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Pesquisa aponta crescimento na venda de livros durante isolamento

Foto: Fernanda Siebra

À medida que o isolamento compulsório se alonga em todo o País, em face da necessidade de contenção dos efeitos da pandemia de Covid-19, cresce também o número de pessoas que dedicam mais tempo à leitura.

É o que atestam os recentes dados da pesquisa Painel de Varejo e Livros no Brasil, realizada pela Nielsen e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). Para se ter uma ideia, o setor fechou o mês de fevereiro com aumento de 6,29% em relação a 2020, o que representa R$ 172 milhões de faturamento.

O número de exemplares vendidos cresceu 18,69% e somou 3,77 milhões de unidades. Por sua vez, com relação ao valor atribuído aos exemplares, o preço médio caiu 10,45%, resultando na quantia de R$ 45,65 por cada título.

O levantamento demonstra ainda que, com o isolamento social, os consumidores passaram a buscar nos livros uma opção de entretenimento viável e plural. O número de ISBNs (International Standard Book Number/ Padrão Internacional de Numeração de Livro), que reflete a quantidade de títulos lançados, aumentou 12,59% no comparativo com o ano passado, indicando, assim, maior variedade por parte das editoras.

Nesse movimento, o Verso conversou com três livreiros de Fortaleza a fim de conferir se os dados refletem a realidade do setor na cidade, dimensionando aspectos que dizem respeito não apenas à pesquisa, mas engendrando outras questões.

Há 32 anos compondo a paisagem livresca da Capital, a Livraria Arte & Ciência é contemplada com os resultados da pesquisa. Proprietário do estabelecimento, Vladimir Guedes afirma que, de fato, houve um crescimento nas vendas, embora apenas por conta da adesão às plataformas de e-commerce.

Além de os consumidores comprarem por meio das redes sociais, o acervo de aproximadamente 80 mil livros da casa – com dois espaços na cidade, um no Centro e outro no Benfica – também está disponível no portal Estante Virtual, ampliando o raio de alcance das obras. “Essa dinâmica de estar no digital certamente ajudou as livrarias que trabalham com essa modalidade, tendo em vista que não são todas”, observa Vladimir.

18,69%
foi o crescimento do número de exemplares vendidos no Brasil, no comparativo entre fevereiro de 2020 e deste ano. O total equivale a 3,77 milhões de unidades

Segundo ele, o carro-chefe da loja sob sua tutela é a venda de livros usados e também a seção de obras raras, outro fator que contribui para que o negócio se mantenha, ainda que diante do nebuloso momento.

“Se tratando de vendas on-line de livros novos, a concorrência é desleal com relação às grandes redes, como a Amazon. Eles têm uma política predatória, colocando as obras a preços muito baixos, elevando os descontos. Ou seja, não dão espaço para que outros estabelecimentos do segmento se sustentem”.

Não sem motivo, nas últimas semanas, fornecedores da Amazon receberam uma carta propondo um novo acordo para descontos sobre o preço de capa de livros, resultado de intensa mobilização entre editoras nacionais.

Para as casas editoriais que vinham praticando descontos inferiores a 55%, a varejista propôs descontos que variam de 55% a 58% mais 5% de “plano de marketing”. Em resposta, um documento foi redigido pelo grupo Juntos pelo Livro, que reúne mais de 120 editoras, alegando que “as condições solicitadas estão muito além das possibilidades”.

 

“Por esse motivo, a venda de livros novos por livrarias de pequeno ou médio porte, como a minha, é bem pouca. Mas, como a gente também trabalha com livros usados, houve realmente esse aumento indicado na pesquisa”, reitera Vladimir, sublinhando ainda que 70% dos livros vendidos pela casa neste momento acontece pela internet.

Compreendendo que o isolamento otimizou a venda de livros, mas não para todas as lojas  – vide as inúmeras livrarias que já fecharam as portas no Brasil – o livreiro, quando encara o panorama geral da Arte & Ciência durante a pandemia, calcula que a queda de faturamento foi de 70%, tendo em vista que 90% do comércio da casa era efetuado de modo presencial.

“Os 30% que nós estamos conseguindo vender, do que precisaríamos vender, é pela internet, cujo movimento aumentou relativamente. Além disso, também fazemos entrega a domicílio, o que otimiza um pouco as coisas”, considera.

Ele também observa que, neste novo lockdown, a situação ficou mais difícil para a livraria, levando em conta o mesmo período no ano passado. “Eu atribuo essa resposta do público à questão da situação econômica do país, do receio que as pessoas estão tendo de gastar o pouco dinheiro que elas talvez tenham reservado com algo que, de qualquer maneira, não é de primeira necessidade, como é o livro. Elas se retraíram, o que é normal e compreensível”.

Desta feita, a fim de driblar os prejuízos, foram feitas readequações com fornecedores e distribuidores, além de prorrogação de alguns pagamentos, quando possível. O número de funcionários também diminuiu.

“No nosso caso, eu tenho praticamente uma convicção de que a gente vai conseguir sobreviver a essa situação. Internamente, já tomamos algumas medidas para garantir nossa permanência. Mas não está sendo fácil. Tem que ter muita tranquilidade e cabeça fria para, dia a dia, ir driblando as dificuldades”, lamenta.Apesar das portas fechadas em mais um período de severas restrições, o grande esforço realizado no ano passado para ampliar o alcance da loja e o engajamento dos clientes deu resultado. A livraria conseguiu manter o faturamento nos dois períodos mencionados.

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