*Lucas dos Santos, da Redação Dia a Dia Notícia
A má gestão da Saúde durante a pandemia de Covid-19 pelo Governo Federal fez muitos políticos levantarem sua voz contra o presidente Jair Bolsonaro. Uma dessas vozes foi do vice-presidente da Câmara Federal, deputado Marcelo Ramos, à época membro do Partido Liberal (PL). A entrada do presidente da República no PL, a convite de Valdemar Costa Neto, fez Marcelo trocar sua antiga legenda pelo Partido Social Democrático (PSD), de Omar Aziz e Gilberto Kassab.
Marcelo acirrou sua oposição a Bolsonaro após a crise do oxigênio no Amazonas. Crítico da atuação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o vice-presidente da Câmara apoiou com afinco os trabalhos da CPI da Covid no Senado Federal, presidida por Omar. Outros fatos que jogaram Marcelo Ramos para a oposição ferrenha foram os sucessivos ataques à Zona Franca de Manaus da parte de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes.
O deputado foi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para conseguir sua desfiliação sem perder o mandato de deputado federal. Após acordo, deixou o PL pouco tempo após a entrada de Bolsonaro e decidiu pelo PSD em fevereiro deste ano. Contudo, sua sistemática oposição ao presidente tem levado o PL a tentar retirá-lo da vice-presidência da Câmara Federal. O partido tem pressionado o presidente da Casa, deputado federal Arthur Lira (PP-AL), a tirar o parlamentar amazonense do posto. Quando foi eleito vice-presidente, Marcelo ainda estava no PL, na mesma chapa que levou Arthur Lira à presidência da Câmara.
O partido, que tenta reeleger Bolsonaro, se baseia no regimento da casa legislativa, o qual afirma que o integrante da Mesa Diretora perderá o cargo se trocar de partido. Entretanto, a própria Câmara flexibilizou essa regra em 2016, o que pouparia Marcelo Ramos. Para garantir que manterá seu cargo, o deputado foi ao TSE, conseguindo uma liminar do ministro Alexandre de Moraes para que se abstenha de acatar qualquer decisão do PL de afastá-lo da Mesa Diretora da Câmara. A legenda ainda pode recorrer da decisão.
Menezes no encalço
O coronel Alfredo Menezes, pré-candidato do PL ao Senado pelo Amazonas e aliadíssimo de Bolsonaro, afirmou em entrevista que cobraria a vaga de Marcelo Ramos. Menezes se baseia na mesma lógica do partido, ou seja, o cargo pertenceria ao PL e não ao deputado.
No último dia 02, o ex-superintendente da Suframa disse que ligaria para Valdemar Costa Neto, presidente do partido, a vaga “seja colocada para uma pessoa do partido para nos representar e dar celeridade as pautas importantes”.
“A vaga não é deste sujeito, deste escorpião. Ele não pertence mais ao partido desde o dia 2 de abril, nada mais justo. Eu acho que se ele tivesse uma postura moral e ética, ele tinha pedido para sair e passar a vaga. O que depender de mim, vou fazer todo o esforço possível para dar a César o que é de César”, afirmou o coronel.
Deputado de Lula
A tentativa do partido de Bolsonaro em tirar Marcelo Ramos de um posto de comando da Câmara pode ter como plano de fundo as eleições de outubro deste ano. Apesar de Gilberto Kassab não confirmar o apoio do PSD a nível nacional ao já pré-canditado Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seus membros amazonenses não escondem o apoio ao ex-presidente. Marcelo, Omar Aziz e Sidney Leite se encontraram com Lula em março, durante uma parada técnica na volta de uma viagem ao México.
Nas últimas pesquisas, Lula manteve sua liderança contra Bolsonaro mesmo após a saída do ex-ministro Sergio Moro (União) da disputa pela presidência da República. O fato de um aliado do maior inimigo de Bolsonaro ocupar um posto alto na Câmara é motivo mais que suficiente para preocupar o chefe do executivo e seus aliados do Centrão.