cobram que o aluno use farda, mas eles não dão mais a farda. Eles dão o prazo de um mês pra gente comprar a farda da escola ou uma blusa branca, sendo que a farda da escola, só a camisa custa R$ 45 reais. /…, Com relação ao mediador do meu filho, desde o ano passado que eu continuo brigando e não vêem, mas nas mídias você vê a Amanda [gestora da Semed], antes era Dulce [ex-titular da pasta de educação], e agora o Júnior [novo titular Semed] todo mundo falando só as mil maravilhas, mas a realidade é bem diferente. Com relação à sala de educação especial, como todo mundo fala, nessa escola, o MEC liberou a verba, veio a verba, o material tá lá em um depósito e não funciona, não abriu a sala para as crianças deficientes”, disse.
Sobre o mediador
Um mediador escolar é um profissional que atua como ponte entre o estudante com necessidades educacionais específicas e o ambiente escolar, para garantir que esse aluno tenha acesso pleno ao processo de aprendizagem, de forma inclusiva e respeitosa às suas particularidades.
Contratos de R$ 8,5 milhões
Mesmo com as crianças sem farda e com os pais tendo que “se virar” para comprar uniformes do próprio bolso, a Prefeitura de Manaus contratou duas empresas para fornecerem esse material aos alunos da rede pública municipal, são elas: L P do Valle Comércio e Fabricação de Roupas Ltda, que possui um contrato de R$ 5.339.000,00 (cinco milhões, trezentos e trinta e nove mil reais) para fornecer camisas e a Confetextil Ltda, que foi contratada por R$ 3.198.700,00 (três milhões, cento e noventa e oito mil e setecentos reais) para fornecer bermudas “para atender os alunos matriculados nas Unidades Educacionais da Secretaria Municipal de Educação – Semed”.
O que chama atenção é que segundo dados da Receita Federal, a LP do Valle e a Confetextil são empresas praticamente “vizinhas de muro e ambas estão localizadas no Vila da Prata, entre as ruas Promécio e Rubídio.
No quadro de sócios da L P do Valle aparece o nome de Leonardo Perrone do Valle, enquanto na Confetextil o sócio é Dany Kaiton Pinho dos Santos, que o Radar Amazônico apurou ser um cabeleireiro famoso e requisitado por mulheres da alta sociedade.